O dia depois do Fed: os ganhadores e perdedores do mercado
A decisão do Fed foi um verdadeiro wake-up call, diriam os gringos, para uma realidade que os mercados preferiam não encarar: os juros devem continuar mais altos por um longo tempo.
O BC norte-americano, como colegiado, e seu presidente, Jerome Powell, transmitiram uma mensagem clara: os juros reais avançarão para terrenos mais restritivos a fim de garantir o retorno da inflação à meta de 2%.
E esse é um processo que poderá perdurar até 2026, dizem as projeções do conselho de política monetária do Fed, o Fomc.
A grande dor de cabeça do Fed para domar a inflação é a resiliência da economia americana, diante do aperto mais agressivo do século. Um fenômeno que tem deixado os economistas desnorteados.
O dado de auxílio-desemprego semanal, divulgado hoje, é o último e poderoso lembrete que a desaceleração acontece, até o momento, a passos de lesma.
Segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, houve uma queda de 20.000 solicitações nos últimos 7 dias, totalizando 200.000. É o menor patamar dos últimos 8 meses, um dos menores dos últimos 50 anos, segundo análise do Bespoke Investiment Group, e assinala um mercado de trabalho para lá de aquecido.
Diante desse contexto, os índices de Nova York fecharam o pregão com perdas. Os três principais índices de ações dos Estados Unidos caíram mais de 1% e os rendimentos de referência dos Treasuries atingiram o maior nível em 10 anos.
Mas, ao mesmo tempo que a mensagem do Fed e a resiliência da economia impõem derrotadas, ela também assinala alguns vencedores. Confira abaixo.
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Perdedores: ações de tecnologia
Ações do setor de tecnologia encabeçam as perdas no pregão dia. Empresas listadas na Nasdaq tendem a ser mais sensíveis à variação positiva dos juros, uma vez que se aumentam os descontos sobre os lucros futuros prometidos por um segmento calcado em inovação.
Nesse contexto, apostar em ações caras, como as big techs, torna-se um negócio menos atrativo para os investidores.
Vencedores: investidores da renda fixa em dólar
Investidores de renda fixa são vencedores óbvios do cenário de juros mais restritivo. O comunicado do Federal Reserve dá um novo fôlego para que as principais taxas de títulos do mercado continuem buscando máximas.
Após o pregão do dia, títulos de 10 anos da dívida americana passam a render 4,47%. Já as T-bonds de 2 anos tem rendimentos próximos superiores a 5%.
Sabendo que o comportamento das Treasuries executa um efeito cascata em outros títulos, a Avenue argumenta que os brasileiros podem lucrar até 7% ao ano, além da valorização do dólar no período. Afinal, os treasuries e corporate bonds com grau de investimento estão deixando bastante dinheiro na mesa.
Para quem precisa remunerar o dinheiro no curto prazo, os treasuries com vencimento de 3 a 12 meses pagam juros acima de 5% ao ano e mais a variação do dólar sobre o real brasileiro. As renomadas T-Bills são títulos de renda fixa conhecidos como os mais seguros do mundo.
“Esses títulos do Tesouro americano são predominantemente títulos prefixados, o que significa que seus rendimentos são fixos e independentes de indexadores”, destaca José Maria Silva, da Avenue.
Contudo, são os corporates bonds (muito semelhantes às debêntures no Brasil) que entregam mais retorno. Os títulos de dívida privada estrangeira, com grau de investimento, oferecem taxas entre 5% e 7% ao ano.
Vencedores: ações de varejo
Segundo o Goldman Sachs, as ações do varejo americano devem pegar carona no momento de resiliência da economia americana — ao menos até enquanto ela durar.
De acordo com a Associação Nacional de Varejo dos EUA, os americanos deverão gastar até US$ 4 bilhões em roupas para o Halloween, em uma sinalização de que o consumo doméstico ainda vai muito bem, apesar da elevação do preço da gasolina e da retomada dos pagamentos estudantis.
O banco de investimento nota que empresas como Home Depot (HD) e Ross Stores (ROST) e Gap (GPS) bateram o consenso do mercado durante o segundo trimestre do ano, com a melhora do gerenciamento dos estoques e elevação de margens.
Agora, elas podem continuar se beneficiando através do boom de consumo. O Goldman Sachs, por fim, pontua que ações do setor de consumo varejista estão sendo negociadas a múltiplos descontados.
Perdedor: dívida federal americana
Juros mais altos por um tempo se torna uma péssima notícia para a saúde fiscal dos Estados Unidos. Atualmente, o governo americano paga um juro mensal de 2.92% sobre a sua monstruosa dívida, que ronda a marca dos US$ 33 trilhões.
Isso significa um fardo de US$ 963 milhões, apenas relacionado ao custo do capital. A perspectiva mais restritiva poderá piorar as condições de aprovação de novos tetos para a dívida.