O fator de risco no mercado da carne; ‘É a China mais uma vez querendo renegociar’

A decisão da China de suspender as importações de 3 plantas frigoríficas do Brasil, sendo uma delas da JBS (JBSS3), é mais uma tentativa do país asiático em renegociar seus preços, para o analista de proteína animal do Rabobank, Wagner Yanaguizawa.
O embargo acontece em meio a importações recordes no ano passado que levaram a um excesso de oferta e a grandes perdas nas fazendas.
Segundo ele, quando são analisados os históricos de bloqueios anteriores, eles tendem a acontecer quando o mercado doméstico da China está mais fragilizado e os preços estão em tendência de alta. Um desafio para o Brasil como exportador, já que o nível de previsibilidade do bloqueio é baixo.
“Esse é um movimento que já aconteceu no ano passado. Eles alegaram, em uma fiscalização de rotina, que alguns itens não estão em conforme com o acordo. É uma medida para renegociar preços. Apesar disso, não vemos essa expansão ocorrendo por muito tempo, já que estamos projetando uma queda na oferta global e não teria onde buscar essa carne se o Brasil saísse do mercado por muito tempo, pensando que os EUA estão com uma menor oferta e voltados para o mercado interno”, explica.
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Yanaguizawa avalia que dado o momento de escassez de oferta global, vindo dos principais exportadores de carne no mundo como EUA e Austrália, não faria muito sentido prolongar essa suspensão, já que ela resultaria, em termos de fundamentos, custos maiores de importação, sendo um desafio a mais para liquidez no mercado interno chinês.
Em janeiro, o país asiático pagou algo em torno de US$ 4.923 pela tonelada da carne exportada pelo Brasil, enquanto em fevereiro esse valor ficou em US$ 4.827.
“Eles querem baixar esse preço ainda mais. Teve alguns players que falaram que conseguiram chegar no patamar de US$ 5.000, um pouco mais que isso, mas na média está caindo. Eu entendo que é por conta dos frigoríficos menores principalmente, que querem acessar esse mercado e acabam pressionando mais os o preços. Esse cenário de suspensão e essa expectativa de mercado futuro faz com que os importadores chineses se aproveitem disso para pressionar preços”.
A habilitação de frigoríficos para China
Yanaguizawa comenta que a última suspensão, que ocorreu no ano passado, durou cerca de 2 meses, sendo esse um bom indicativo de duração para o embargo atual
“Recentemente, a China ampliou sua habilitação de frigoríficos do Brasil que poderiam exportar para o país, com a maior parte de frigoríficos de pequeno e médio porte. Esses players querem acessar o mercado chinês e eles não vão pensar duas vezes antes de reduzir um pouco sua margem para ter mais preço mais atrativo e se inserir nesse mercado. Esse é um ponto de atenção”.
Apesar disso, o analista do Rabobank aponta que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) já sinalizou que pelo menos 44 plantas já aguardam aprovação dos chineses.
“Estamos com uma expectativa de aumento de habilitações em vez de queda. E quando a gente compara Brasil e EUA, é impressionante a diferença, eles tem 654 plantas de carne bovina habilitadas, enquanto temos 64”.
Em 2024, a China importou um recorde de 2,87 milhões de toneladas métricas de carne bovina, segundo dados da alfândega. No fim do ano passado, o Ministério do Comércio da China lançou uma investigação sobre o aumento das importações de carne bovina após enfrentar um mercado com excesso de oferta, que levou os preços domésticos da carne bovina aos menores patamares em vários anos.