O que a Gol e os investidores ganham com a aquisição da pequena MAP, afinal?
Enquanto a Azul (AZUL4) trava uma batalha de gigantes para arrematar as operações brasileiras da Latam, a Gol (GOLL4) surpreendeu o mercado com um alvo bem mais modesto – a MAP, que conta com apenas sete aeronaves ATR de 70 lugares e que foi vendida por R$ 28 milhões, incluindo uma parcela em ações da sua nova dona.
Mas, para os analistas que já se manifestaram, não se iluda com o porte da aquisição. Bem mais importantes que do que ostentar cifras milionárias em manchetes, são os ganhos estratégicos que a MAP propiciará à Gol.
A primeira é fortalecer sua posição no aeroporto de Congonhas, o maior do país em voos domésticos e localizado na cidade de São Paulo.
Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Aline Gil, que assinam o relatório do BTG Pactual sobre o acordo, observam que, ao comprar a MAP, a Gol aumentará em 10% o número de slots (horários reservados de pouso e decolagem) em Congonhas. Isso significa adicionar 26 voos diários partindo do “hub aéreo mais lucrativo e movimentado do Brasil”.
Mais oferta
Thais Cascello, Gabriel Rezende, Luiz Capistrano e Mateus Raffaelli, autores do relatório do Itaú BBA, acrescentam que o negócio ampliará e complementará a malha aérea da Gol, o que trará ainda dois benefícios. O primeiro é aumentar a oferta de assentos em rotas historicamente mal atendidas.
A segunda é permitir tarifas mais adequadas, já que a Gol deve manter sua estratégia de voar com apenas um tipo de aeronave e, portanto, substituirá os ATRs da MAP pelos seus Boeing 737. Isto é possível, segundo o Itaú BBA, porque a aquisição da MAP não impôs nenhuma obrigação à Gol de manter os atuais aparelhos no ar.
A última vantagem mencionada pelos analistas é a facilidade da aquisição, quando comparada com outros movimentos em curso no setor.
“O acordo Azul-Latam depende do desfecho da reestruturação de dívida, como parte do processo do Capítulo 11 [recuperação judicial da Latam nos EUA], enquanto o movimento da Gol é muito mais simples, dependendo apenas da aprovação do Cade e da Anac”, afirma o BTG Pactual.
E as ações?
A questão é que, mesmo que a aquisição, traga vantagens estratégicas para a Gol, isso não significa, necessariamente, que a sua ação seja um bom negócio. Neste ponto, os analistas divergem sobre o que fazer com o papel.
O BTG Pactual reforçou a indicação de compra, com preço-alvo de R$ 31 para os próximos 12 meses. Isso significa uma alta potencial de 14% sobre os R$ 27,20 com que fechou ontem (8). Segundo o banco, a recomendação reflete “a menor exposição ao mercado internacional que seus pares, e o gradual alívio das obrigações, ajudado pela recente incorporação da Smiles”.
Já o Itaú BBA manteve a recomendação de market perform (desempenho esperado em linha com o mercado), com preço-alvo de R$ 24,50. O valor representa uma queda potencial de 10% sobre o fechamento de ontem.
“As perspectivas continuam incertas, o que nos torna cautelosos com a ação”, explica a gestora do Itaú Unibanco. Entre os motivos de preocupação, estão a segunda onda da pandemia de coronavírus, a chegada de novos concorrentes, a estratégia de expansão das empresas já atuantes no setor e eventuais guerras de preços.