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Nubank lança conta corrente digital com discurso de ataque a grandes bancos

24 out 2017, 16:16 - atualizado em 05 nov 2017, 13:53

Reforçando seu posicionamento de concorrente dos grandes bancos brasileiros, o Nubank anunciou nesta terça-feira, 24, a criação de uma conta corrente, aproximando-se cada vez mais do modelo de atuação de uma instituição financeira. Por ora, entretanto, a fintech será apenas um arranjo de pagamento pré-pago que, segundo o fundador e CEO do Nubank, David Vélez, vai possibilitar transferências de recursos entre contas para qualquer banco e pagamentos da fatura do cartão.

O Nubank recebeu autorização no Banco Central como uma instituição de pagamentos, batizada de Nu Pagamentos. A expectativa, conforme o executivo, é atrair os próprios clientes do cartão do Nubank e também os que não foram aceitos por conta de risco de crédito, por meio de uma oferta sem tarifas tanto para Nu Conta como para transações, em tempo real e com menos complexidade.

Dos mais de 13 milhões de pedidos que a empresa já recebeu, pouco mais de 2,5 milhões foram aceitos para ter o cartão da marca. Vélez descartou que o lançamento da Nu Conta seja uma alternativa para a empresa captar recursos e se preparar para uma eventual mudança no setor de cartões com a redução do prazo de pagamentos ao lojista, de 30 dias para dois dias.

Em debate no ano passado, comentava-se que a mudança traria impactos para empresas como o Nubank, que não conta com recursos para fazer frente ao pagamento imediato. Cristina Junqueira, co-fundadora do Nubank, garantiu que esse tema não está em discussão, afirma que esteve em Brasília e que mantém conversas com o Banco Central.

“O lançamento da Nu Conta não tem necessariamente relação com eventual mudança (no prazo de pagamento ao lojista)”, explicou ela, em conversa com jornalistas. Os recursos depositados na Nu Conta, conforme o CEO do Nubank, vão render títulos públicos, com taxas indexadas equivalentes a 99% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).

Como não vai cobrar tarifas, o ganho da Nu Conta virá, segundo ele, da rentabilidade adicional ao que será pago para quem usar a conta. Sobre a possibilidade de a Nu Conta ofertar investimentos como CDBs e outros, o executivo disse que não, ao menos, nesse momento. “Esse é só o começo da Nu Conta. Vamos criar novas funcionalidades daqui para frente”, disse Vélez, em coletiva de imprensa, na manhã desta terça.

Boletos

Dentre as próximas funções que serão lançadas, de acordo com ele, está o pagamento de boletos. No entanto, outras possibilidades, como a emissão de cartão de débito e empréstimos, não serão possíveis. Como a Nu Conta é um arranjo de pré-pagamento, a ideia é que o cliente use apenas os recursos que depositar, não necessitando de limites extras como o tradicional cheque especial.

“Vamos aos poucos”, complementou Vélez. Ele afirmou ainda que o Nubank não apresenta lucro líquido no Brasil, uma vez que os recursos captados têm sido reinvestidos. Segundo o executivo, não há um prazo para que o break-even (ponto de equilíbrio) seja alcançado.

“Não queremos ganhar dinheiro. Queremos remover a complexidade do sistema financeiro. A maioria das pessoas paga tarifas muito altas sem necessidade. Nosso objetivo é transmitir a nossa eficiência e permitir que nossos clientes tenham uma maior rentabilidade de seus investimentos”, garantiu Vélez. O executivo lembrou que o Nubank pediu, já há dois anos, licença para atuar como um banco junto ao Banco Central. Segundo Cristina, o processo de obtenção do aval do regulador está na “reta final”.

Foco

O foco da Nu Conta, além de atrair os clientes que já têm interesse no cartão, conforme ele, é permitir que mais pessoas sejam bancarizadas. Há, segundo Vélez, cerca de 60 milhões de brasileiros à margem do sistema e esse número não tem diminuído nos últimos anos.

Críticas

Em evento de lançamento do novo produto, o CEO do Nubank fez críticas aos grandes bancos, que cobram juros e spreads (diferença de quanto um banco paga para captar e o quanto cobra para emprestar), além de tarifas bancárias, em sua visão, sem necessidade. Também citou a complexidade para os clientes fazerem suas transações bancárias.

“Quando começamos, falavam que não íamos conseguir concorrer com os grandes bancos. Hoje, já economizamos mais de R$ 1,5 bilhão em tarifas e mais de 27 milhões de minutos que nossos clientes teriam gasto em centrais de atendimento”, destacou o CEO do Nubank. Por ora, a fintech não almeja novas captações de recursos. A expansão da Nu Conta será feita com o caixa atual e, conforme os fundadores da empresa, os atuais investidores estão satisfeitos com a operação, ainda que continue rodando no vermelho.

(Por Aline Bronzati)