Novo líder da Aprosoja MT defende investimentos em previsão climática
As previsões climáticas para a agricultura do Brasil têm falhado e mais investimentos em estações meteorológicas são necessários para diminuir os riscos da atividade, afirmou um importante líder do setor agrícola de Mato Grosso, em um ano em que o principal Estado produtor brasileiro de soja enfrenta um atípico tempo irregular que já reduziu o potencial máximo do grão.
O Mato Grosso, que se fosse um país seria o quarto produtor da oleaginosa no mundo, teve um início de plantio atrasado devido à escassez de umidade, o que resultará em maiores volumes colhidos mais tarde do que na temporada passada.
Muitos agricultores, contudo, basearam-se em previsões de chuvas para iniciar os trabalhos precocemente, e as precipitações acabaram não se confirmando em muitas áreas, o que resultou em replantio ou perda de potencial produtivo.
“Precisamos de mais investimentos em previsão climática, aumentar os pontos de coletas de dados, a previsão em ambiente de clima tropical é mais difícil… Aumentar a base de dados para poder ter previsões mais fidedignas”, afirmou o novo presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja MT), Fernando Cadore, à Reuters.
O gaúcho que chegou ao Mato Grosso com sua família em 1986, estabelecendo-se na região de Primavera do Leste, e integrou a diretoria anterior da Aprosoja MT antes de assumir a presidência no início deste ano, disse que a associação tem trabalhado para melhorar a qualidade das previsões.
Uma ideia seria reduzir a distância entre as estações meteorológicas, disse ele, o que colaboraria para ampliar a cobertura.
Uma pesquisa recente mostrou que a maioria dos agricultores do Brasil se sente insegura para tomar decisões com base na previsão do tempo.
Questionado, Cadore disse que em tese o investimento na melhoria das previsões climáticas teria de ser governamental, por ser uma questão que traz benefícios a toda população. Ele não detalhou o montante de capital.
Armazenagem
Cadore afirmou ainda que espera contar com a força de uma das associações mais representativas do setor agrícola no país, com mais de 7 mil produtores, para emplacar no governo outras demandas relativas a maiores financiamentos para armazenagem de grãos, ao mesmo tempo obtendo garantias de que projetos como as ferrovias Fiol e Ferrogrão irão deslanchar.
Segundo ele, o setor tem capacidade de armazenagem para metade da produção, sendo que apenas 40% está nas mãos do produtor rural, enquanto a recomendação da FAO é de que o segmento tenha capacidade de armazenar mais de uma safra ao ano.
“Vamos levar para o governo federal, precisamos de políticas públicas… seriam necessárias linhas de crédito para o produtor por se tratar de infraestrutura… Precisamos de um comprometimento governamental em relação às ferrovias… que esses modais saiam do papel e virem realidade…”, disse.
Ele ressaltou que, ao contrário do que se afirma no mercado, a grande maioria dos agricultores do Estado é formada por “pequenos”, uma vez que 50% das propriedades de Mato Grosso têm até 500 hectares; se nessa conta são incluídas as fazendas maiores, com até 3 mil hectares, eles representam 85% dos produtores rurais mato-grossenses.
Atraso
O presidente da Aprosoja MT disse que o plantio atrasou na temporada 2020/21 de 15 a 20 dias, e que isso já traz problemas para a safra. Mas ele comentou que é “muito cedo” para falar em estimativa de produtividade neste momento.
“O próximo mês esperamos que tenha estabilidade climática para conseguirmos avaliar o impacto do clima na nova safra, precisamos do mês de janeiro para ter definição. Vamos ter perda em função desse atraso, mas ainda não dá pra quantificar”, afirmou.
Enquanto a colheita deverá ganhar maiores volumes ao final do mês, alguns produtores que semearam antes, para realizar a segunda safra de algodão, já iniciaram os trabalhos.
Ele disse esperar que o clima colabore no período de colheita, pois se chuvas forem excessivas podem gerar um gargalo logístico, considerando que a safra está mais concentrada devido ao atraso.
“Cai naquele ponto de que precisamos de estrutura de armazenagem melhor, com certeza vai ser um gargalo… se o clima colaborar e tiver seca na colheita, ele vai conseguir tirar dentro da normalidade. Caso contrário, vai ter um gargalo tanto na parte de armazenagem quanto no transporte”, avaliou.