Bitcoin (BTC)

O Bitcoin não é Moeda de verdade: cuidado!

27 jul 2017, 15:57 - atualizado em 05 nov 2017, 13:59

Bitcoins

Paulo Gala é doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EESP) e economista da Fator Administração de Recursos

Na Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda, Keynes desenvolve a ideia de preferência pela liquidez. Procura demonstrar os motivos para se demandar moeda e liquidez em determinadas situações econômicas. Aqui entra seu conceito de incerteza. Na presença de uma ignorância muito forte em relação ao futuro, um ativo ultra líquido (moeda) é capaz de oferecer proteção aos portfólios dos investidores.

Ou como diz Keynes: ‘our desire to hold money as a store of wealth is a barometer of the degree of our distrust of our calculations and conventions concerning the future … The possession of actual money lulls our disquietude; and the premium which we require to make us part with money is the measure of the degree of our disquietude’.

Nesse sentido a moeda entra na economia de modo não neutro pois se constitui num dos principais ativos do jogo capitalista. A quebra da estabilidade da velocidade V  na equação quantitativa da moeda faz com que os efeitos da moeda em preços, produto e inflação passem a ser muito mais imprevisíveis.

Numa situação de desespero, de incerteza em relação ao futuro, os agentes econômicos trocam ativos menos líquidos por ativos mais líquidos, sendo a moeda o caso extremo. Na crise, a demanda por liquidez explode pois surge uma suspeita generalizada em relação ao valor dos ativos de risco. Se as autoridades monetárias não respondem imprimindo moeda, as taxas de juros (que são o preço da liquidez) explodem.

Mas afinal de contas o que é a moeda? Num sistema fiduciário ou “de confiança”, ou seja sem lastro, o que dá valor à moeda é uma lei nacional que obriga a liquidação de contratos e transações numa determinada “moeda doméstica”. Ou seja, o sistema contratual e institucional é que dá valor à moeda. Claro que a inflação corrói o valor da moeda nesse sentido.

E há também uma hierarquia internacional em termos de quais moedas valem mais e quais valem menos. Os mercados “trocam moedas” todos os dias; também conhecido como mercado de câmbio. E o bitcoin, o que é? Uma moeda gerada por algoritmos, uma criptomoeda. Não há nenhum governo que obrigue as pessoas a liquidar contratos em bitcoins, logo, o valor do bitcoin como moeda e reserva de valor é zero.

Não há uma economia, um sistema produtivo, um sistema contratual e um exército por trás do bitcoin. Nesse sentido um bitcoin é uma anti-moeda. Claro que o bitcoin pode ser objeto de especulação como foram as tulipas no século XVII. Se muitas pessoas compram bitcoin, seu valor aumenta. Se muitas pessoas vendem, seu valor cai, para uma dada “oferta algorítmica exógena”.

Dá atá para fazer transações pagando em bitcoin, mas a garantia disso é nula, como bem mostram alguns casos recentes. Eu é que não coloco um centavo nesse bitcoin! Quem tratou muito bem dessa discussão sobre o que é moeda foi o economista americano Paul Davidson, vale a pena ler o livro dele abaixo:

Paul

 

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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