Thinking outside the box

O início do governo Milei: O custo de arrumar a Argentina

24 maio 2024, 19:36 - atualizado em 24 maio 2024, 19:37
Javier Milei, Argentina, Internacional, Dólar, Peso
Surpreendentemente, os peronistas mostraram-se dispostos a negociar, facilitados pela abordagem mais pragmática e disposta ao diálogo de Milei (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)

Nos últimos meses, a Argentina tem atraído atenção significativa do mercado financeiro. A eleição de Javier Milei, que inicialmente gerou tensões, resultou na valorização dos ativos argentinos.

Até Stanley Druckenmiller, renomado gestor do fundo de George Soros na década de 1990, investiu no país, influenciado pelo impactante discurso de Milei em Davos. Mas além do desempenho dos ativos financeiros, a economia argentina começa a exibir sinais de mudança.

Um dos desenvolvimentos mais impressionantes foi o primeiro superávit orçamentário em mais de uma década, uma reversão notável após o governo anterior deixar um déficit de 5,5% do PIB.

A nova administração também aumentou as reservas do banco central, reduziu as taxas de juros de referência e diminuiu a oferta monetária.

Desde que assumiu o cargo em dezembro, a equipe econômica conseguiu reduzir consecutivamente a inflação mensal, de 25% em dezembro para menos de 9% em abril. Embora ainda alta, essa redução representa um progresso significativo.

Entretanto, esses avanços tiveram um custo alto para a população.

As rigorosas medidas de austeridade fiscal e monetária resultaram em uma profunda recessão, com a atividade econômica caindo em março, aumento do desemprego e os salários reais atingindo o nível mais baixo desde 2003.

Essas políticas severas, embora necessárias, elevaram a taxa de pobreza para cerca de 60%, comparado a 44% em dezembro.

O governo acredita que esses sacrifícios são temporários e prevê uma recuperação econômica sólida no segundo trimestre, impulsionada pelas exportações agrícolas. Contudo, mantenho um ceticismo em relação a essa previsão.

Após anos de políticas inadequadas, será necessário muito mais tempo para restaurar a confiança e a estabilidade econômica. Ainda é incerto quanto mais os argentinos podem suportar antes de rejeitarem as políticas atuais do presidente.

Apesar de manter uma popularidade considerável, a Argentina enfrenta greves diárias que refletem um profundo descontentamento popular.

A complexidade política por trás dessa agitação é significativa. Inicialmente, duvidei da capacidade de Javier Milei de implementar suas reformas, especialmente devido à pressão de realizar mudanças rápidas sem uma maioria parlamentar. Isso o forçaria a utilizar decretos presidenciais para avançar com suas políticas.

Afinal, Milei, um dos presidentes mais fracos institucionalmente da história recente da Argentina, enfrenta uma forte oposição das facções de esquerda que dominam o Congresso e preferem ver seu governo fracassar.

Surpreendentemente, no entanto, os peronistas mostraram-se dispostos a negociar, facilitados pela abordagem mais pragmática e disposta ao diálogo de Milei, que contrastou com sua postura de campanha e surpreendeu muitos.

Ele formou uma equipe econômica respeitada internacionalmente, liderada pelo renomado ex-banqueiro Luis Caputo, que trabalhou sob a administração do ex-presidente Mauricio Macri.

Esta equipe embarcou em uma rigorosa agenda de ajustes econômicos, incluindo a desvalorização da moeda e um aperto fiscal severo, embora tenham recuado de algumas propostas mais radicais. Entretanto, os ajustes propostos não estão isentos de problemas.

O plano inicial de Caputo, que combinava cortes de despesas e aumentos de impostos, foi barrado pelo Congresso no início do ano, forçando o governo a depender exclusivamente de cortes de despesas impopulares.

Embora seja evidente que o setor público argentino precise de enxugamento, muitos dos cortes em áreas sociais são recessivos e podem não ser sustentáveis a longo prazo.

A viabilidade das medidas de austeridade é questionável. Sem reformas mais abrangentes para estimular a economia, os recentes superávits fiscais podem se mostrar temporários.

Além disso, Milei ainda precisa assegurar mais vitórias legislativas para implementar medidas essenciais para a revitalização econômica, enfrentando uma economia sufocada por altos impostos e regulamentação excessiva.

O descontentamento popular tende a crescer à medida que as políticas de austeridade se intensificam, dificultando ainda mais a capacidade do presidente de aprovar novas legislações e limitando sua flexibilidade política. Infelizmente, a situação pode piorar antes de melhorar.

Apesar desses desafios, as medidas drásticas são vistas como cruciais para a recuperação econômica do país. O caminho para a plena recuperação da Argentina é longo, mas progressos importantes já foram realizados.

É promissor ver que Milei está se mostrando um líder mais ponderado e moderado do que inicialmente esperado. Vamos ver quanto tempo isso dura.

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