Economia

O dilema da Argentina e seus US$ 323 bilhões em dívidas

19 abr 2020, 10:13 - atualizado em 17 abr 2020, 15:22
Peso-Argentina-Dólar
A Argentina já havia adiado o pagamento de sua dívida em pesos e congelado pagamentos de empréstimos em dólares (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)

A Argentina está lutando para evitar um conturbado default enquanto tenta controlar a recessão, a teimosia da inflação e investidores cada vez mais cautelosos, que têm empurrado os títulos do país à beira do colapso desde o ano passado.

O país, que tinha uma dívida total de 323 bilhões de dólares no final de 2019, esboçou um plano de reestruturação para suas dívidas externas na quinta-feira, incluindo um grande corte nos cupons e uma moratória de três anos nos pagamentos.

A Argentina já havia adiado o pagamento de sua dívida em pesos, congelado pagamentos de empréstimos em dólares sob lei local até o final do ano e buscado alívio de grandes credores como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Clube de Paris.

O país enfrenta agora uma corrida nas próximas semanas para convencer seus credores internacionais a aceitar seu acordo, o que implica um alívio de mais de 40 bilhões de dólares, principalmente na forma de pagamentos de juros. Caso contrário, outro default poderia estar entre as opções.

Qual é a nova oferta?

A proposta tem como alvo 66,2 bilhões de dólares em títulos sob leis estrangeiras, cujos pagamentos seriam suspensos por três anos, um corte de 62% no cupom, equivalente a uma redução de 37,9 bilhões de dólares, e uma redução de 5,4% no principal que soma cerca de 3,6 bilhões de dólares.

Os detentores de títulos terão cerca de 20 dias para tomar uma decisão sobre a oferta antes do fechamento do negócio.

Casa Rosada Buenos Aires Argentina
A Argentina tem um total de 323 bilhões de dólares em dívidas, de acordo com uma apresentação feita pelo Ministério da Economia em março (Imagem: Pixabay)

Em nota, a Capital Economics classificou a oferta como uma “proposta agressiva” que ajudaria a colocar a dívida de volta a um caminho sustentável.

“No entanto, existe um risco significativo de que as negociações entre os detentores de títulos e os formuladores de políticas paralisem enquanto os custos domésticos do coronavírus continuam a subir. Isso pode levar a um default desordenado antes do final de maio”, afirmou.

O que mais a Argentina deve?

A Argentina tem um total de 323 bilhões de dólares em dívidas, de acordo com uma apresentação feita pelo Ministério da Economia em março. Desse montante, 130 bilhões de dólares, ou cerca de 40%, são dívidas com o setor público, incluindo o banco central do país.

Pouco mais de um quarto, ou cerca de 83 bilhões de dólares, é de dívida em moeda estrangeira com o setor privado, 23% são com organizações internacionais como o FMI. O restante é em dívida em peso com o setor privado e outras dívidas do setor privado.

A Argentina deve ao grupo de credores do Clube de Paris 2,1 bilhões de dólares com vencimento em maio. O país pediu ao grupo informal de credores uma prorrogação de um ano para o pagamento.

Banco Central da Argentina
O governo suspendeu os pagamentos de títulos em dólares sob lei local por decreto de emergência até 31 de dezembro (Imagem: Reuters/Ricardo Moraes)

O país sul-americano também está negociando com o FMI um acordo para substituir um importante acordo de financiamento de 57 bilhões de dólares firmado em 2018. A Argentina já recebeu cerca de 44 bilhões de dólares sob esse acordo.

Que pagamentos vão vencer?

A Argentina vem tentando “limpar” seus próximos vencimentos.

O governo suspendeu os pagamentos de títulos em dólares sob lei local por decreto de emergência até 31 de dezembro e rolou a dívida em pesos por meio de trocas de dívida, unilateralmente adiando os vencimentos.

O país tem um pagamento considerável de juros de cerca de 500 milhões de dólares em títulos emitidos sob leis estrangeiras com vencimento em 22 de abril, que é o próximo grande teste. Se não efetuar o pagamento, terá um período de carência de 30 dias antes de entrar tecnicamente em default, se nenhum acordo for fechado.

Segundo uma apresentação do Ministério da Economia, os pagamentos devidos sobre os títulos que estão sendo reestruturados na presente proposta são de 4,5 bilhões de dólares este ano e de 8,4 bilhões de dólares em 2021.

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