Mercados

O mês da frustração: Bolsas caem ao perceber juros mais altos por mais tempo

28 fev 2023, 20:13 - atualizado em 28 fev 2023, 20:13
Bolsas
Hora de tirar a fantasia.

‘Que seja infinito enquanto dure’. O eternizado verso de Vinicius de Moraes contido no ‘Soneto da Fidelidade’ serve bem ao otimismo que contagiou os mercados acionários dos EUA em janeiro.

Por aquele período, investidores acreditaram que a luta contra a inflação estava ganha, os juros diminuiriam e a economia não sofreria mais do que uma recessão em termos técnicos.  Todo esse pensamento desejoso desencadeou um forte rali de compra nas Bolsas, sobretudo, na Nasdaq, que chegou a avançar 10% no mês passado.

Mas a fantasia romântica acabou em fevereiro. Indicadores como o CPI, PPI e PCE, divulgados ao longo do mês, sugerem que inflação voltou a ganhar fôlego, após meses de uma trajetória descendente.

Enquanto isso, o recorde de 517 mil vagas de trabalho criadas, a baixa taxa de desocupação e uma melhora dos índices de gerentes de compra mostram que a economia americana, até aqui, pouco sentiu os efeitos do aperto monetário iniciado pelo Fed há quase um ano.

Face ao complicado cenário retratado pelos indicadores, Jason Vieira, economista e sócio da Infinity Asset, faz uma crítica dura ao idealismo dos mercados, que insiste em acreditar em um cortes de juros ainda que todos os indicadores mostrem o contrário.

“Aumento da inflação, alta no dado de atividade nacional e mercado de trabalho muito aquecido. Quanto mais precisa sinalizar que o Fed não vai parar de subir juros tão cedo?”, diz em sua rede social.

No duelo de Wall Street contra a realidade, perde o investidor. Ao fim desse mês, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq acumulam perdas de 4,30%, 2,60% e 1,10%, respectivamente.

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Rendimentos de títulos soberanos batem a porta dos 4%

Ao longo de fevereiro, a bússola ajustada para juros mais altos e por mais tempo refletiram também em uma elevação dos rendimentos dos títulos soberanos americanos, tradicional ‘termômetro’ da aversão ao risco.

O movimento mais acentuado ocorreu na ponta-longa da curva de juros, com as T-notes de 10 anos apresentando rendimento de 3,925%, 0,40 ponto-percentual (pp.) acima do patamar que iniciou o mês.

A “explosão” dos rendimentos das T-notes de 10 anos manifesta um aumento do prêmio também para as perspectivas de longo-prazo da economia americana, sugerindo a persistência de um cenário macro mais delicado para o país (alta de juros e baixo crescimento).

O rali de venda dos títulos tomado à cabo em fevereiro fez despencar o preço dos ativos, configurando o pior fevereiro, em termos de retorno, para o mercado de bonds das últimas três décadas, de acordo com a Bloomberg.

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Pesadelo em Wall Street, cenário de juros piorou para os EUA

O cenário macroeconômico montado em fevereiro deteriorou a perspectiva para os juros nos EUA.

De acordo com o Fed Funds, mais instituições passaram a prever um aumento maior na reunião de março. Apesar disso,

O pessimismo também contaminou as estimativas para as reuniões de maio e junho da autoridade monetária, deixando no ar a possibilidade de que a taxa terminal supere a projeção do ‘teto’ dos 5,50% ao chegar a 5,75% ao fim do primeiro semestre do ano.

De acordo com uma pesquisa feita por um grupo de economistas renomados, são poucas as chances de que o Fed consiga reduzir a inflação sem infligir um dano severo à economia americana, visto por um aumento acentuado de desemprego.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
jorge.fofano@moneytimes.com.br
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.