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O que acontece quando o fogo atinge o solo de uma lavoura? ‘Pode levar 3 anos para recuperar’

14 set 2024, 10:00 - atualizado em 13 set 2024, 17:59
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(iStock.com/alexxx1981)

Desde o mês de agosto, o Brasil enfrenta uma série de incêndios e queimadas, em meio a maior seca da história do país. O Governo Federal, através da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse estudar formas de confiscar terras de autores de incêndios florestais criminosos no país.

Nas últimas semanas, o agronegócio vem sofrendo ataques, sendo apontado como culpado pelos incêndios criminosos. Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), o Brasil conta com uma legislação fraca para punir os culpados e dizer que o agro tem algum tipo de interesse nos incêndios é absurdo.

“É uma irresponsabilidade, uma idiotice sem tamanho culpar o setor. Vimos uma usina queimar em Minas Gerais e um frigorífico de frango atingido no Paraná, na Copacol, muito afetadas pelas secas e queimadas. Para nós do agro, é um prejuízo sem tamanho, na cana-de-açúcar o prejuízo já passa de R$ 1 bilhão. Temos de tomar muito cuidado quando falamos do tema e ajudar a resolver”, disse Lupion, durante o Bradesco BBI AgroSummit.

A partir destes questionamentos e debates, o Agro Times resolveu conversar com um pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para entender os efeitos do fogo atinge o solo de uma propriedade.

Os prejuízos do fogo para o produtor rural

Além das perdas produtivas, com a queima de culturas, pastagens, áreas de proteção e da perda de animais, os prejuízos também ocorrem na infraestrutura, com a perda de cercas, bebedouros, benfeitorias, instalações elétricas e hidráulicas, explica Alberto Bernardi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, com experiência em fertilidade do solo e adubação. 

“O incêndio pode levar a um ciclo de empobrecimento do solo por perda de nutrientes e aumentando a suscetibilidade à erosão. A remoção da biomassa após o incêndio remove a cobertura do solo expondo-o às ações do sol, ventos e da chuva. O solo descoberto está sujeito ao aquecimento excessivo pela ação da radiação solar, à ação do vento, que remove a camada superficial (chamada erosão eólica), e ao impacto das gotas de chuva, que promovem a desagregação, compactação, menor infiltração de água e erosão do solo”.

As perdas de nutrientes que estavam estocados na biomassa acontecem durante a queima, quando o nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P) são perdidos por volatilização juntamente com a fumaça e vapores gerados.

Após a queima, restam as cinzas que são ricas em cálcio (Ca), magnésio (Mg) e potássio (K), porém podem ser levadas pelo vento. As altas temperaturas também afetam a biologia do solo, eliminando vários organismos úteis para o ciclo do carbono e dos nutrientes.

“Mesmo o efeito do incêndio restringindo-se às camadas superficiais do solo, pois o calor não se propaga além dos 1 a 5 centímetros, este ciclo de empobrecimento pode fazer que a nova vegetação comece a consumir a matéria orgânica que está no solo, para equilibrar as perdas, então acentua-se o processo de degradação, agora com a perda de matéria orgânica”, comenta. 

Tempo de recuperação e medidas de prevenção

Segundo Bernardi, o tempo de recuperação vai depender da extensão e intensidade do incêndio e do tipo de cultura que estava implantada. Culturas anuais e de pastagem, desde que haja recursos, podem ser replantadas, sendo reestabelecidas em uma safra.

Por outro lado, culturas perenes podem precisar de várias safras para uma recuperação completa, dependendo do estágio que foram queimadas. Apesar disso, o pesquisador ressalta que os danos aos solos podem ser revertidos na parte química com a correção e a adubação, após um diagnóstico com análise da área. O uso de práticas conservacionistas, como estabelecer uma cobertura vegetal, pode reduzir os efeitos da erosão.

“O restabelecimento da matéria orgânica do solo é um processo mais demorado, que pode levar pelo menos três anos. Já que é necessário restabelecer a produção vegetal sobre aquele solo, estimulando o crescimento e enraizamento de plantas, dado que assim será devolvido efetivamente o carbono ao solo”, discorre.

Bernardi estima que o custo de implantação para recuperação do solo gira em torno de R$ 1.500 – R$ 3.000 por hectare para pastagem, e algo como R$ 4.500 – R$ 6.000 para culturas anuais como milho e soja, mas ressalta que isso depende do estado atual do solo, da região e do nível de tecnologia e de insumos que serão utilizados.

Entre as medidas preventivas, o pesquisador reforça questões como evitar o fogo e a construção e a manutenção de aceiros, monitoramento, organização do descarte de lixo e entulhos, gestão e redução de materiais inflamáveis.

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Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
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