Comprar ou vender?

O alerta do Bradesco BBI ao Carrefour Brasil (CRFB3) diante do boicote dos frigoríficos

25 nov 2024, 12:38 - atualizado em 25 nov 2024, 14:14
Carrefour
(Imagem: iStock/Leonidas Santana)

O embate entre o Carrefour (CRFB3) e o agronegócio brasileiro ganhou força e já gera crise entre produtores brasileiros e a rede francesa.

No fim de semana, inúmeras entidades e parlamentares ligados ao setor se posicionaram contra as falas do CEO global, Alexandre Bompard.

Bompard afirmou que não irá comprar carne do Mercosul, em uma tentativa de barrar o acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia.

Apesar disso, aqui no Brasil, o Carrefour, que representa o maior faturamento do grupo fora da França, diz que continua comprando carnes fornecedores brasileiros.  As operações no país respondem por aproximadamente 40% do lucro operacional do grupo no mundo.

A questão é saber se os frigoríficos vão querer vender. A retaliação brasileira conta com o apoio do governo, e entre as empresas que aderiram ao boicote, estão a JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Masterboi.

O boicote dos produtores brasileiros começou na última sexta-feira (22), com estimativas indicando que mais de 100 lojas Carrefour, Atacadão e Sam’s Club no Brasil foram impactadas.

Para o Bradesco BBI, isso sugere escassez de carne bovina em algum momento em breve. Na bolsa, CRFB3 caia 1,5% por volta das 12h07, figurando entre as maiores quedas do Ibovespa.

Outro varejista francês, dono das redes Intermarché e Netto, também disse que não venderia carne do Mercosul, apoiando fazendeiros franceses locais.

Ainda segundo o BBI, a carne bovina é responsável por 45 a 5% das vendas totais do Carrefour, com margem Ebitda de um dígito baixo. Porém, a categoria é importante para direcionar o tráfego para as lojas.

Mesmo assim, os analistas dizem que nesta fase, ainda é muito cedo para avaliar o impacto total do boicote, pois os níveis reais de falta de estoque nas lojas Carrefour e a velocidade com que eles podem aumentar permanecem incertos.

A EQI vai na mesma linha ao dizer que é difícil mensurar os reais impactos sobre as operações, “pois não sabemos exatamente quantos dias de estoque o varejista possui para rodar normalmente diante do desabastecimento, tampouco se será capaz de encontrar novos fornecedores, ou se outros produtores também adeririam ao boicote”.

Porém, a casa diz que o impacto pode ser muito mais abrangente por afetar o fluxo de consumidores nas lojas da rede.

“Vemos a possibilidade de clientes buscarem outras redes que lhes ofereçam cestas de produtos sem restrições. Lembrando que o final do ano é um período extremamente importante para as vendas dos supermercados”.

Pela sua importância para o Carrefour, a EQI vê a retaliação brasileira com “bastante força para pressionar a decisão da matriz global.”

Na visão da Ativa, esse movimento deve impactar o top line (receita) do Carrefour no curto prazo, além de pressionar a margem bruta, rupturas de estoque e prazos com fornecedores de carnes que aceitarem fazer negócio com a empresa.

Do lado do Assaí  (ASAI3), a casa diz que a companhia possa ter um ganho de curto prazo, de beneficiando do momento negativo que o Carrefour enfrenta no comércio de proteínas.

“No entanto, reforçamos que, tanto as perdas do Carrefour, quanto os ganhos do Assaí, em nossa visão, são marginais e não devem trazer efeitos de médio/longo prazo”.

O que diz o Carrefour?

Em nota enviada ao Money Times, o Grupo Carrefour Brasil lamentou profundamente a atual situação “e reafirmamos nossa estima e confiança no setor agropecuário brasileiro, com o qual sempre mantivemos uma relação sólida e de parceria”.

“Entendemos a importância deste setor para a economia e para a sociedade como um todo, e continuamos comprometidos com o fortalecimento dessa relação”

Ainda segundo a rede, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne “impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”

“Há 50 anos temos construído e mantido uma excelente relação com nossos parceiros e fornecedores, pautada pela confiança mútua. Por isso, estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”.

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