O dilema da Ambev: perder da inflação ou perder consumidores?
A Ambev (ABEV3) está diante de uma escolha em que nenhuma opção é totalmente positiva. De um lado, pode optar por manter o ritmo de reajuste de preços compatível com a inflação (ou até maior) para preservar receitas e lucros. De outro, frear os reajustes, a fim de recuperar sua participação de mercado.
A avaliação é do Credit Suisse, em relatório assinado pelos analistas Antonio Gonzalez, Marcella Recchia e Sanjeet Aujla. O trio, aliás, aposta numa guinada da cervejaria, deixando a lucratividade de lado por um momento, em busca do aumento do volume de vendas.
Conhecida pelo rigor com que controla custos, a Ambev tem precedentes nessa direção em, pelo menos, um outro país – o México. Segundo o Credit Suisse, a companhia escolheu reajustar seus preços abaixo da inflação, por ali, em dois períodos: de 2004 a 2008, e de 2016 a 2019.
O resultado foi um incremento médio anual do consumo per capita de 3,6% e de 6,3%, respectivamente, em cada intervalo.
Para os analistas, o exemplo mexicano é inspirador, mas o Brasil apresenta uma diferença. A curva de preços não se correlaciona tão bem com a de aumento do consumo. Na verdade, elas chegam a andar na contramão.
Passado
Isso aconteceu, por exemplo, entre 2004 e 2014, quando os preços das cervejas subiram mais que a inflação. Ao contrário do que se poderia supor, o consumo per capita cresceu nesse período. Já entre 2018 e 2019, quando a “inflação da cerveja” foi menor que a geral, o consumo se estabilizou.
No cenário traçado pelo Credit Suisse, reajustar o preço das bebidas abaixo da inflação até 2023 elevaria o consumo per capita aos níveis pré-crise. Isso significaria chegar a 68,5 litros por brasileiro, ante os atuais 58,8 litros.
Com um aumento anual de 2,5% no preço, a Ambev alcançaria, em três anos, um volume de vendas de 94 milhões de hectolitros, ante a atual estimativa de 88,4 milhões do Credit Suisse.
“No melhor cenário, em que o consumo de cerveja no Brasil siga o sucesso mexicano, o volume de cervejas da Ambev no Brasil, vendas e ebitda seria 12,5%, 10,8% e 7,3% maiores que a nossa previsão, respectivamente”, afirma o banco.
Só a Ambev é capaz de dizer o que prefere. Mas, se depender da torcida do Credit Suisse, não faria mal segurar os preços por uns anos.