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Novo conselho de mineração de bitcoin quer melhorar a reputação do setor cripto

18 jun 2021, 11:09 - atualizado em 18 jun 2021, 11:19
Havia certa esperança de que o BMC fosse tornar o processo de mineração de bitcoin mais transparente mas, sem divulgações mandatórias, sua missão agora parece “vazia” (Imagem: Bitcoin Mining Council)

Em maio, Michael Saylor, CEO da MicroStrategy (MSTR), sugeriu que havia convocado uma reunião com mineradores de bitcoin (BTC) norte-americanos para promover energias renováveis e transparência.

Agora, o chamado “Bitcoin Mining Council” (BMC) realizou sua primeira reunião, aberta para o público por meio do recurso Spaces do Twitter.

Informações sobre o conselho vieram à tona por meio de Elon Musk, CEO da Tesla (TSLATSLA34). A empresa suspendeu pagamentos em bitcoin para seus produtos por conta de questões ambientais após tê-los apresentado meses antes.

Conforme muitos debateram o porquê de o magnata da tecnologia ter apostado no bitcoin, permitindo pagamentos e acrescentando cripto ao balanço da Tesla sem analisar a narrativa de consumo energético, Saylor criou o conselho e convidou Musk para conversar com participantes da indústria.

Porém, Musk não participou do debate do conselho e a única referência a ele surgiu quando um ouvinte compartilhou seus receios em relação à volatilidade, de que “o tuíte de uma pessoa — por exemplo, Elon Musk — pode criar volatilidade em algo que deveria ser muito difundido”.

O BMC dissipou qualquer relação com Musk em seu site ao explicar que “a amplitude desse envolvimento foi criar uma convocação educacional com um grupo de empresas norte-americanas para discutir a mineração de bitcoin”.

O grupo tomou um ponto de vista mais informacional em vez de se posicionar como uma organização autorregulatória que, possivelmente, poderia amenizar preocupações regulatórias. Segundo seu site, “o BMC não foi criado para ser uma autoridade ou dizer o que deve ser feito”.

Na verdade, grande parte da conversa focou em “notícias da imprensa”, segundo Saylor.

Na reunião com duração de uma hora e meia, membros do grupo apresentaram sua opinião sobre assuntos como mineração a gás, a queda na taxa de hashes na China e a falha tentativa de implementar um moratório de mineração em Nova York.

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A missão do conselho (caso membros a aceitem)

Hut 8 é uma das mineradoras participantes do BMC, conhecida por suas operações com energia solar na América do Norte (Imagem: Twitter/Hut 8 Mining)

Jamie Leverton, CEO da organização-membro Hut 8 Mining (HUT.TO), explicou a missão do conselho:

Um fórum voluntário e aberto de mineradores de bitcoin comprometidos com a rede e a seus princípios fundamentais. Promovemos transparência.

Compartilhamos melhores práticas e educamos o público sobre os benefícios do bitcoin e da mineração […] e queremos fazer isso da forma mais aberta, transparente, inclusiva e descentralizada possível.

Cada faceta da participação será voluntária. Membros são convidados a serem transparentes e opacos o quanto quiserem, sem quaisquer padrões instituídos — incluindo divulgações financeiras.

Também não irá criar padrões mandatórios, regulatórios ou de compliance para seus membros nem criar uma barreira de acesso.

“Realmente não está em nossos planos fornecer qualquer governança, requisito ou regra porque não é um conselho de governança”, afirmou Saylor.

Essa abordagem parece ser uma maneira de participantes compartilharem abertamente o que acreditam ser um panorama mais completo sobre o estado da mineração — um panorama que eles sentem que a imprensa tradicional falhou em apresentar.

Esses participantes incluem membros-fundadores da MicroStrategy, Riot Blockchain (RIOT), Galaxy Digital (GLXY.TO), Marathon Digital (MARA), Hut 8, Hive (HIVE.V), Core Scientific, Blockcap e Argo Blockchain (ARBKF).

Amanda Fabiano, líder do departamento de mineração da Galaxy Digital, disse que isso significa que empresas públicas, envolvidas com mineração, podem “derrubar algumas dessas narrativas ruins que vemos na imprensa tradicional”.

De acordo com Saylor, os participantes do conselho apoiam a rede Bitcoin como ela é.

Apesar de eles, como indivíduos, poderem defender o uso de energias renováveis e buscar corrigir o que, segundo eles, forem narrativas ruins ou enviesadas em relação ao consumo de energia, não são obrigados, por nenhum modelo de governança, a se comprometerem a iniciativas que se adequam a regimes regulatórios, como a censura de transações ou iniciativas obrigatórias de energia.

O que os irá unir, segundo Saylor, é a defesa em conjunto à rede:

Não estamos aqui para consertar o Bitcoin. Então, eu acho que você pode pensar que acreditamos em todo o ethos como algo incondicional assim como qualquer outra pessoa e iremos fazer tudo o que pudermos para defender os valores do Bitcoin.

Estamos aqui para defender o Bitcoin de pessoas que não o entendem, fazendo com que políticos estejam contra o Bitcoin ou apareçam narrativas na imprensa que subestimam a propagação do Bitcoin pelo mundo.

O conselho acabou de ser criado. Atualmente, o grupo está focado em integrar membros e entender o que fazer em união, então ainda não há orçamento ou planos de gastar dinheiro.

Porém, a ideia, ao longo do tempo, é criar um modelo da rede de mineração do bitcoin para mostrar aos outros o uso de energia e a matriz de recursos.

Saylor afirmou que o conselho espera publicar descobertas, se seguir por esse caminho, para que outros possam realizar previsões para a rede. Ainda assim, isso seria algo voluntário para qualquer membro, ou seja, o modelo que o conselho vier a apresentar poderá não ser o panorama completo.

O problema do capital aberto

O maior receio do BMC é que a narrativa sobre a mineração, difundida pela mídia, influencie desenvolvimentos políticos, que podem criar verdadeiras barreiras de acesso em países específicos (Imagem: Unsplash/executium)

Caitlin Long, CEO do banco cripto Avanti, pressionou Saylor e os membros de seu conselho sobre o envolvimento de empresas listadas em bolsa.

Sem divulgações mandatórias ou outras verificações para evitar que grandes empresas acabem com os mineradores menores, e empresas de capital aberto continuem sujeitas aos caprichos dos membros do conselho, Long perguntou se o envolvimento de empresas listadas em bolsa na mineração seria algo “bom para o Bitcoin”.

Apesar de não haver um comprometimento formal em evitar a criação de um bloco que poderia alterar a rede, Saylor disse que a ideia não surgiu nas conversas.

Falando de sua experiência como CEO de uma empresa listada em bolsa, Saylor disse que as pressões de membros do conselho ou ativistas não são uma preocupação.

O maior receio é que a narrativa sobre a mineração, difundida pela mídia, influencie desenvolvimentos políticos, que podem criar verdadeiras barreiras de acesso em países específicos.

Segundo ele, as maiores ameaças são externas e, por isso, vale a pena unir grandes empresas. A rede precisa que corporações, instituições e corretoras a defendam, junto com pools de mineração e entidades mais descentralizadas, explicou ele:

Você pode ser um maximalista e dizer: “sou contra organizações” por uma questão de filosofia mas, se você for processado por um multibilionário que quer processar um desenvolvedor específico do Bitcoin e arcar com as despesas jurídicas de US$ 10 milhões, você vai se arrepender de não haver um fundo de defesa legal e organizado para você […].

Basicamente, não podemos esperar obter algum sucesso se formos desorganizados.

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