O que aconteceu com o ‘milagre chinês’?
A revista The Economist na semana passada dedicou sua matéria de capa a discutir se a economia da China atingiu o pico. A ideia era mostrar que o crescimento em desaceleração, uma população encolhendo e outros desafios significam que o poder econômico chinês está chegando ao limite.
“O pano de fundo é saber se e quando o tamanho da economia da China pode ultrapassar a dos Estados Unidos em taxas de câmbio do mercado”, resumiu a editora-chefe da revista Zanny Minton Beddoes na newsletter do último dia 11.
De um modo geral, a expectativa é de que essa convergência ocorra por volta do fim desta década.
O milagre chinês
Milagre chinês é a forma usual com que especialistas do mercado financeiro tratam o crescimento econômico da China nos últimos 40 anos. O termo é usado como forma de se referir a algo sem uma explicação aceitável.
Porém, em relatório especial, o economista-chefe da Capital Economics, Neil Shearing indaga: “o que aconteceu com o ‘milagre do crescimento’ da China?”. Para ele, a dúvida em relação ao país é outra.
Segundo o economista, o foco dos mercados em relação à China geralmente são de curto prazo e está relacionado às perspectivas de crescimento. “Mas é na visão de longo prazo da economia chinesa que ocorre uma mudança interessante no debate”, ressalta Shearing.
Voo de galinha?
Shearing explica que é na perspectiva de crescimento de longo prazo da China que residem os principais desafios econômicos e políticos. Isso porque a tendência é de que a taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da China desacelere substancialmente ao longo do tempo.
“A visão convencional era de que a economia chinesa continuaria a crescer rapidamente, ultrapassando os EUA como a maior do mundo bem antes de meados do século. Agora, as expectativas para a China diminuíram significativamente, mas ainda são muito otimistas”, avalia o economista.
Para ele, nos últimos cinco anos as restrições ao crescimento econômico chinês só se tornaram mais pronunciadas. De um lado, o desafio demográfico da China está “bem documentado”.
No entanto, as tensões inerentes ao modelo de crescimento são menos compreendidas, diz. Entre elas, estão a alta taxa de poupança doméstica, o que torna o consumo das famílias uma parcela relativamente pequena do PIB. Ao mesmo tempo, existe uma dependência dos investimentos produtivos como fonte de demanda e a necessidade de exportações elevadas, acirrando guerras comerciais.
“Tudo isso significa que uma nova onda de reformas é necessária para evitar uma desaceleração do crescimento no médio prazo, direcionando uma parcela maior da renda às famílias e, assim, tornando os gastos do consumidor uma fonte de demanda mais importante”, explica. Segundo o economista da Capital Economics, o mercado precisava desempenhar um papel muito maior na determinação da alocação de capital e trabalho dentro do economia.
Assim, uma combinação de tensões no modelo de crescimento econômico da China e uma orientação política mais distante das reformas necessárias tendem a reduzir a expansão do PIB chinês para apenas 2% ao ano até 2030. Ou seja, a China pode até superar a economia dos EUA já nos próximos anos. “Porém, depois, deve perder tração e recuar”, conclui Shearing.