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O que a tradicional ceia de Natal em família ensina sobre seus investimentos?

22 dez 2022, 14:46 - atualizado em 22 dez 2022, 14:54
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“Assim como eu poderia ter aproveitado mais tanto outros pratos, acho que todo investidor deveria ter a humildade de aceitar que ele dificilmente acertará todo ano qual será o melhor ativo para o próximo ano e diversificar”, diz Enzo Pacheco (Imagem: Unsplash/ Alsu Vershinina)

É impossível falar de algum tema que não tenha relação com as festas de fim de ano — assim como a canção da Simone, que já está gravada na mente e nos corações de grande parte da população brasileira acima dos 30 anos.

Época de juntar os familiares para aquela bela ceia. Se você tiver uma parte da sua família oriunda de Minas Gerais, como este escriba, provavelmente a família será grande e a mesa estará farta.

Lembro de quando era mais novo e eu tinha aquele famoso “apetite de criança”: mesmo nunca tendo provado algo, já dizia que não gostava e nem me dava a chance de experimentar. Minhas opções acabavam ficando apenas entre o famoso peru de Natal e rabanada de sobremesa.

Com o passar dos anos — e o surgimento de cabelos brancos na cabeça — fui percebendo o quão tolo fui por bastante tempo. Infelizmente, não conseguirei recuperar o tempo perdido para aproveitar o vigor físico da minha avó em sua plenitude, com todas as iguarias que ela fazia.

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Investimentos é como a ceia: que tal provar um pouco de tudo?

E isso muitas vezes me lembra conversas com parentes e amigos que tenho quando o assunto é investimentos. Sempre tem aquela pessoa procurando a diquinha quente da hora, no que ela deveria apostar todas as suas fichas para ganhar muito dinheiro.

Gostaria muito que fosse fácil assim. Entretanto, como muitos de vocês já devem saber, esta é uma tarefa praticamente impossível.

Obviamente você deve conhecer alguém que colocou todas as suas fichas em alguma criptomoeda quando poucos falavam a respeito. E, caso você não tenha sido conhecido a também apostar em determinado ativo, também é praticamente certo que você deve ficar se punindo, pensando o porquê você não botou todo o seu dinheiro naquele momento.

“Como fui burro! Era tão óbvio!”

Infelizmente, após o ocorrido parece que tudo era muito simples e estava na cara que daria certo. Mas esse viés de retrospectiva é apenas um auto-engano.

Afinal de contas, se todo mundo soubesse que era para comprar X, o preço do mesmo aumentaria e tiraria boa parte de sua atratividade.

Isso fica ainda mais claro quando observamos o retorno de diversas classes dos ativos nos últimos dez anos.


Tabela 1. Retorno anual por classe de ativo nos últimos dez anos | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Tabela 2. Definição das classes de ativo | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Pense em um investidor que no começo de 2019 resolveu ajustar a sua carteira e deixou de fora o investimento em commodities por conta dos resultados nos anos anteriores.

Em um primeiro momento, ele pode até ter ficado confortável, dado que a classe de ativo teve um dos piores retornos em 2020. Mas nos dois anos seguintes, caso ele ainda tivesse uma visão negativa do ativo, ele perderia grande parte dos retornos potenciais da carteira, dado que esse ativo foi bem acima da média nesse período.

Assim como um investidor que, diante da performance das ações entre 2019 e 2021, resolveu alocar a maior parte de seus investimentos nessa classe de ativos. Caso ele tenha ultrapassado o percentual que ele considerava aceitável, as perdas devem estar machucando seu portfólio — era melhor ter deixado um pouco em caixa…

Ninguém aqui quer dizer que o investidor tem que ficar inerte diante desse cenário. Na verdade, ele deveria aproveitar o último almoço (ou seria ceia?) grátis no mundo dos investimentos, que nada mais é a diversificação do portfólio.

Assim como eu poderia ter aproveitado mais tanto outros pratos, acho que todo investidor deveria ter a humildade de aceitar que ele dificilmente acertará todo ano qual será o melhor ativo para o próximo ano e diversificar (ainda que ponderando quais classes podem ter um período mais positivo que outras).

Afinal de contas, até o polêmico arroz com passas tem o seu valor.

Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).