Preço do milho fecha 2024 pressionado; veja o que pode mudar o cenário em 2025
O mercado de milho conviveu com preços pressionados ao longo de 2024, o que resultou em impactos para produtores no Brasil e no mundo. Até ontem (4), o contrato contínuo do milho em Chicago (CBOT) havia recuado em torno de 9% no acumulado do ano.
Os menores preços estiveram atrelados a perspectiva de uma boa safra na América do Sul em 2023/2024, que, apesar da perspectiva de uma produção aquém do potencial no Brasil, poderia vir boa por causa da safra Argentina.
Porém, o que vimos foi uma infestação de cigarrinhas na Argentina, o que colocou dúvidas sobre a capacidade de uma safra robusta na América do Sul, dando espaço para os preços subirem um pouco. No entanto, fomos confrontados com mais fatores baixistas, por uma safra forte nos Estados Unidos, que registrou uma produtividade recorde em 2024. Esse excesso de oferta foi o que mais pautou as quedas do milho no 2º semestre”, diz Raphael Bulascoschi, analista de milho na StoneX.
Os preços do milho no Brasil
Apesar dos problemas na safra, o Brasil viu os preços atuarem de maneira contrária do que os vistos na CBOT, valorizando cerca de 8% em 2024, acima dos R$ 70 a saca.
“Isso acontece por conta da desvalorização do real. Com a valorização do câmbio, o preço do milho brasileiro ficou mais competitivo. Vimos o dólar bater R$ 6, com uma valorização de 20% para o câmbio em 2024. Fora isso, houve um atraso na comercialização pelos produtores por boa parte do ano, o que criou, em alguns momentos, um cenário de escassez em meio a abundância, o que ajudou a entregar altas pontuais ao longo do ano”, comenta.
Para 2025, o foco do mercado fica por conta das safras da América do Sul, mais especificamente para Brasil e Argentina. A StoneX projeta uma produção de 128,28 milhões de toneladas em 2025, um pouco abaixo dos 132 milhões de 2023.
No entanto, os números podem ser revistos de acordo com o andamento da safrinha, que concentra a maior parte da produção brasileira, no início de 2025.
“O mercado seguirá muito atento para Argentina, que está plantando uma área menor nesta safra, justamente pelas cigarrinhas, com o produtor argentino um pouco mais temeroso com o retorno da praga”.
O retorno de Trump e uma possível guerra comercial
Além dessas questões, os “olhos” do mercado se voltam para a relação entre China-EUA, com a volta de Donald Trump à Casa Branca. Também aumentam as dúvidas acerca da política de incentivos aos biocombustíveis.
“O novo governo republicano já entregou sinais que a política de incentivos a biocombustíveis está em cheque. A nomeação de Lee Zaldin, congressista republicano historicamente conhecido por votar contra projetos de combustíveis sustentáveis, para a Agência Ambiental dos EUA e de Scott Bessent, que já prometeu incrementar a produção de petróleo dos EUA em mais 3 milhões de barris, para a Secretaria do Tesouro amparam um temor do mercado, o que poderia impactar a demanda de milho para a produção de etanol no país”,
Do lado político, há dúvidas sobre a relação dos EUA com a China e outros membros do BRICS. “Vimos recentemente o novo presidente ameaçando com tarifas esses outros países do bloco caso eles criem uma moeda comum para as transações, algo que o mercado acompanhará de perto”, completa
Ainda na pauta geopolítica, a situação da Rússia e Ucrânia pode mexer com o mercado, já que a Ucrânia é um importante produtor e exportador do cereal.