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O novo normal? Ágora teme queda na demanda de carnes e cervejas por hábitos da quarentena

22 abr 2020, 14:07 - atualizado em 22 abr 2020, 14:07
A demanda por carne bovina e de frango sofreria queda de 4% com os novos hábitos de consumo na China, nos EUA e no Brasil (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker/File Photo)

A Ágora Investimentos demonstrou preocupação com os novos hábitos dos consumidores em quarentena. A corretora levantou a possibilidade de que as mudanças nas preferências da população possam ser estruturais, o que afetaria a demanda por bebidas alcoólicas e carnes.

“É preciso ter no radar que crises anteriores levaram a mudanças permanentes de hábitos, à medida que os consumidores aprendem os benefícios e se adaptam”, afirmaram os analistas Leandro Fontanesi e Ricardo França.

A dupla destacou que as preferências de comida e bebida são diferentes em casa. Assumindo um cenário onde 50% da população deixam de consumir fora, as cervejarias veriam redução de 10% da demanda na América Latina, enquanto a preferência por refrigerantes aumentaria.

Empresas de carne bovina e de frango na China, nos Estados Unidos e no Brasil também seriam severamente impactadas, vendo a procura por peixe e carne de porco aumentar.

Visão ruim para a Ambev

O consumo de bebidas alcoólicas em casa já não era uma prática comum na América latina antes da covid-19. No Brasil, apenas 19% dos consumidores tinham esse hábito contra 58% que preferiam consumir fora.

Com a mudança dos hábitos, estima-se que a demanda total de cerveja possa cair 21% no país, enquanto o segmento de refrigerantes veria seus números subirem 11% (Imagem: Divulgação/Skol/Twitter)

Com a mudança, estima-se que a demanda total de cerveja possa cair 21% no país, enquanto o segmento de refrigerantes veria seus números subirem 11%.

“Em nosso cenário base, reduziríamos nosso Ebitda de 2021 em 14% para a Ambev (ABEV3)”, disse a Ágora.

Outras carnes

A demanda por carne bovina e de frango sofreria queda de 4% com os novos hábitos de consumo na China, nos EUA e no Brasil, principalmente porque o país asiático tem grande preferência por peixe e carne suína.

Segundo a Ágora, 25% das pessoas iriam mudar o consumo para peixe, 60% para carne de porco e 15% para alimentos processados.

“Dado que os mercados de proteínas estão interconectados (Brasil, China e EUA representam em torno de 50% do comércio mundial de proteínas), estamos preocupados com o fato de os preços da carne bovina e do frango sofrerem globalmente com essa queda na demanda”, explicaram Fontanesi e França.

A redução do Ebitda estimado de 2021 dentro desse cenário é de 12% para a BRF (BRFS3), 9% para a JBS (JBSS3) e 8% para a Marfrig (MRFG3).

Recomendações

A Ágora apresentou recomendação de compra para os papéis da BRF e JBS, com preços-alvos de, respectivamente, R$ 22 e R$ 28.

A recomendação para a Marfrig e a Ambev é neutra, com preço-alvo indicado de R$ 10 à primeira e de R$ 12,50 à segunda.

Vale ressaltar que o cenário de cobertura da corretora não leva em consideração a mudança estrutural no consumo doméstico pós-coronavírus.