A nova corrida do ouro já começou: e aí, vai assistir ou correr junto?
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Quer apostar contra o ouro? Boa sorte…
Há anos, batemos na mesma tecla aqui na Empiricus: ter ouro na carteira não é paranoia, é pragmatismo.
Eu mesmo já destaquei isso inúmeras vezes nesta coluna ao longo dos últimos cinco anos.
E não foi só teoria: recomendei a compra do metal quando ele girava em torno de US$ 1.700 por onça, em um cenário que já deixava claro o aumento na demanda por ativos de proteção.
Desde então, o ouro acumulou uma valorização superior a 70% em dólares.
Surpreso? Só quem estava distraído.
Agora, o metal precioso parece estar entrando em um novo e decisivo capítulo, impulsionado por — adivinhe — mais turbulência geopolítica. As incertezas em torno das políticas tarifárias do governo Trump reacenderam a busca por refúgios financeiros.
E o ouro, como sempre, respondeu: ultrapassou a marca de US$ 2.900 por onça, consolidando seu papel de protagonista em tempos de incerteza.
Não é a primeira vez que isso acontece. Certamente não será a última. Enquanto alguns ainda discutem se vale a pena entrar na corrida, o mercado já está precificando a realidade. Como sempre, quem chega atrasado paga mais caro.
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As forças que impulsionaram a escalada do ouro nos últimos anos não surgiram por acaso. Elas são o resultado direto de mudanças estruturais na economia global, que sacudiram a confiança no sistema financeiro tradicional.
Entre os fatores mais impactantes, destaca-se o confisco das reservas cambiais russas e da riqueza de oligarcas russos pelo Ocidente, uma medida que reconfigurou a arquitetura financeira global e deixou bem claro para o resto do mundo: se você desagradar as potências ocidentais, seu dinheiro pode sumir.
O resultado?
Uma corrida por ativos fora do alcance das sanções, com o ouro na linha de frente.
Além disso, os resquícios das políticas monetárias e fiscais excessivamente expansionistas adotadas durante a pandemia continuam reverberando nos mercados, corroendo o poder de compra das moedas fiduciárias.
A guerra comercial entre Estados Unidos e China, por sua vez, evoluiu para algo ainda mais complexo: uma disputa tecnológica e geopolítica entre duas superpotências, transformando cada transação comercial em um campo de batalha estratégico.
Nesse contexto, o ouro volta a fazer o que sempre fez melhor: proteger patrimônio em tempos de incerteza.
Há milênios, o metal precioso preserva seu status de porto seguro, não apenas como hedge contra crises, mas também como escudo contra a desvalorização das moedas.
E não são apenas os investidores individuais que estão enxergando isso. Bancos centrais ao redor do mundo, liderados pelo Banco Central da China (PBoC), têm aumentado suas reservas como uma forma de blindagem contra riscos financeiros e geopolíticos.
A valorização do ouro deve continuar?
Sim, e os motivos para isso estão cada vez mais evidentes. Um dos principais catalisadores continua sendo o uso crescente do dólar como arma política pelos EUA.
Quanto mais Washington transforma sua moeda em um instrumento de pressão, mais países correm para o ouro, buscando uma reserva de valor fora do alcance das sanções americanas.
As tensões entre EUA e China também pesam na balança: o agravamento do conflito levou investidores chineses a intensificarem suas compras de ouro.
Não é exagero, portanto, projetar que o metal ultrapasse a marca de US$ 3.000 por onça até 2026.
Estudos reforçam o que a prática já deixou claro: manter ouro na carteira melhora a relação risco-retorno em horizontes mais longos.
E se as taxas de juros globais começarem a pesar excessivamente sobre a economia — algo cada vez mais provável —, o ouro, como reserva de valor mais tradicional da história, poderá oferecer suporte aos investidores. ETFs como IAU e GOLD11 continuam sendo veículos eficientes para essa exposição, proporcionando liquidez e praticidade.
Sim, essa alocação pode ser volátil, mas reservar entre 2,5% e 5% da carteira para ouro oferece um colchão defensivo em meio às turbulências.
É claro que, como em qualquer investimento, a cautela é essencial. As posições devem ser dimensionadas de acordo com o perfil de risco de cada investidor, e a diversificação continua sendo a melhor defesa contra surpresas desagradáveis.
Mas, diante do cenário atual, apostar contra o ouro parece mais um ato de teimosia do que de sabedoria.