O que a perda de IPOs da B3 ensina à sua startup?
Não faz muito tempo, mas foi um choque quando a NetShoes partiu para o seu IPO na Bolsa de Nova Iorque. A justificativa e bem válida é que o mercado brasileiro não teria maturidade para entender a jornada de um ativo baseado em e-commerce e em fase de expansão.
Talvez a crítica sempre pesada sobre a B2W teve um fator indireto.
Depois vieram PagSeguro e Stone que seguiram a mesma rota e sob a mesma justificativa. O homem de mídia que mais ganhou dinheiro no mundo em 2018 foi o controlador da Folha através de máquinas de pagamentos amarelas. Acredite.
Até aí ok… Mas teremos tanto o IPO da XP nos próximos dias quanto o Madero já se posicionou dizendo que em 2020 fará sua emissão de ações em Nova Iorque ao invés de São Paulo.
Ainda que 2019 seja um bom ano para a B3, com a duplicação da base de investidores na bolsa e tanto IPOs quanto follow-ons, há um sinal de alerta para a empresa e uma oportunidade muito grande para quem pensa em desenvolver um negócio na área de Fintechs.
Como?
Fazer um IPO no Brasil custa muito caro. Muito mesmo – há quem orce que a soma de assessorias financeira e jurídica mais regulamentações e road shows supere a casa da dezena de reais.
Logo é muito complicado para empresas de médio e até grande porte mas não multi-milionária gastar boa parte do seu caixa ou lucros para que busque capital no mercado ou remunere sócios investidores (se a empresa recebeu investimentos via Venture Capital ou Private Equity).
Os livros não contam, mas quem leu o seminal “Zero a Um”, de Peter Thiel (primeiro investidor do Facebook) atesta: toda empresa vencedora é aquela que desenvolve um monopólio invisível sob sua atuação. Pensem em Facebook para mensagens via Instagram, o próprio e WhatsApp, Amazon e o e-commerce nos EUA. Google e as buscas na net. Apple e seus 66% dos lucros no segmento de smartphones.
Tem alguma outra bolsa de valores no Brasil, fora a B3?
Hoje já existem formas de você captar recursos a varejo sem precisar recorrer a Bolsa. Você possui as plataformas de Equity Crowdfunding que permitem a Startups buscar aportes para a expansão dos seus projetos. Devidamente regulamentado pela CVM, mas estamos falando de projetos em escala inicial, aonde a chance de quebra do ativo é real e grande.
Mas ainda não existem ferramentas e plataformas para que empresas de faturamento na casa dos seus sete ou oito dígitos mensais possam ir a mercado, gerando recursos, reconhecimento e governança para expansão das suas atividades.
Ao mesmo tempo ainda boa parte dos contratos de CRI e CRA realizados no país também são feitos na B3, com altíssimos custos aos emissores. Isso fecha a oportunidade de construtoras, agricultores e outros stakeholders dos segmentos imobiliário e agrícola de obterem recursos aos seus projetos.
Se eu acho que é uma oportunidade montar uma Bolsa de Valores paralela? Olha, é duro um peixe pequeno bater de frente com uma baleia ou tubarão.
Mas… Nada impede que, a partir da ineficiência de um player líder de mercado você desenvolva uma solução que preencha esta lacuna. Pelo contrário: Não fosse o conflito com Golias, ninguém saberia quem foi Davi…
“Ah, mas posso ser engolido pelo meu concorrente grande!”
Grandes empresas como Apple, Amazon, Facebook e Wal-Mart compram startups todas as semanas, não raro para matar “o mal pela raiz” e trazer equipe e solução para agregar valor aos seus negócios.
E este cenário vai acontecer cada vez mais no Brasil, a medida que as corporações com liderança consolidada precisam surfar a disrupção de seus mercados em tempo de perderem as mudanças e sua relevância.
Ou seja: quando for montar o seu negócio, há um excelente prisma em pensar na deficiência de grandes players, bem com quais deles seriam interessantes para te comprar, gerando liquidez para os fundadores (leia-se dinheiro) e solucionando um problema real que aumente sua competitividade.
Ou você acha que a B3 não está de olho no que o segmento de startups está aprontando? É muito mais tranquilo adquirir um projeto de IPO no Middle Market para complementar o BOVESPA Mais do que uma CETIP, convenhamos.