Coluna do Market Makers

O grande risco político sendo ignorado pelo mercado

21 out 2023, 10:00 - atualizado em 20 out 2023, 19:23

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assumiu o cargo no começo deste ano sob muita desconfiança. No mercado financeiro ainda não se sabia se o presidente Lula.

Lula da Silva faria um mandato mais parecido com seus anteriores ou com os de sua companheira e sucessora Dilma Rousseff. As próprias declarações do presidente recém-eleito davam pistas de que a segunda opção — um governo mais heterodoxo, como o de Dilma — era o mais provável.

Mas o tempo foi passando, o discurso e as atitudes mudando, e o país descobriu que tinha um ministro mais ortodoxo que a facção dita ideológica de seu partido. Tanto que ainda em março ganhamos um arcabouço fiscal e deixamos de conviver com ataques ao Banco Central e sua autonomia. Essa mudança de percepção, aliás, é apontada como um dos motivos para a alta da Bolsa que muita gente surfou ainda no primeiro semestre de 2023.

Isso quer dizer que os problemas do ministro da Fazenda acabaram, e que agora é só ele esperar os juros caírem e as receitas do governo aumentarem com a Reforma Tributária para ver os déficits das contas públicas zerados já no ano que vem? É claro que não.

No episódio de ontem do Market Makers, conversamos com o Luiz Parreirasgestor da Verde Asset, a casa fundada por Luis Stuhlberger, um dos gestores mais respeitados do Brasil. Parreiras é um dos que conseguiu surfar a alta do Ibovespa de 2023, justamente por não ter tomado nenhum lado no Fla-Flu político que se tornou o Brasil no início do ano.

E perguntamos para ele justamente isso: os problemas do ministro Fernando Haddad já acabaram? A resposta foi a seguinte: “O maior problema que o Haddad vai enfrentar não é agora, nem 2024, mas sim quando a eleição de 2026 estiver no horizonte, pois a discussão de metas e altas de imposto já está bem colocada. O problema é quando, no segundo semestre de 2025, a pressão do governo for para reeleição do Lula ou do próprio Haddad”, diz Parreiras.

“A pressão vai ser forte de todos os lados e o equilíbrio de subir impostos para entregar resultado melhor, negociando com o Congresso, vai ser muito difícil. O Fla-Flu vai voltar com força total, a eleição vai ser bem volátil e Haddad vai ter um problema muito grande, seja ele Ministro da Fazenda do presidente ou candidato à Presidência da República”, completa.

No episódio passado do Market Makers, aliás, a economista Zeina Latif também já tinha apontado para o peso que o fato de Haddad ser presidenciável teria na política econômica do governo.

Para Zeina, um Haddad candidato ao Planalto pode significar também um Haddad que precisa cuidar bem de sua credibilidade e ficar atento a manobras fiscais.

Pode parecer cedo para falar de 2026, afinal, o primeiro ano do atual governo ainda nem terminou. Mas o mercado financeiro vive à base de projeções, e, nesse contexto, pensar em três anos para frente não pode nem ser considerado longo prazo.

Fato é que, em um país como o Brasil, quem investe não pode ficar alheio ao que acontece em Brasília. Se esse é o seu caso, esteja atento.