Novo salário mínimo entra em vigor em poucos dias, mas deveria ser muito maior; veja quanto, segundo o Dieese
A partir de janeiro de 2026, o salário mínimo vai passar a ser R$ 1.621. No papel, trata-se de um reajuste de 6,79%, ou R$ 103 a mais no bolso de quem tem seus vencimentos pelo piso nacional.
Na vida real, entretanto, o valor ainda está muito longe do mínimo necessário para viver com dignidade no Brasil.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo capaz de sustentar uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 7.067,18 em novembro de 2025 — mais de cinco vezes o novo valor oficial.
O cálculo do Dieese não é complexo. Ele considera despesas básicas previstas na Constituição: alimentação, moradia, saúde, educação, transporte, vestuário, higiene, lazer e previdência.
Na prática, o novo mínimo cobre apenas uma fração desses custos. Hoje, quem vive com o piso nacional precisa escolher entre pagar o aluguel (ou parte dele) e encher o carrinho do supermercado.
O reajuste chega, mas o aperto permanece.
As diferenças entre o mínimo e o ideal não são restritas a este ano
Em dezembro de 2024, o valor básico para viver no Brasil foi de R$ 7.067,68, após operar na casa dos R$ 6 mil desde 2022.
De acordo com os dados da série histórica, iniciada em 1994, o salário-mínimo necessário sempre foi maior do que o dobro determinado pelo governo.
Em geral, o valor é ajustado com base na inflação, tomando como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que em teoria garante maior poder de compra da população que recebe o salário-mínimo.
Como o salário mínimo foi calculado
O reajuste segue a Lei 14.663/2023, mas para 2026, porém, a regra veio com freio. O novo arcabouço fiscal limitou o crescimento real das despesas da União a 2,5%.
Ou seja, ficou assim:
- INPC: 4,18% (considerado integralmente)
- PIB: 3,4%, mas limitado a 2,5%
O resultado foi um aumento nominal de 6,79%, formalizado em texto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar do aumento, o Dieese aponta que o valor não atende ao que determina a Constituição.
Mesmo insuficiente, o mínimo move a economia
Ainda assim, o impacto econômico é relevante. O Dieese estima que o novo valor injetará R$ 81,7 bilhões na economia, ao elevar renda, consumo e arrecadação ao longo de 2026.
O reajuste não atinge apenas trabalhadores formais. Segundo o departamento, cerca de 61,9 milhões de brasileiros têm rendimentos diretamente atrelados ao salário mínimo, incluindo:
- 29,3 milhões de aposentados e pensionistas do INSS
- 17,7 milhões de empregados formais
- 10,7 milhões de trabalhadores autônomos
- 3,9 milhões de empregados domésticos
Para quem ganha o mínimo, o novo valor equivale a R$ 54,04 por dia ou R$ 6,37 por hora.