O pedregulho no sapato de Donald Trump
Nesta semana, os Estados Unidos foram às urnas para decidir a nova configuração do Congresso, com a expectativa de uma avassaladora onda republicana na Câmara dos Representantes e a possibilidade de maioria simples no Senado.
O governo de Joe Biden atravessa o momento macroeconômico mais conturbado da última década, à medida que a maior inflação dos últimos 40 anos e o ciclo de alta de juros trazem desafios para o orçamento das famílias.
Adicionalmente, os democratas passaram a eleição encurralados por críticas sobre a atual política migratória e o aumento de violência armada em cidades governadas por democratas como Chicago, Nova York e Los Angeles.
Porém, os republicanos subestimaram os próprios erros políticos neste ciclo eleitoral e deram por certo que a fragilidade dos democratas lhes entregariam a vitória. Não foi exatamente isso que ocorreu: o GOP (good old party, um apelido tradicional do partido republicano) perdeu uma cadeira no senado e ganhou, até o momento, 7 assentos na Câmara.
Com a apuração avançada na maior parte do país, o cenário aponta para uma maioria de não mais do que 27 cadeiras na Casa Baixa do Congresso. Considerando a ‘maldição’ das eleições de meio-termo, em que o partido do presidente costuma desidratar consideravelmente a sua presença no Congresso, o desempenho do partido de oposição neste ciclo eleitoral foi o pior em ao menos três décadas.
Por que a onda vermelha virou uma marola
O partido ficou excessivamente amarrado à pauta de cotumes, em apelo à base religiosa que cresceu em influência nos últimos anos e ganhou ainda mais destaque com a revogação de Roe v. Wade – a decisão judicial que garantia o acesso ao aborto e ao direito à privacidade nos EUA desde 1973.
O problema para os republicanos é que a retórica contrária aos direitos reprodutivos individuais das mulheres é impopular nos Estados Unidos. Segundo o instituto de pesquisa Ipsos, 6 em cada 10 americanos entendem que uma legislação de criminalização do aborto é uma posição ‘extrema’ e ‘fora da realidade’.
Da mesma forma, poucos dividendos políticos foram conquistados pela insistência na narrativa de fraude eleitoral em 2020, quando Trump perdeu para Biden. A aposta contra a lisura das eleições, como forma de captar o apoio do próprio Trump, espantou eleitores independentes e moderados que viram no negacionismo eleitoral um risco à ordem institucional do país.
Mesmo com a derrota do seu partido na Câmara, Joe Biden pode ser considerado mais vitorioso do que o seu adversário, Donald Trump, que viu ao menos 14 dos seus candidatos mais fiéis entregarem um desempenho eleitoral muito aquém do esperado.
Surge Ron DeSantis
Ao fim da terça-feira (8), Trump teve que lidar também com outra ‘má notícia’ para a sua posição como líder do partido republicano. Ron DeSantis, o governador republicano da Flórida, foi reeleito no ‘Sunshine State’ comandando uma vitória acachapante sobre o seu adversário.
Ron DeSantis é uma estrela em ascensão no partido republicano e ganhou reconhecimento nacional pelo posicionamento contrário aos lockdowns defendidos pela Casa Branca e pelo engajamento na guerra cultural travada entre democratas e republicanos.
Mais recentemente retirando a isenção fiscal da Disney no estado como forma de pressionar a empresa pelo seu apoio em pautas identitárias.
O governador tem ganhado créditos também por estar a frente de um estado que cresce acima da média nacional, sendo a Flórida um dos polos da transição demográfica nos EUA.
O sucesso de DeSantis já incomoda Trump e a sua pretensão de uma primária sem desafios sérios para 2024. Na véspera de eleição, o ex-mandatário disse a repórteres que a candidatura do seu oponente não será bom para o partido e que se ele concorrer “dirá coisas desagradáveis” sobre o governador.
Com as atenções agora se voltando as eleições de 2024, é esperado que DeSantis reúna em sua candidatura a ala do GOP descontente com Donald Trump. O ex-mandatário, por sua vez, deve anunciar a sua terceira candidatura à presidência já nesta próxima semana.
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