Coluna da Peers Consulting

O Impacto da inflação no varejo

01 set 2022, 12:16 - atualizado em 01 set 2022, 12:19
e-commerce
E-commerce brasileiro cresceu desde a pandemia, mas desafios para as empresas são grandes o que aumenta a importância de estratégias de sobrevivência (Imagem: Freepik/@snowing)

*Por Thales Macedo Miguel

A pandemia trouxe enormes desafios para as empresas do mundo todo e o Brasil não foi uma exceção. Muitas tiveram que reinventar seus produtos e serviços, além de adotarem novas estratégias para manter a operação.

Por sua vez, o consumidor também passou por uma adaptação de comportamento – com a grande maioria das lojas físicas fechadas durante os períodos mais críticos da pandemia, só restou uma alternativa: comprar online.

Segundo pesquisa da Neotrust, empresa responsável por monitorar mais de 85% do e-commerce brasileiro, as vendas online no Brasil registraram recorde de faturamento em 2021. Em janeiro de 2022, esse número ainda apresentou crescimento de 21% em relação ao mesmo mês do ano passado, mostrando que comprar pela internet agora faz parte do DNA do consumidor.

Esse novo comportamento da sociedade contribuiu para a consolidação de grandes empresas do varejo online. Enquanto alguns negócios estavam desenvolvendo sua estratégia para a transformação digital, muitas micro e pequenas empresas nem se quer haviam iniciado esse processo.

Por outro lado, empresas como Amazon, BW2 Digital (Americanas), Via Varejo (que opera marcas como Casas Bahia e Ponto Frio), Magalu e Mercado Livre viram seus faturamentos crescerem em ritmo acelerado. A Magalu, por exemplo, triplicou as vendas do e-commerce em 2021, saindo de R$ 12,4 bilhões em 2019 para R$ 39,8 bilhões em 2021.

Mas não foi só a mudança no comportamento do consumidor que contribuiu para essa pulverização do mercado. Vários setores estão sofrendo com a alta dos custos ao passo em que o poder aquisitivo da população frente a inflação é consumido diariamente, sendo o segmento do varejo um dos mais impactados.

É verdade que o mercado de trabalho está apresentado uma evolução, mas não se nota melhora no rendimento médio do trabalhador. Nesse contexto, fatores como o elevado custo do crédito pela alta de juros e a alta do dólar são alguns dos responsáveis pela diminuição de renda para consumo. Para algumas famílias, o mercado de serviços chega até a competir com o comércio pela renda disponível.

Além disso, a escassez considerável de bens e materiais, em função do ritmo desacelerado de produção industrial durante fases mais duras da pandemia, contribuíram para o crescimento dos índices de inflação. Estudos da Peers mostram que o varejo sofreu com as variações de preço.

Por exemplo, para alguns televisores, nesse intervalo de um ano, o aumento no valor da indústria para o varejo foi em média de 12%, enquanto o varejo não conseguiu repassar para o preço de venda o mesmo aumento, subindo em média apenas 6%, principalmente visando oferecer algo factível ao poder de compra da população.

Nesse cenário, somente as grandes empresas conseguem operar com margens mais baixas devido ao enorme volume de vendas. Para as demais, surge um enorme desafio de tentar fugir de uma guerra de preços e superar a alta competitividade.

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Estratégias

Portanto, é importante que as empresas adotem alguma estratégia, podendo ser para sobreviver, conviver ou se diferenciar no mercado. A estratégia de sobrevivência se apresenta como opção adequada quando a empresa entra em uma situação desfavorável e caótica.

Por isso, deve ser adotada somente quando não há alternativas para reverter o quadro de crise. Nesse sentido, as decisões estratégicas se baseiam em dois pilares fundamentais: 1) reduzir as despesas ao máximo; 2) desinvestimentos.

A primeira decisão estratégica é voltada para a redução do quadro de funcionários, nível de estoque e até custos de promoção. Já os desinvestimentos podem significar excluir do portfólio de produtos aqueles que não são mais interessantes para o mercado ou não geram lucro suficiente para a organização.

Quando a empresa já possui alguns pontos fortes, ela pode estrategicamente optar por fortalecê-los para tentar garantir a convivência no mercado frente aos concorrentes. Assim, adotar uma estratégia de nicho para tentar dominar um segmento de mercado pode ser uma boa opção, focando esforços para expandir alguma linha de serviço ou produto.

Um ponto de atenção ao adotar essa estratégia é cuidar para que a empresa não acabe criando uma grande dependência de poucas formas de provimento. No caso de empresas mais consolidadas, mesmo quando, de modo geral, o cenário não é muito promissor, ainda é possível criar situações favoráveis para o crescimento.

Nesse sentido, o tema inovação é pauta recorrente na definição da estratégia e, quando falamos de inovação no varejo, ela pode estar ligada à utilização inteligente de base de dados para prever a demanda e surpreender positivamente o cliente por antecipar sua necessidade com uma oferta personalizada.

O fato é que, mesmo que o período mais crítico da pandemia já tenha passado, 2022 ainda é rodeado de incertezas. A guerra entre Rússia e Ucrânia, as eleições em outubro, alta dos juros e inflação ainda geram muitas dúvidas a respeito do futuro e colocam em risco as expectativas de crescimento da economia.

Logo, se atentar para que processos, sistemas, ferramentas, estrutura organizacional e modelo de governança estejam bem alinhados à estratégia da empresa torna-se fundamental. Além disso, revisar os planos, sempre que necessário, atentando-se a mudanças e tendências do mercado, pode garantir o futuro de qualquer negócio.

* Thales Macedo Miguel é consultor da Peers. Participou de projetos nas áreas de experiência do cliente, construção civil, varejo e educação pública. Integrante da equipe de Growth Strategy and M&A na Peers. Formado em Engenharia de Manufatura

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