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O Binance Smart Chain (BSC) pode destronar o blockchain Ethereum?

25 mar 2021, 10:17 - atualizado em 25 mar 2021, 10:17
Em sua essência, o Binance Smart Chain (BSC) é uma cópia bem mais rápida e barata da Ethereum — e está integrando milhões de usuários a um ritmo impressionante. Então o que é BSC e o que irá impedi-lo de substituir a Ethereum? (Imagem: Crypto Times)

O Binance Smart Chain (BSC) foi lançado pela corretora Binance em setembro de 2020. Era completamente programável em seu lançamento e chegou com suporte completo para contratos autônomos.

Foi precedido do Binance Chain, um blockchain criado usando o modelo de consenso da Tendermint com finalidade instantânea, mas apenas forneceria suporte para uma aplicação: a corretora descentralizada (DEX) da Binance.

Seis meses após seu lançamento, o Binance Smart Chain (BSC) está no auge de sua popularidade no setor cripto. A ideia de uma versão barata, rápida e quase idêntica da experiência de finanças descentralizadas (DeFi) da Ethereum deixou tanto desenvolvedores como usuários empolgados.

Protocolos da Ethereum estão começando a apresentar versões alternativas de suas aplicações descentralizadas (dapps) no BSC.

SushiSwap, 1inch, Fantom, Polygon e SakeSwap criaram seus protocolos equivalentes na BSC — citando as altas taxas de gás como um fator motivacional.

O número de usuários disparou de 35 endereços únicos, no fim de seu primeiro dia de operação, para mais de 60 milhões de usuários, em 21 de março. Transações por dia na rede passaram de 122, no primeiro dia, para 2,53 milhões, em 21 de março.

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Gráfico de endereços únicos no Binance Smart Chain (Imagem: BSCscan)

O que é o Binance Smart Chain?

O Binance Smart Chain foi criado para fornecer contratos autônomos e desafiar a dominância da Ethereum no crescente setor DeFi.

BSC é uma bifurcação do cliente Geth da Ethereum. Isso significa que BSC é uma alternativa facilmente acessível para desenvolvedores e usuários da Ethereum — um fato fundamental de seu rápido crescimento.

Dito isso, o Binance Smart Chain não é uma réplica exata do blockchain Ethereum. Por exemplo, o BSC usa uma alternativa ao modelo de consenso proof-of-work (PoW) da Ethereum chamado de modelo de proof-of-stake-authority (PoSA).

Esse modelo PoSA otimiza a rede para menores taxas e alto processamento, mas sacrifica a descentralização e a resistência à censura.

Gás é a taxa ou valor de precificação necessário por conduzir uma transação ou executar contratos em plataformas blockchain, como a Ethereum.

O limite de gás se refere à quantia máxima de gás que um usuário está disposto a gastar em uma transação específica. O BSC permite maiores limites de gás que permitem que mais transações sejam incluídas em cada bloco de transações.

Enquanto a Ethereum tem problemas com altas taxas de gás, usuários da BSC pagam poucos centavos para movimentar fundos.

O modelo PoSA permite que o BSC altere, de forma arbitrária, intervalos entre blocos e limites de gás na rede sem se preocupar com altas na congestão ou nas taxas.

O intervalo entre blocos no BSC é de três segundos, em comparação aos 13 segundos no blockchain Ethereum. Isso significa que o BSC possui uma taxa de processamento e intervalos entre transações mais rápidos, mas possui bem mais requisitos para o armazenamento de dados.

O Binance Smart Chain não é DeFi

Então protocolos de tomada e concessão de empréstimos ou plataformas de corretoras desenvolvidos no BSC podem ser considerados DeFi? Changpeng Zhao, CEO da Binance, acredita que não — ele considera a natureza semicentralizada do BSC e o descreve como “CeDeFi” ou DeFi centralizadas.

CeDeFi sugere uma forma de finanças descentralizadas, mas com rodinhas de apoio.

CeDeFi permite que usuários participem de diferentes protocolos paralelos, no estilo DeFi, como empréstimos, agregadores de liquidez e “yield farming”, mas sem as altas taxas de gás e os longos tempos de espera da Ethereum.

CeDeFi perde a verdadeira descentralização, pois os nós que gerenciam a rede são permissionados. Além disso, existe uma autoridade central: Binance, que gerencia a direção e as operações do blockchain.

Ferramentas e interfaces familiares

Já que o BSC é uma bifurcação da Ethereum, utiliza ferramentas populares, como MetaMask, que qualquer usuário da Ethereum que já utilizou no passado irá reconhecer.

Além disso, o padrão BEP-20 de contratos autônomos para a emissão de novos tokens no BSC é parecido ao padrão ERC-20, originalmente desenvolvido na Ethereum. BSC também pode executar os mesmos contratos autônomos que a Ethereum.

Protocolos populares da Ethereum estão migrando para o BSC.

Isso ajudou no rápido impulsionamento da rede ao bifurcar populares protocolos DeFi da Ethereum. Por exemplo, Uniswap se tornou PancakeSwap, Compound se tornou Venus e Zapper se tornou Yield Watch.

O site BSCscan é basicamente um reflexo do Etherscan.

O monitoramento do blockchain também é familiar, conforme BSCscan, um site onde usuários podem verificar suas transações, monitorar carteiras e observar análises macro da rede, é quase uma réplica exata do Etherscan, um site que realiza as mesmas funções para a Ethereum.

O consenso semicentralizado do Binance Smart Chain

Transações no modelo PoSA são verificadas por um conjunto de nós chamados “validadores”. A qualquer momento, existem apenas 21 validadores ativos na rede, elegíveis para certificar as transações. Tornam-se parte de um grupo de validadores com base na quantia de binance coins (BNBs) que possuem.

Os 21 validadores principais, com as maiores posses em BNB, tornam-se ativados e se revezam na validação de transações. Isso se contrasta à Ethereum, que possui 6.654 nós ativos no blockchain Ethereum, segundo a Etherscan.

Validadores do Binance Smart Chain são atualizados diariamente.

Esse conjunto de 21 é determinado diariamente e registrado separadamente no Binance Chain. Detentores de BNB também têm a opção de delegar seus tokens BNB a um validador e obter uma participação das recompensas por taxas de transação de validadores.

Isso permite ao validador escolhido ter uma chance melhor de participar do conjunto de validadores ativos e dá ao delegador a chance de obter uma renda passiva facilmente.

Para muitos, esse pequeno número de validadores de elite confirma que o BSC não é um blockchain descentralizado no sentido tradicional, já que usuários e transacionadores não podem validar o estado do blockchain da mesma forma que poderiam nos blockchains Bitcoin e Ethereum.

Críticas ao Binance Smart Chain

A inerente centralização do BSC é um problema para muitos. A corretora Binance é o ponto único de falha para o BSC.

Se a Binance for alvo de reguladores ou passar por problemas financeiros, então, diferente de uma rede com uma ampla rede descentralizada de nós, como a Ethereum, o BSC poderá afundar com ela.

O recente drama de saques bloqueados da OKEx é uma grande evidência de que muitas corretoras chinesas operam a favor do estado chinês e registrar uma empresa em Malta ou no Panamá não irá mudar isso.

Outra questão é a resistência à censura, que é a ideia de que nenhum estado-nação, corporação ou terceiro tem o poder de controlar quem pode transacionar ou armazenar sua riqueza na rede.

Bitcoin e Ethereum não são pertencentes a uma única entidade e a natureza de seus modelos de consenso proof-of-work sugerem que é muito difícil para que uma única entidade censure transações.

Esse não é o caso do BSC, onde a Binance tecnicamente tem o poder de censurar ou modificar transações.

A resistência à censura do BSC foi testada recentemente, quando desenvolvedores anônimos lançaram duas dapps controversas, basicamente desafiando a Binance a censurar seu blockchain.

Uma dapp chamada “Slavery” usa o mecanismo de yield farming de tokens como uma analogia à escravidão. Outra dapp, “Tanks of Tiananmen”, se refere aos controversos protestos na Tiananmen Square em 1989 na China.

O contrato autônomo da dapp pede que usuários emitam tokens chamados TANKS e explica que é um jogo para pessoas que desejam “maltratar protestantes pró-democracia e espectadores inocentes”.

A discussão sobre o incidente da Tiananmen Square é proibido pelo Partido Comunista da China. A Binance foi fundada na China, mas migrou por conta da crescente regulação de criptoativos e criptomoedas no país.

Os desenvolvedores anônimos que desenvolveram a dapp Tanks of Tiananmen parecem direcionar uma vulnerabilidade perceptível de um CEO chinês, como Changpeng Zhao que, apesar de migrar sua empresa para fora da China, provavelmente não tem vontade de antagonizar o governo chinês.

Porém, até agora, a Binance não agiu para censurar essas dapps e ambas ainda existem no BSC.

O Binance Smart Chain irá destronar a Ethereum? Embora o tamanho e a influência da corretora Binance e a capitalização de mercado da BNB o torne em um forte candidato, sua natureza centralizada vai contra o “ethos” central da economia cripto, então é improvável que substitua a Ethereum.

Entretanto, no futuro, a nova economia cripto não é um jogo de soma zero, então um cenário mais provável é que ambas irão florescer, pois a competição entre elas irá direcionar a inovação em ambas as redes.