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O momento nebuloso do açúcar e a retomada do etanol: A primeira metade da safra 2024/2025 e o que vem depois

15 out 2024, 16:42 - atualizado em 15 out 2024, 16:58
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Enquanto o mercado do açúcar convive com um movimento de alta especulativa gradual, etanol segue com a demanda elevada (iStock.com/banjongseal324)

A safra 24/25 de açúcar e etanol chegou na metade e já se aproxima da entressafra (dezembro a abril), com diferentes desafios, como o clima e incêndios que atingiram os canaviais do Centro-Sul.

Segundo Marcelo Bonifácio, analista da StoneXos primeiros seis meses foram bons para o setor, principalmente quanto às expectativas de produtividade.

“Existia uma expectativa de queda maior do que veio, não sendo registrada uma queda expressiva de TCH até junho, apesar de uma queda produtividade menor do que esperada em relação a 23/2024, acima de 85 t/h”, diz.

A produtividade foi positiva até julho, com uma queda para cana-de-açúcar colhida entre agosto e outubro pela seca da entressafra e queimadas

“Do lado animador, temos uma moagem que deve encerrar acima 600 milhões de toneladas (StoneX estima 612 milhões de toneladas), um volume bem elevado no comparativo histórico. Fora isso, temos uma boa produção de etanol, com o biocombustível a partir do milho podendo superar 8 bilhões de litros em 24/25, o que é animador para o etanol, mas desanimador para o açúcar em termos de oferta por conta do mix açucareiro que não vingou e quantidade elevada de impurezas na cana, o que dificultou a maximização do mix”, explica.

Por outro lado, os preços do açúcar se mantiveram bons, principalmente em reais. “Se não tivemos preços em US$ 0,26 – US$ 0,27, a gente teve uma safra, mesmo quando os valores bateram US$ 0,18 – US$ 0,19, os preços segurando um pouco a rentabilidade das usinas, porque o dólar tem subido bastante esse ano”.

O foco agora fica por conta do clima, já que o Centro-Sul precisa de um bom volume de chuvas para o desenvolvimento da próxima safra, por virmos de um déficit hídrico na entressafra passada e na safra atual.

Retomada nos preços do álcool

No mercado de etanol, Bonifácio aponta que há um cenário mais claro, com os preços iniciando a safra 24/25 descontados e atingindo a mínima da safra na virada do ano, no mês de janeiro, algo pouco usual, já que às mínimas costumam ser vistas no pico da safra.

“Na safra passada vimos estoques muito elevados, com uma oferta muito grande, o que trouxe um panorama de preços diferentes para esse ano. Apesar de a gente ter uma safra com um andamento acelerado, moagem adiantada e um mix menos açucareiro, com uma produção de etanol de cana maior que esperada, tivemos preços em alta mesmo durante o pico de safra”, comenta. 

Isso foi visto por conta da demanda elevada, puxada pela paridade que iniciou em 60% no começo do ano e estacionou agora em 65%.

“Há uma demanda elevada sustentando os preços. Na virada para setembro, tivemos um novo panorama, com as distribuidoras segurando mais a demanda, o que resultou em uma desaquecida e as distribuidoras até acreditaram que oferta de etanol poderia ser até maior pelas queimadas, que resultaram em uma maior produção de etanol pelas usinas. O momento atual é de retomada dos preços, no patamar de R$ 3/L – R$ 3,10 L (etanol base Ribeirão Preto com impostos)”.

Com a chegada da entressafra, diminuição do ritmo de moagem e estoques não tão elevados como os do ano passado dão sustentação para os preços do etanol.

Cenário nebuloso para preços do açúcar; mercado externo segue aquecido

Quanto ao açúcar, o analista enxerga o momento atual de preços como nebuloso. “Estamos vendo os preços subindo 2,14% nesta terça (por volta de 16h12), em US$ 0,22, voltando a flertar com US$ 0,23. Há um cenário muito complicado, com muitas casas revisando números pelo impacto das queimadas, o que trouxe um apetite de compra por parte dos fundos, que estavam vendidos por um bom tempo e agora voltaram comprando”.

Há um movimento de alta especulativa gradual no mercado da commodity, com uma sustentação de alta, mas que não necessariamente se traduz em altas no médio prazo.

“O final de safra tende a pressionar os produtos. Olhando para o açúcar, pode haver impactos do fim da safra do Centro-Sul, mas temos visto o início de algumas safras globais na Índia e Tailândia em novembro e dezembro, com bons volumes esperados, compensando a saída do Centro-Sul. Ainda assim, o Centro-Sul segue como foco, por sermos o principal país exportador, o que mexe mais com os preços”.

No mercado externo, a demanda segue aquecida, com alguns países buscando recompor seus estoques, como é o caso da China e outros players asiáticos. Fora isso, a demanda pelo açúcar cresce 2 milhões de toneladas por ano no mundo

“Você tem uma demanda robusta e que deve continuar favorecendo o setor canavieiro, e o Brasil tem se beneficiado muito disso, até porque estamos batendo o recorde de exportação há meses. Entre novembro do ano passado e setembro de 2024, tivemos 11 meses de recordes de exportação”.