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O futuro é Agro? O que esperar do agronegócio na próxima década

29 dez 2024, 12:00 - atualizado em 04 dez 2024, 12:29
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No Brasil, o Governo e seus agentes exercem papel fundamental no desenvolvimento e sustentabilidade do agronegócio. (Imagem: REUTERS/Viacheslav Musiienko/File Photo)

Quais são as perspectivas para o desenvolvimento do agronegócio nos próximos 10 anos? A tendência prevalente é de crescimento moderado de volumes, impulsionado pelo aumento populacional e pela elevação do consumo alimentar global.

Com a maior abertura comercial entre nações, os preços globais de commodities devem ter redução marginal, aproximando-se da estabilidade. Por sua vez, o Brasil deve fortalecer seu protagonismo no setor com avanços em produtividade e expansão de exportações acima da média mundial.

O que dizem os números

De acordo com o IMARC Group, o mercado global do agronegócio, avaliado em cerca de US$ 3,4 trilhões em 2024, deve alcançar US$ 4,4 trilhões em 2033, crescendo a uma taxa anual de 2,8%. Embora impulsionado por países emergentes, a desaceleração da demanda na China – com sua contribuição ao crescimento caindo de 28% na última década para 12% na próxima – deve reduzir o impacto desse mercado. Fatores como estabilização do crescimento populacional e padrões nutricionais mais lentos influenciam esse cenário.

Um estudo conjunto da OCDE (Organization for Economic Cooperation and Development) e da FAO (Food and Agriculture Organization) projeta uma população global de 8,7 bilhões em 2033 (+0,8% a.a.) e um crescimento econômico mundial de 3,0% a.a. No mesmo período, o consumo alimentar deverá crescer 1,2% a.a., enquanto a produção agrícola avançará 1,1% a.a., e a pecuária 1,3% a.a., com 80% desse incremento proveniente de produtividade e não de expansão de área plantada. Vale ressaltar que as terras agrícolas já correspondem a cerca de 38% da superfície global.

Apesar dos esforços em direção à Fome Zero em 2030 (um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU), o crescimento do consumo alimentar em países de baixo poder aquisitivo deve se situar apenas em torno de 4% a.a., limitado pela elevação de renda necessária para uma mudança mais substancial nos padrões nutricionais. Ainda assim, cerca de 94% do consumo incremental deve ocorrer em países de renda média e baixa.

No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) estima que a produção de grãos alcance cerca de 379 milhões de toneladas na safra 2033/2034, um aumento de 27% em relação à safra 2023/2024 (crescimento anual de 2,2%). A área plantada de grãos deverá crescer 15,5% no período (1,5% a.a.), chegando a 92,2 milhões de hectares em 10 anos.

Nesse período, destacam-se os crescimentos de produção dos principais grãos: soja (+35,3%, alcançando 193 milhões de toneladas na safra 2033/2034) e milho (+32,3%, chegando a 153 milhões de toneladas). Tais crescimentos irão permitir a elevação dos patamares de exportação de ambos os grãos, que deve atingir 131 milhões de toneladas em soja (crescimento de 41,5%, correspondendo a 65,6% do volume produzido) e 58 milhões de toneladas em milho (aumento de 61,9%, 38,1% da produção).

No segmento de carnes, projeta-se um crescimento de 22,2% na próxima década, totalizando 37,6 milhões de toneladas em 2033/2034, sendo que a bovina tem a previsão de crescimento de 10,2% (equivalente a 11,3 milhões de toneladas no final do horizonte projetado), enquanto a suína deve alcançar 27,5% (6,8 milhões de toneladas) e a de frango 28,4% (19,5 milhões de toneladas).

Como incentivar o agronegócio

Para viabilizar este crescimento, serão necessários investimentos infraestrutura, ampliando a capacidade de armazenagem (ao final do 1º semestre de 2024, a capacidade instalada no Brasil era de 222,3 milhões de toneladas), assim como a estrutura logística (em 2024, a previsão de investimento é de R$ 4,7 bilhões em rodovias e ferrovias que compõem corredores do agro). Tais investimentos são necessários para redução de perdas (estimadas em 1,2% da produção de grãos, somente no transporte) e de custos logísticos (como referência, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais estima que o custo logístico para transportar grãos do Centro-Oeste do Brasil até a China seja cerca de US$ 60/ton superior ao da carga embarcada em Illinois nos EUA para o mesmo destino).

  • Espectadores do Giro podem ter acesso a relatórios do BTG e outros parceiros do Money Times; entenda

Em pesquisa e desenvolvimento, a EMBRAPA desempenha um papel fundamental para introduzir tecnologia e elevar a produtividade no setor. Com um orçamento anual de R$ 4 bilhões, a empresa tem entre seus desafios para 2025: incrementar em 20% o benefício econômico gerado por práticas agropecuárias e tecnologias sustentáveis redutoras de custos, ampliar em 100% o número de usuários de plataformas digitais de dados espaço-temporais integrados para o território brasileiro e ampliar em 11 milhões de hectares as áreas de sistemas de integração, recuperação de pastagens e florestas plantadas, através de suas soluções.

Enfim, no Brasil, o Governo e seus agentes exercem papel fundamental no desenvolvimento e sustentabilidade do agronegócio. Na próxima década, investimentos públicos crescentes serão necessários para viabilizar ganhos de produtividade no campo e o escoamento da produção, elevando o valor econômico e social gerado pelo setor e o protagonismo do país no cenário global.

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Edson Kawabata é sócio-diretor de novos negócios da Peers Consulting & Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão, com foco em M&A, estratégias de crescimento, experiência do cliente e eficiência operacional. Nos últimos 12 anos, ocupou posições executivas em diferentes setores, como Diretor de Estratégia e Desenvolvimento no Grupo Pão de Açúcar, Diretor Sênior na Kantar, Diretor Geral no Machado Meyer e Chief Transformation Officer no Pátria Investimentos. É formado em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo ITA, pós-graduado em Direito Societário pela FGV, mestre em Empreendedorismo pela FEA-USP e MBA pela Cornell University.
edson.kawabata@moneytimes.com.br
Edson Kawabata é sócio-diretor de novos negócios da Peers Consulting & Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão, com foco em M&A, estratégias de crescimento, experiência do cliente e eficiência operacional. Nos últimos 12 anos, ocupou posições executivas em diferentes setores, como Diretor de Estratégia e Desenvolvimento no Grupo Pão de Açúcar, Diretor Sênior na Kantar, Diretor Geral no Machado Meyer e Chief Transformation Officer no Pátria Investimentos. É formado em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo ITA, pós-graduado em Direito Societário pela FGV, mestre em Empreendedorismo pela FEA-USP e MBA pela Cornell University.
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