O alerta do indicador de falências e recuperações judiciais; insolvência deve crescer, diz Serasa
Em março, 94 empresas brasileiras deram entrada em pedido de recuperação judicial — alta de 6,8% em comparação com o mesmo mês de 2022. No acumulado deste ano, o aumento é de 37,6%, saltando de 210 para 289 requerimentos, aponta o Indicador de Falências e Recuperação Judicial da Serasa Experian.
As micro e pequenas empresas foram destaque, responsáveis por 60 dos pedidos. Entretanto, o que também chama atenção é que os requerimentos das grandes empresas – Americanas (AMER3) e Oi (OIBR3) são hoje os casos mais emblemáticos – voltou a subir.
Em janeiro, foram 15 pedidos de recuperação judicial, segundo o Serasa. Em fevereiro, os pedidos caíram para 9, e, em março, somaram 11. Para o economista da Serasa, Luiz Rabi, esse aumento preocupa.
O ano de 2023 começou com grandes empresas entrando com pedido de recuperação judicial. Entre elas, estão Nexpe (NEXP3), e Raiola.
“Quando o número de pedidos de recuperação judicial e falência aumenta entre as grandes empresas, acende o sinal de alerta, pois elas teriam maior capacidade de atravessar esses cenários econômicos incertos“, explica.
No recorte por setores, o ramo de serviço foi o que mais puxou as recuperações judiciais, com 48 pedidos, seguido pela indústria, com 20, e pelo comércio, com 15.
Rabi ainda ressalta que, com o agravamento da inadimplência das empresas, que cresce desde setembro de 2021, era inevitável que elas chegassem neste patamar de pedidos de recuperação judicial.
Segundo ele, ainda que a curva de crescimento do atraso nos compromissos financeiros das companhias desacelere, é possível que a insolvência das empresas continue crescendo.
Pedidos de falência não ficam para trás
Os pedidos de falência em março também foram expressivos. Ainda segundo o indicador da Serasa, os requerimentos saltaram de 69 no mesmo mês do ano passado para 97 em 2023 — avanço de 40,6%.
Nesse cenário, também se destacam as micro e pequenas empresas e as companhias do setor de serviço como as principais demandantes.
O economista Rabi explica que os pedidos de falências acontecem como última tentativa dos credores evitarem um prejuízo maior e receberem da empresa devedora um valor proporcional ao crédito concedido.
Por que grandes empresas estão entrando em recuperação judicial?
Segundo o advogado especialista em direito empresarial, Henrique Armando, o número de pedidos de recuperação judicial aumentou entre as grandes empresas porque o Brasil passa por um momento de correção de mercado. Nesse cenário, os preços desregulados voltam à normalidade, o que pode ocasionar um gap financeiro de investimentos, explica.
O advogado também destaca a taxa de juros elevada, que dificulta o acesso ao crédito e aumenta a inadimplência. Além disso, o período de instabilidade política gerou retenção monetária por insegurança dos investidores.
“Somando toda essa situação a possíveis problemas gerenciais e operacionais, ocasionam a crise empresarial com necessidade de apoio do judiciário”, destaca.
Para Armando, parte do aumento nos pedidos de recuperação, também é reflexo do fim de incentivos governamentais concedidos na pandemia.