O alerta do CEO da Amazon sobre o atual modelo de trabalho
Um dos temas mais quentes da atualidade diz respeito ao trabalho virtual.
Após um período em que as empresas foram obrigadas a aderir ao modelo devido ao isolamento social em razão da pandemia de covid-19, chegamos em um momento em que vêm à tona reflexões sobre os prós e contras dessa modalidade. Sendo assim, uma dessas reflexões vem de dentro da Amazon.
Não é de hoje que alguns líderes das chamadas Big Techs, como Elon Musk, da Tesla, e Reed Hasting, da Netflix, entre outros, demonstram publicamente suas preocupações com os potenciais efeitos negativos do distanciamento físico dos colaboradores.
Principalmente, no que tange a desconexão com o negócio, falta de engajamento, como também dificuldades no fortalecimento da cultura da empresa.
Recentemente, veio a público mais uma discussão desse tipo proveniente de uma gigante de tecnologia. Primeiro, a Bloomberg divulgou mensagens internas da Amazon enviada a colaboradores que não estavam aderindo à política de presença física nos escritórios de pelo menos três vezes na semana.
O conteúdo da mensagem alertava a esses profissionais que, ao não se adequarem ao sistema, eles não estavam “atendendo as expectativas” da empresa.
O alerta da Amazon
Posteriormente, em uma sessão de perguntas e respostas destinada aos colaboradores da companhia, o CEO Andy Jassy foi categórico ao afirmar que “já passou a hora de discordar. Agora é o momento de se comprometer”.
Com isso, Jassy evoca um dos Princípios de Liderança da Amazon, documento que compreende 16 definições. Elas evidenciam quais são as crenças da organização e o que é tolerado ou não na empresa de tecnologia.
De acordo com esse material, os princípios são utilizados todos os dias, seja debatendo ideias para novos projetos ou decidindo a melhor abordagem para resolver um problema.
Desta forma, o princípio mencionado pelo CEO da Amazon define que “líderes são obrigados a desafiar respeitosamente as decisões das quais discordam, mesmo que isso seja incômodo ou muito cansativo. Líderes têm convicção e são obstinados. Eles não cedem em prol da coesão social. Depois que uma decisão é tomada, comprometem-se por inteiro”.
Ao reiterar essa crença estabelecida como um dos elementos norteadores de toda organização, seu líder principal define as regras do jogo de forma clara. Há espaço para o debate sobre o melhor modelo de arranjo do trabalho para a organização.
Entretanto, a partir do momento em que a decisão for tomada – neste caso, a opção pelo modelo híbrido com a presença física três vezes por semana -, é necessário que todos se comprometam com o que foi estabelecido.
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Os ensinamentos de liderança da Amazon
Essa dinâmica representa uma variação importante no modelo clássico de liderança baseado no comando e controle. Em que as decisões eram tomadas por líderes da alta cúpula da empresa e comunicadas a todos que deviam segui-las, sem nenhum questionamento ou participação no processo.
Sob essa nova perspectiva, as decisões são passíveis de questionamento em um modelo mais participativo. Porém, há o momento em que uma definição é tomada considerando os melhores caminhos para a sustentabilidade da organização, ponderando todos os pontos de vista.
No entanto, a partir desse momento, volta à cena a unidade de comando da liderança que fortalece os parâmetros definidos e zela pela sua execução.
Nesse novo padrão de liderança há um balanço entre discordar, aprimorando debates, e se comprometer, fortalecendo as unidades de comando da organização.
Essa lógica descontrói a visão equivocada de que modelos mais participativos preterem decisões assertivas. Na qual continua sendo tarefa de líderes se responsabilizar e se comprometer com a tomada de decisões estratégicas, zelando pela sustentabilidade da companhia.
No que se refere às modalidades de trabalho, o que estamos testemunhando é a derrocada do padrão único que deve ser adotado por toda e qualquer organização.
De modo que entramos em uma era em que a personalização dos arranjos é requerida, considerando qual são os melhores formatos de acordo com as particularidades de cada empresa ou até mesmo de cada área dentro de uma companhia.
Ao que tudo indica, o modelo híbrido tende a ser a melhor escolha. Contudo, a forma como ele se dará será adaptada a cada empresa.
O que gera resultados questionáveis é a falta de engajamento com a decisão tomada, fazendo com que a organização perca sua unicidade e tenha a tendência de manter discussões intermináveis que só levam em consideração um dos pontos de vista.
*Sandro Magaldi é especialista em transformação de negócios, gestão estratégica, cultura organizacional e liderança