O impacto do cenário atual de juros para a renda variável e seus investidores
No início de agosto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) definiu aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, elevando-a para 13,75% ao ano. Esse aumento não surpreendeu o mercado que já previa tal decisão.
A expectativa agora é com relação ao rumo que será dado à política monetária. Será mantido o viés de alta? A taxa será mantida na próxima reunião para depois começar uma sequência de reduções da taxa? Bom, sinceramente, espero que o BC comece a conduzir sua política de contenção da inflação no sentido oposto.
Eu explico a razão para o meu desejo, que certamente não é só meu. Temos de ter em mente que o aumento desenfreado da taxa de juros tem efeito um pouco atrasado.
Quando os Bancos Centrais decidem pela alta o estrago já está mais ou menos feito. O cenário já está desenhado e o que está sendo feito nada mais é do que uma corrida ‘atrás do prejuízo’ por meio do aumento, em pequenas doses, da taxa de juros.
Sendo assim, meses atrás, quando a Selic tinha chegado próximo dos 12%, caberia um pouco mais de paciência, pois os efeitos começariam a ser percebidos somente agora.
Continuar a aumentar a taxa de juros como foi feito, por conta desse efeito retardado, na prática só vai causar uma demora maior na recuperação da economia, quando terminar esse ciclo de alta.
A Selic a 13,75% ao ano tem um efeito não muito bom para a renda variável. Quem opera com day trade tem a percepção de que o dinheiro no mercado financeiro é finito.
Existem alguns trilhões de dólares sobre a mesa. E esse dinheiro busca a maior rentabilidade possível com a maior segurança possível. Infelizmente, segurança e rentabilidade não andam juntas. Quando o investidor tem muito de um é porque ele tem menos do outro e vice-versa.
Então, neste cenário de dinheiro finito, qual o competidor de nosso mercado de renda variável? Ora, é a renda fixa com uma taxa muito alta.
Uma Selic próxima a 14% ao ano é, naturalmente, algo que inviabiliza, tira um pouco aquele afã do mercado de renda variável. Isso porque tudo correndo bem, em condições normais de temperatura e pressão o investidor de renda variável vai buscar 20%, 25% ao ano, no máximo, de retorno caso seja uma carteira muito boa, muito bem montada.
Agora, entre ter “a possibilidade” de 20% na renda variável e 14% só de taxa Selic, convenhamos que a renda fixa se torna um competidor até, de certa forma, injusto com o mercado de renda variável. Há CDBs oferecendo IPCA mais 8,60% ao ano.
Ou seja, é uma taxa de juros muito atrativa considerando o patamar de inflação atual. Faz sentido para investidores experientes aplicar o dinheiro em um produto financeiro assim. Imagina para aquele pequeno investidor, que está começando agora e colocando suas economias em risco?
Ele se sente muito mais atraído a esse cenário de mar calmo, de renda fixa, do que enveredar pelo mercado de renda variável, nessas condições atuais.
Mas não é só isso que merece destaque. Se a taxa básica de juros alta torna a renda fixa um forte competidor na atração desses trilhões de dólares que circulam mundo afora, outros fatores contribuem para aumentar a volatilidade da Bolsa como inflação, guerra na Ucrânia e cenário político eleitoral conturbado por aqui.
E essa volatilidade faz com que sejam criadas situações distintas para investidores de longo prazo e de curtíssimo prazo.
Para quem opera no dia a dia – no day trade principalmente – o cenário não podia ser melhor. Essa volatilidade é realmente muito boa, muito atrativa, pois o trader precisa realmente do mercado balançando para poder tirar resultado de suas operações.
O mesmo não se pode dizer do investidor de longo prazo, que toma posições obviamente compradas em sua carteira esperando que essas ações se valorizem e paguem bons dividendos com o passar do tempo.
Para ter retorno ele precisa de um mercado financeiro puxando para cima, coisa que não está acontecendo. Toda essa turbulência deve demorar alguns meses ainda para passar.
No entanto, temos que considerar que a volatilidade faz parte do cotidiano do mercado de renda variável estejam o país e o mundo em um momento de crise ou de estabilidade.
Por esta razão, o cenário atual não é o mais desejável considerando a economia como um todo.
A estabilização das variáveis citadas – fim da guerra, redução da inflação e das taxas de juros e fim do acirramento político – é o cenário ideal, pois coloca o mercado financeiro em seu devido lugar tornando-o fonte de oportunidades para traders e investidores de longo prazo ao mesmo tempo que afasta a renda fixa da condição de concorrente injusta da renda variável.
Afinal, taxa Selic muito alta pode parecer bom para quem ganha dinheiro sem esforço, mas é péssima para os fundamentos econômicos de um país.
Siga o Money Times no Instagram!
Conecte-se com o mercado e tenha acesso a conteúdos exclusivos sobre as notícias que enriquecem seu dia! Sete dias por semana e nas 24 horas do dia, você terá acesso aos assuntos mais importantes e comentados do momento. E ainda melhor, um conteúdo multimídia com imagens, vídeos e muita interatividade, como: o resumo das principais notícias do dia no Minuto Money Times, o Money Times Responde, em que nossos jornalistas tiram dúvidas sobre investimentos e tendências do mercado, lives e muito mais… Clique aqui e siga agora nosso perfil!