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O aprendiz

31 jan 2017, 9:46 - atualizado em 05 nov 2017, 14:07

Olivia

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O primeiro mês do novo ano termina hoje com os investidores mais propensos em corrigir os ganhos acumulados em janeiro do que ampliar o apetite por risco para fevereiro. O aumento da incerteza na esfera política, nacional e internacional, redobra a cautela nos mercados financeiros, o que mantêm o ajuste nos ativos antes da virada da folhinha.

A inesperada decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir a procuradora-geral (equivalente à ministra da Justiça), Sally Yates, após ela desafiar o decreto contra imigrantes, aprofunda a preocupação nos mercados, em meio à imprevisibilidade na tomada de ações do novo governo e de certo autoritarismo por parte dele. Como resultado, os negócios mergulham no vermelho nesta manhã.

Os índices futuros das bolsas de Nova York recuam, um dia após Wall Street registrar a maior queda percentual desde a eleição presidencial norte-americana. Esse desempenho contamina a performance das demais bolsas, ao mesmo tempo em que intensifica a busca por proteção no iene e no ouro, com os investidores diminuindo o apetite por ativos norte-americanos.

Com isso, o dólar tenta medir forças ante as moedas rivais, mas é afetado pelas políticas isolacionistas de Trump, diante dos riscos crescentes associados aos ativos nos EUA. O movimento da moeda norte-americana representa a maior reação a esse temor, elevando as dúvidas quanto à capacidade do novo governo de impulsionar a economia do país.

O petróleo também recua, apesar da desvalorização do dólar, em meio à falta de direção sobre as políticas de estímulo à atividade nos EUA, o que eleva a preocupação quanto à produção da commodity no país. A perfuração de poços nos EUA subiu ao nível mais alto em mais de um ano, contrariando os esforços do países da Opep para eliminar o excesso de oferta. Os metais básicos, porém, ensaiam ganhos.

Assim, a turbulência envolvendo as decisões de Trump continua a desestabilizar os mercados. O grande problema é que presidente não abrandou as polêmicas promessas de campanha e manteve a mesma postura desde a eleição até depois da posse. Percebe-se o candidato republicano como um dos poucos políticos no mundo que cumprem o que promete quando se torna uma personalidade pública, sem recuos.

Por mais que essa posição satisfaça o eleitorado que o elegeu, havia certa torcida para que Trump desistisse ou, ao menos, suavizasse tais medidas enquanto presidente. Mas essa transmissão automática gera grande desconforto nos negócios, diante do temor de aumento do risco geopolítico e do sentimento antiamericano no longo prazo.

Afinal, os mercados globais aguardavam outros tipos de promessas, ligadas à desregulamentação financeira, expansão fiscal e investimento em infraestrutura. Esses vetores vinham sustentando o “caso de amor” entre Trump e os ativos. Porém, as decisões anunciadas por meio de ordens executivas que se chocam até com a Constituição norte-americana abalaram essa lua de mel.

Com a irracionalidade imperando, cresce a posição defensiva entre os investidores, desenhando um quadro pouco favorável ao risco, em meio ao aumento da incerteza sobre as políticas do novo governo nos EUA. No próprio partido republicano cresce a aversão ao “exotismo” de Trump e sua política econômica, denominada “Trumponomics”, e que se voltou mais ao protecionismo comercial do que ao estímulo fiscal.

Assim, após um janeiro positivo para os mercados domésticos, com valorização de quase 10% da Bovespa e de cerca de 5% do real, correções são esperadas. Esse movimento teve início já ontem na Bolsa brasileira, que registrou maior queda diária desde o início de dezembro, voltando aos níveis de duas semanas atrás.

O dólar, por sua vez, é mais influenciado pela perspectiva de entrada de recursos externos no Brasil e pela formação da taxa de referência para o mês (Ptax). Mas passado esse fator técnico, a alta da moeda norte-americana pode ser intensa. Até porque Brasília com a volta do recesso do Congresso e do Judiciário, amanhã, os negócios locais devem começar a ser mais influenciados por questões domésticas.

Além da decisão de quem será o presidente do Senado (amanhã) e da Câmara (quinta-feira), é esperada a escolha do novo relator da Operação Lava Jato. Quem for eleito no Legislativo, será o responsável por tocar a pauta de votação das medidas de ajuste fiscal. O peemedebista Eunício Oliveira e atual presidente Rodrigo Maia são os favoritos, mas tanto um quanto o outro estão na lista da Odebrecht, como Índio e Botafogo, respectivamente.

Aliás, com a prisão de Eike Batista assim que desembarcou no país, e a homologação, sob sigilo, das delações premiadas de 77 executivos da empreiteira, ontem, são esperados novos desdobramentos da Lava Jato. Afinal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já está com o material e pode abrir novos inquéritos a partir do conteúdo das delações.

Além disso, não se pode descartar a possibilidade de vazamento dessas delações, diante do grande interesse da opinião pública. Por ora, o presidente Michel Temer sentiu-se aliviado com a decisão da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, de manter o sigilo, ciente dos vários nomes do seu governo (dele próprio) e de aliados envolvidos em esquemas de corrupção. Nesse ambiente, o cenário local deve acompanhar o clima de cautela externo.

Na agenda doméstica do dia, destaque para a taxa de desocupação no Brasil ao final de 2016. A expectativa é de que o desemprego continue no nível recorde de alta, com taxa de 11,9% ao final do quarto trimestre do ano passado, ampliando a marca de mais de 12 milhões de trabalhadores sem emprego no país.

Também é esperada uma queda na renda mensal dos empregados. Os números oficiais serão conhecidos às 9h. No mesmo horário, será conhecido o índice de preços ao produtor (IPP) no mês passado. Antes, às 8h, saem as sondagens da FGV sobre os setores industrial e de serviços em janeiro.

Entre os eventos de relevo, Temer e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, participam de um seminário promovido pelo Credit Suisse, em São Paulo, a partir das 10h. O tema do evento é investimento na América Latina.

No exterior, saem dados sobre preços de imóveis nos EUA (12h) em novembro e o índice de confiança do consumidor norte-americano em janeiro (13h). Logo cedo (8h), a zona do euro informa a taxa de desemprego em dezembro, a prévia da inflação ao consumidor em janeiro e a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) da região ao final de 2016.

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