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O Mago de Omaha está cauteloso, mas continua recomprando suas ações; entenda os planos de Warren Buffett

11 maio 2023, 19:15 - atualizado em 11 maio 2023, 16:22
Warren Buffett
Com mais de US$ 130 bilhões em caixa, nada impede que Buffett e Munger continuem recomprando as ações da Berkshire nos próximos meses. (Imagem: Reuters/Kevin Lamarque/File Photo)

No final de semana ocorreu o encontro anual dos acionistas da Berkshire Hathaway (B3: BERK34 | NYSE: BRK/B), na qual investidores do mundo todo se deslocaram para Omaha para acompanhar Warren Buffett e Charlie Munger destilarem todo o conhecimento que possuem sobre investimentos e como enxergam o momento para os mercados internacionais.

No começo do ano, sugeri que os investidores apostassem no Mago de Omaha para se proteger de uma potencial desaceleração da economia global — e aqueles que seguiram a ideia acumulam ganhos superiores a 5% (em dólar) desde então.

Gráfico 1. Cotação da Berkshire Hathaway no ano | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Balanço do 1T23

Como de praxe, a empresa aproveitou a oportunidade para divulgar os resultados do primeiro trimestre do ano. Os números apresentados vieram melhores do que as projeções dos analistas. No período, a holding reportou receita de US$ 85,393 bilhões, crescimento de 20,5% em relação ao 1T22.

Importante salientar que, desse montante, mais de US$ 9,5 bilhões foram provenientes da mudança na classificação em uma das investidas do grupo — o Pilot Travel Centers. A empresa opera uma rede de postos de combustível e serviços correlatos nos Estados Unidos e Canadá —, que passou a ser considerado um segmento reportável por conta da aquisição do controle ao final de janeiro.

O restante do aumento nas vendas foi principalmente decorrente das operações de Seguro da Berkshire, com o maior volume de prêmios recebidos (US$ 19,796 bilhões, +13,2% vs. 1T22) e a renda obtida de juros, dividendos e outros nessa parte do negócio (US$3,229 bilhões, +73,4%).

Os outros segmentos de atuação mostraram sinais mistos: a BSNF, que é a parte de transportes ferroviários da holding, reportou receita de US$ 6,019 bilhões, ante US$ 5,968 bilhões a um ano atrás. A parte de Manufatura, que engloba diversas empresas, também mostrou estabilidade nas vendas — US$ 18,289 bilhões vs. US$ 18,421 no 1T22.

Por outro lado, a BHE (que comprime os ativos que atuam no setor de Energia) encerrou o trimestre com vendas de US$ 6,451 bilhões, comparado com US$ 6,020 bilhões no mesmo trimestre de 2022 (+7,1%). O braço de Varejo e Serviços da Berkshire conseguiu entregar um aumento de quase 9% na receita, totalizando US$ 9,931 bilhões no 1T23.

Já os lucros operacionais antes dos impostos foram de US$ 9,540 bilhões no período, valor 17,2% maior do que o reportado um ano atrás. Neste caso, a única parte que mostrou crescimento nessa linha de resultado foi a parte de Seguros (US$ 3,587 bilhões, +27,6% vs. 1T22), com a renda de investimentos aumentando em mais de US$ 1 bilhão na comparação anual (US$ 2,385 bilhões).

Na linha final de resultado, o lucro atribuível aos acionistas foi de US$ 35,504 bilhões, ou US$ 16,25 por ação, ante US$ 5,580 bilhões (US$ 2,52/ação) no 1T22. Só que grande parte dessa diferença foi devido aos ganhos com o portfólio de ações da Berkshire, que gerou uma marcação a mercado de quase US$ 35 bilhões no trimestre, comparado com perdas que se aproximaram dos US$ 2 bilhões no primeiro trimestre de 2022.

Tempestade no futuro de Buffett, o Mago de Omaha

Uma análise mais a fundo, porém, sugere que os próximos meses tendem a serem mais difíceis que os primeiros três meses do ano.

A GEICO, segunda maior seguradora de automóveis dos Estados Unidos, conseguiu aumentar o prêmio de suas apólices em 15,2%. Só que o aumento fez com que a companhia perdesse participação de mercado, com a redução de 2,4 milhões de contratos de seguros em relação ao 1T22 (-13%).

Além disso, uma parte considerável da melhora dos resultados na comparação anual, na qual apresentou um lucro operacional antes dos impostos de US$ 703 milhões. Há um ano, o prejuízo foi de US$ 178 milhões, decorrente dos menores gastos com publicidade (US$ 257 milhões) e com a reversão de perdas estimadas (US$ 338 milhões).

Segundo Ajit Jain, responsável pelas operações de Seguros da Berkshire, a estrutura tecnológica da seguradora precisa de melhorias substanciais para que o negócio consiga reportar números melhores. Segundo o executivo, existem mais de 600 sistemas diferentes que não conversam entre si.

Outro barômetro importante do negócio (e também da economia americana), a BSNF viu o volume de produtos transportados caírem mais de 10% na comparação anual, com retração em todas as suas linhas de atuação — o destaque ficou por conta da queda de mais de 16% no segmento de bens de consumo.

O grupo de empresas manufatureiras, de serviços e varejo também viu um recuo importante nas vendas de produtos de construção (-10,2% vs. 1T22) e para os consumidores finais (-19,3%).

Não à toa, Buffett deixou claro para os investidores que nas diversas conversas com os executivos das suas comandadas, muitos deles estavam surpresos com a mudança do ambiente econômico nos últimos seis meses. E o megainvestidor pontuou que espera que suas companhias entreguem lucros menores neste ano em relação ao reportado em 2022.

Recompra de ações

Ao menos o mago de Omaha continuou retornando capital aos seus acionistas, tendo recomprado US$ 4,4 bilhões no 1T23 (maior do que os US$ 2,6 bilhões no 4T22). E com mais de US$ 130 bilhões em caixa, nada impede que Buffett e Munger continuem recomprando as ações da Berkshire nos próximos meses.

Dado a perspectiva apresentada por Buffett somada a nossa visão não tão positiva para o mercado atualmente, diferentemente do precificado aos preços de tela, encontrar oportunidades verdadeiramente atrativas tem se tornado um desafio para os investidores (e também para a Berkshire).

Ainda que as ações da Berkshire Hathaway (B3: BERK34 | NYSE: BRK/B) estejam levemente acima do nível considerado uma barganha para Buffett (1,2x Preço/Valor Patrimonial, ante 1,4x atualmente), entendo esta ser uma das poucas alternativas no mercado americano, dada a diversificação do negócio para atravessar momentos mais tensos da economia global.


Enzo Pacheco, CFA, é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).

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