Coluna do Fernando Luiz

O crédito privado e as falácias do mercado

20 jun 2023, 12:31 - atualizado em 20 jun 2023, 12:31
Juros
“Os casos recentes de falência de grandes empresas estão aí para comprovar, vide a perda que provocaram em fundos de renda fixa”, explica colunista (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

Não há risco em investir em crédito privado desde que a empresa seja de grande porte e conte com um rating elevado.

A frase, repetida comumente entre os investidores e agentes do mercado que fazem recomendações de investimentos, é uma grande falácia. Todo investimento em crédito tem risco e isso vale para qualquer companhia.

Os casos recentes de falência de grandes empresas estão aí para comprovar, vide a perda que provocaram em fundos de renda fixa que estavam expostos a estes títulos.

Dados da Serasa Experian demonstram o quanto o risco do crédito privado corporativo aumentou no início deste ano quando comparado com 2022. Segundo a entidade, o número de empresas brasileiras que pediram recuperação judicial cresceu 39% nos quatro primeiros meses para 382 companhias, contra 275 no ano passado.

Quando o processo de RJ é aceito pela Justiça, as empresas conseguem um prazo de dois anos para pagar as dívidas antigas com os credores, caso tudo dê certo. Isso significa que, no melhor cenário, o dinheiro que o fundo, ou melhor, que o investidor emprestou, será pago somente daqui a dois anos, no cenário mais otimista.

Não à toa, o que estamos vendo é uma saída deste tipo de investimento, o que provoca a captação líquida negativa na indústria de fundos como um todo. Até porque o investidor que aplica neste ativo busca não se surpreender com cota negativa ou elevada volatilidade.

Seu perfil é mais conservador e, por este motivo, ele corre do mercado acionário, sem saber que o risco de aplicar em renda variável acaba sendo menor do que em crédito corporativo.

Há ainda um agravante: tais fundos não foram feitos para dar elevada rentabilidade aos cotistas, ou seja, há uma drástica assimetria entre o risco incorrido e o retorno obtido.

Dito isso, no momento, nos deparamos com um investidor machucado e que, em grande parte, não fazia ideia de que poderia perder dinheiro em uma aplicação a qual, na sua percepção era totalmente livre de risco. Este mesmo investidor acaba sacando seus recursos ao se deparar com as cotas negativas e sai no pior momento, migrando para a pior opção: a poupança.

É preciso ponderar que, para determinados perfis de pessoas, as mais conservadoras, é preciso ofertar o produto certo, que não dê sobressaltos, conte com baixa volatilidade e dê um retorno em linha com o CDI.

Acima da rentabilidade, este investidor quer a segurança de que não incorrerá em perda e esta postura aliada à falta de conhecimento é que faz a poupança somar um volume de depósitos de quase um trilhão de reais.

Para atender a esta parte da população que quer guardar seu dinheiro sem risco, com liquidez, mas sem renunciar à rentabilidade, é que surgiram os chamados fundos de caixa ou, simplesmente, fundos caixa. São multimercados de baixo risco, que não contam com exposição ao crédito privado corporativo, exibem baixa volatilidade e liquidez em dois dias.

Poucos conhecem a opção dos fundos caixa. Tais investimentos, entretanto, começam a ganhar adeptos e seu patrimônio tem crescido mês a mês.

Disponíveis para aplicações a partir de R$ 100,00, têm como finalidade ser uma opção segura e previsível de investimento com retorno melhor do que as alternativas de mercado atuais, que travam o resgate dos cotistas por um prazo, ou, quando possuem liquidez, não entregam o mesmo retorno.

É uma alternativa interessante para colocar parte do patrimônio como a reserva de emergência, quantia que muitos deixam na poupança.

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