Economia

O preço dos cortes de cabelo no mundo: Samuelson, Balassa, Baumol e os economistas brasileiros

04 jun 2017, 23:33 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Haircut

Paulo Gala é doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EESP) e economista da Fator Administração de Recursos

A tabela acima retirada de um relatório do UBS mostra o preços dos cortes de cabelo em U$ mundo afora em 2015. As diferenças são gigantescas conforme podemos perceber comparando os países de cima e de baixo. A pergunta que fica é: se a produtividade de um cabeleireiro é absolutamente a mesma em todos os lugares do mundo, por que custa tão caro cortar cabelo num país rico? 

Assumindo que o grosso do custo do corte de cabelo vai para o cabeleireiro, mesmo que o imóvel seja caro e o lucro bom, não é difícil perceber que toda a diferença dos preços de cortes de cabelo está nas diferenças de salários pagos. Mas como os cabeleireiros dos países ricos ganham tanto mais (10x) do que o cabeleireiros do países pobres se eles fazem exatamente a mesma coisa e tem a mesma produtividade física? Quem explicou isso muito bem foram 3 economistas nos anos 60: Paul Samuelson, Bela Balassa e William Baumol.

Samuelson e Balassa escreveram quase que simultaneamente o que ficou conhecido na literatura como efeito Balassa Samuelson: os ganhos de produtividade de um economia ocorrem principalmente no setor de bens transacionáveis (manufaturas e commodities) e não no setor de bens nao tradables (serviços). Esses aumentos de produtividade no setor de tradables causa aumento de salários que transborda para o setor de não tradables. Como não há aumento de produtividade no setor de não tradables os preços lá sobem mais do que no setor de tradables: o preço dos cortes de cabelo fica mais caro nos países ricos

Baumol fala a mesma coisa só que usa a divisão serviços e bens. Para Baumol aumento de produtividade ocorre principalmente no setor de bens. Os serviços não conseguem aumentar produtividade por definição: músicos, educação, garçons, cabeleireiros. São iguais em todos os lugares. O aumento de produtividade no setor de bens acaba pressionando tbem os salários dos setores de serviços; os preços e salários desse setor sobem, na ausência de aumentos de produtividade. Cortar cabelo em Zurich fica mais caro!

Falta só agora os economistas brasileiros entenderem que os ganhos relevantes de produtividade em qualquer país está no setor manufatureiro, como nos ensinou Samuelson, Balassa e Baumol. Será tão difícil entender que a indústria é mais produtiva que os serviços não sofisticados?

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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