O ‘faz tudo’: Plano de Musk para ‘X’ tem inspiração chinesa
Nos últimos dias, os usuários do Twitter se despediram oficialmente da identidade visual e de termos que marcaram a rede social ao longo dos 17 anos. Sai o passarinho, entra o X; sai o azul, entra o preto e branco listrados; saem “tweet” ou “retweet” e entram “post” e “repost”.
Mas a conversão do Twitter no X vai muito além de um rebrading da aparência e das funcionalidades.
Elon Musk quer transformar o X em um ‘canivete suíço’, uma espécie de super app que seja ao mesmo tempo uma rede social, ambiente de compartilhamento de arquivos e uma plataforma de transações financeiras.
A visão do bilionário para o X não surgiu do vácuo, mas sim da China. Mais especificamente, do WeChat, o aplicativo elaborado pela big tech chinesa Tencent (TCEHY), que possui uma estrutura muito parecida com a que Musk deseja implantar para o X.
Em 10 anos, a Tencent conseguiu fazer do WeChat o principal aplicativo de mensagens da China; o We WeChat Pay, que reúne os serviços de pagamento, é o segundo maior do país; o competidor direto é o Alipay, elaborado pelo Ant Group, spin-off do Alibaba (BABA).
O sucesso do WeChat no Oriente chamou a atenção de Musk para o aplicativo. Ano passado, o bilionário o classificou como “ótimo”. Em uma fala a funcionários do antigo Twitter, o CEO da Tesla disse não haver um paralelo do aplicativo no Ocidente.
“Você basicamente mora dentro do WeChat (…) é muito útil para a sua vida cotidiana. E eu acho que se conseguirmos alcançar isso, ou próximo disso com o Twitter, seria um imenso sucesso”, comentou.
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Caminho para X virar WeChat envolve desafio a Wall Street
O desejo de tornar o X um super app com serviços financeiros não virá sem desafios. Outras big techs americanas, como o Google, a Meta e a Amazon já tentaram lançar produtos semelhantes, mas nunca com sucesso.
Cercos regulatórios e custos internos são alguns dos motivos que impediram previamente o lançamento de plataformas digitais de pagamento, como a defendida por Elon Musk.
Nesse sentido, cabe destacar uma resistência forte — e praticamente incontornável — do setor bancário americano em compartilhar o seu poder de mercado com empresas de outros setores.
“Não estou dizendo que ele não consegue”, disse Pranav Sood, gerente-geral executivo da plataforma de pagamentos internacional Airwallex. Mas para alcançar um desfecho positivo, o bilionário precisaria entender se tratar de um projeto de longa duração e que requer muito investimento.
A disponibilidade financeira do X para se aventurar em um projeto dessa envergadura permanece uma incógnita. Ainda no mês passado, o próprio Musk informou que a companhia está passando por turbulências na parte de captação, com a receita com anúncios tendo caído cerca de 50% na comparação anual.
“100% de chance de ser processado”
Um outro problema que desponta no curto-prazo para o X é a possibilidade de uma “enxurrada” de processos.
Isso, porque, segundo o advogado de marcas registradas Josh Gerben, existem quase 900 registros de marcas nos Estados Unidos com a letra “X”, em vários setores da economia. “Há 100% de chance de que o Twitter/X seja processado por alguém”, havia dito o jurista à Reuters na semana passada.
Uma das empresas que possui o registro comercial sobre a letra “X” é a Meta Platforms (META), a big tech comandada por seu arquirrival Mark Zuckerberg.
Não muito tempo atrás, Meta e X entraram e rota de colisão por conta do lançamento do Threads, o microblogue “menos raivoso”, com representantes da empresa de Musk ameaçando um processo contra a Meta por suposto roubo de propriedade intelectual.
Outra grande empresa que detém direitos comerciais sobre a letra “X” é a Microsoft.
Segundo especialistas em patentes, a grande quantidade de registros do símbolo dá pouca margem para um uso livre da marca.
Caso Musk queira, por exemplo, usar o “X” em formas já especificadas por outros registros, ele teria que pedir a anulação das patentes existentes, fato que pode se tornar em uma grande batalha judicial entre grandes empresas.