Thinking outside the box

O governo ainda precisa acertar a rota urgentemente

18 jan 2025, 10:21 - atualizado em 20 jan 2025, 9:43
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(Imagem: Getty Images Signature/Canva)

Espero que todos tenham aproveitado as celebrações de fim de ano, pois 2025 já se apresenta como um ano repleto de desafios e incertezas que exigirão resiliência e adaptação. O início do ano é marcado por uma grande expectativa em torno do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, cuja posse está agendada para o dia 20 de janeiro.

No campo cambial, o fortalecimento do dólar continua sendo um fator de preocupação, agravando a já delicada situação do real. Em 2024, a moeda brasileira teve um desempenho alarmante, registrando uma desvalorização de quase 30%, o pior resultado desde 2021.

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Embora parte desse movimento reflita a robustez do dólar diante da vitória de Trump, o cenário desolador do real é igualmente consequência de problemas domésticos persistentes, sobretudo os relacionados à crise fiscal.

Nem mesmo as intervenções massivas do Banco Central conseguiram conter a escalada do dólar. A autoridade monetária realizou uma queima recorde de reservas internacionais, que encolheram 8,46% apenas em dezembro, configurando a maior retração mensal já registrada. Em números absolutos, as reservas caíram de US$ 363 bilhões para US$ 332 bilhões, atingindo o menor patamar desde fevereiro de 2023.

O pessimismo em relação ao Brasil permanece evidente. O Ibovespa (IBOV) encerrou 2024 com uma queda de mais de 10%, marcando seu pior desempenho desde 2021, quando recuou 11,93%.

Esse desempenho reflete um cenário de extrema cautela, caracterizado pela ausência de compradores locais e pela retirada consistente de capital estrangeiro.

Ao longo do ano, investidores estrangeiros retiraram R$ 32,1 bilhões da bolsa brasileira, representando o maior fluxo de saída desde 2020, no auge da pandemia de Covid-19, quando o saldo foi negativo em R$ 40,1 bilhões.

O panorama para 2025 continua a centralizar as atenções em Brasília, onde cresce a urgência por medidas concretas e eficazes que possam reverter a trajetória econômica e restaurar a confiança do mercado. A mensagem é clara: algo precisa ser feito — e rápido.

Embora o cenário pareça sombrio, os preços dos ativos brasileiros já incorporam uma perspectiva extremamente negativa em relação ao país. Essa realidade pode sinalizar uma possível estabilização temporária no curto prazo. Nas palavras de Felipe Miranda: “Estão todos pessimistas para 2025 no Brasil. E essa é a primeira coisa que me anima.”

O pessimismo, por mais justificado que seja, também abre espaço para oportunidades. Afinal, os momentos de maior desalento costumam carregar o germe da recuperação, especialmente quando as expectativas já precificaram o pior.

Com a Selic acima de 15% e a inflação próxima de 6%, o consumo e os investimentos estão fortemente comprimidos, criando um ambiente propício para uma recessão técnica no segundo semestre de 2025. O mercado financeiro, como de costume, já antecipou essa deterioração. Quando as expectativas apontam para piora, os investidores se movimentam antes que os efeitos concretos se manifestem.

Parte da recente pressão de venda pode ser atribuída aos resgates em fundos durante o final de novembro e início de dezembro, um período marcado pela recepção amplamente negativa ao pacote fiscal do governo — descrito como fraco e medíocre.

Sem uma sinalização clara de ajuste nas contas públicas, a espiral negativa pode continuar, com a taxas de juros ainda mais elevadas, ultrapassando os já desafiadores 15%. Essa dinâmica ressalta a importância de decisões firmes e urgentes por parte do governo para conter o avanço da deterioração econômica.

Para uma análise mais detalhada das minhas perspectivas para 2025, recomendo que você confira o podcast que gravei com os Market Makers ao lado de José Faria Jr., no final do ano passado. Lá, exploramos em profundidade os desafios e possíveis caminhos para o Brasil. Para assistir, clique aqui.

Neste cenário, recomendo que você mantenha uma posição robusta em caixa, priorizando instrumentos de renda fixa pós-fixados, como o Tesouro Selic, CDBs de grandes bancos com liquidez imediata ou Fundos DI isentos de taxas. Essas opções oferecem segurança e liquidez em um ambiente de incertezas.

Além disso, é essencial manter uma exposição significativa a moedas fortes, especialmente o dólar, que deve compor cerca de 30% da carteira, com um mínimo de 15%. Considere também incluir um hedge em ouro para proteger o portfólio contra volatilidades extremas e destinar uma pequena parcela, como 1%, para criptomoedas, aproveitando seu potencial de diversificação.

Paralelamente, amplie seu horizonte temporal até o final de 2026, mantendo posições estratégicas em ativos de risco brasileiros. Contudo, é crucial evitar posições altamente alavancadas, turnarounds frágeis ou operações estressadas, que carregam elevado risco de insustentabilidade no curto prazo. O foco deve ser em nomes robusta e com boa capacidade de adaptação.

O otimismo moderado para 2025 está fundamentado em uma premissa clara: este ano é uma ponte para 2026. Em algum momento, os investidores começarão a ajustar suas expectativas, percebendo que estamos nos aproximando de um possível ponto de inflexão no ciclo eleitoral brasileiro.

Essa antecipação, por si só, pode desencadear movimentos transformadores nos mercados. Não se trata de um fenômeno isolado. Em 2024, vimos um padrão consistente de alternância de poder em vários países, impulsionado por uma insatisfação crescente com governos incumbentes.

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Um exemplo marcante é o Canadá, onde Justin Trudeau renunciou após mais de nove anos como primeiro-ministro. Sua saída abre caminho para o retorno dos Conservadores, liderados por Pierre Poilievre, que já sinalizam reformas ambiciosas. Há rumores de que as eleições, originalmente previstas para o final de 2025, possam ser antecipadas. Se confirmada, essa transição reforça a tendência global de deslocamento político em direção a líderes pró-mercado e alinhados com reformas estruturais.

Esse padrão de mudança política não é exclusivo do Canadá. Chile, Alemanha e Austrália também apresentam sinais de transição para lideranças mais orientadas ao mercado. Na América Latina, todos os olhos estão voltados para as eleições de meio de mandato na Argentina, que servirão como um termômetro das reformas conduzidas pelo presidente Javier Milei.

Esse movimento de realinhamento político global pode ser um indicativo do que está por vir no Brasil em 2026. A rejeição a governos incumbentes, frequentemente intensificada por crises econômicas, tende a abrir caminho para transformações políticas e econômicas significativas.

Portanto, adotar uma perspectiva de longo prazo em 2025 é uma estratégia prudente e necessária. Mesmo que o ano não entregue resultados imediatos, ele poderá servir como base para um ciclo de recuperação econômica e crescimento sustentável no futuro.

Enquanto isso, manteremos uma postura conservadora, com posições sólidas em caixa, exposição ao dólar e proteções estratégicas. Essa abordagem deve ser conduzida com o devido dimensionamento das alocações, respeitando o seu perfil de risco e garantindo uma diversificação eficiente da carteira.

Economista e especialista em investimentos da Empiricus
Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia pela PUC. Pós-graduado no Programa Avançado em Finanças do Insper, trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimentos da América Latina, além de ter feito parte de uma boutique voltada para fusões e aquisições, na área de modelagem financeira e pesquisa. Hoje faz parte no time de analistas da Empiricus, participando de séries como Palavra do Estrategista e Double Income, além do programa Empiricus Private junto do Felipe Miranda, estrategista-chefe e um dos fundadores da casa. É analista CNPI e especialista em investimentos CEA.
matheus.spiess@moneytimes.com.br
Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia pela PUC. Pós-graduado no Programa Avançado em Finanças do Insper, trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimentos da América Latina, além de ter feito parte de uma boutique voltada para fusões e aquisições, na área de modelagem financeira e pesquisa. Hoje faz parte no time de analistas da Empiricus, participando de séries como Palavra do Estrategista e Double Income, além do programa Empiricus Private junto do Felipe Miranda, estrategista-chefe e um dos fundadores da casa. É analista CNPI e especialista em investimentos CEA.