O Copom, a ata e o VAR: investidores aguardam indicações dos caminhos dos juros no Brasil em meio aos balanços do 1T24 e PPI nos EUA
Mesmo que você acompanhe futebol apenas lateralmente, é improvável que nunca tenha ouvido falar no principal avanço tecnológico dos últimos anos na modalidade: o VAR, ou árbitro de vídeo.
Caso você ainda não saiba do que estou falando, eis um breve resumo: uma equipe de árbitros fica enfurnada em uma salinha cheia de telas e equipamentos eletrônicos com a missão de impedir que o juiz lá no campo cometa erros absurdos em lances capitais de uma partida.
A tecnologia funciona razoavelmente bem na maior parte do mundo. No Brasil, entretanto, o VAR parece ter piorado o que já ia mal. Não é raro ver gente brigando com a imagem.
Se você nunca percebeu ninguém reclamando que “esse VAR só é chamado contra o meu time ou a favor do adversário”, certamente já atingiu um grau existencial mais elevado.
Hoje, porém, vai ser preciso descer ao mundo dos mortais porque o VAR vai dar as caras no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
Na semana passada, o Copom decidiu cortar a taxa Selic em 25 pontos-base, para 10,50% ao ano. Junto da decisão, os diretores emitiram um comunicado duro, enfatizando o compromisso do colegiado com o combate à inflação.
Acontece que a votação foi apertada. Uma parte dos diretores do Copom defendia um alívio mais acentuado nos juros, de 50 pontos-base.
Com a votação empatada em 4 a 4, coube ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, desempatar a decisão no último lance.
Apesar do tom duro do comunicado, os investidores ficaram ressabiados com a votação dividida. Isso porque os quatro votos por uma taxa de juros mais baixa vieram dos diretores indicados nos últimos meses pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como o mandato de Campos Neto termina no fim do ano e dois diretores mais antigos serão substituídos mais adiante, os analistas agora temem por um Copom não tão duro contra a inflação em um futuro próximo.
Além disso, o comunicado que acompanhou a decisão aparentemente não comunicou tão bem quanto pretendia o Copom.
Diante disso, a ata da reunião sai na manhã de hoje e deve servir como uma espécie de VAR. Os participantes do mercado a analisarão por diversos ângulos antes de refletirem sua decisão nas telas dos terminais.
O dia ainda reserva o índice de preços ao produtor norte-americano (PPI) e aparições públicas de dirigentes do Fed, entre eles o presidente Jerome Powell.
O que você precisa saber hoje
BALANÇO
Petrobras (PETR4) entrega lucro menor no 1T24 e R$ 13,45 bilhões em dividendos. A redução dos proventos se deve ao resultado mais fraco entre janeiro e março deste ano e também ao novo cálculo, que entrou em vigor em julho do ano passado. Veja os números.
ENTREVISTA EXCLUSIVA
Acabou a queima: ClearSale (CLSA3) gera caixa positivo pela 1ª vez desde o IPO — veja os números do balanço do 1T24 e as apostas do CEO para 2024. Em entrevista ao Seu Dinheiro, o CEO Eduardo Mônaco anunciou dois compromissos para garantir o crescimento sustentável da ClearSale e comenta rumores de venda.
CASAMENTO EM PAUSA
Menos pressão para a Vale (VALE3)? BHP aumenta oferta para megafusão com a Anglo American — mas a proposta ainda não convenceu. A oferta de aquisição subiu de US$ 39 bilhões para US$ 42,6 bilhões, um aumento de 15% na relação de troca da fusão.
COMPANHIA DE ÁGUAS
Sabesp (SBSP3) inclui Itaú BBA na lista de bancos para coordenar oferta de ações mesmo com privatização questionada pela oposição. A expectativa é de que a oferta aconteça entre maio e setembro deste ano, de acordo com o cronograma estabelecido pelo Conselho da estatal.
INSIGHTS ASSIMÉTRICOS
Vai piorar antes de melhorar? Milei começa a arrumar uma Argentina economicamente destruída. O colunista Matheus Spiess avalia que, em poucos meses, Milei conseguiu diminuir a inflação, cortar os juros e aumentar as reservas do Banco Central da Argentina, mas adverte que o custo social é alto.
Uma boa terça-feira para você!