Novas tecnologias e o Agro 4.0: O que esperar para o futuro do setor e do produtor rural?
Na semana retrasada, quando estive no interior de São Paulo, mais precisamente em Ribeirão Preto, havia acabado de publicar a última coluna aqui no Money Times e jantava com um grande amigo de infância, André Valle.
Engenheiro de ofício e vice-presidente de Vendas e Negócios de uma multinacional, ele atua em uma empresa que desenvolve sistemas de comunicação por satélite através da internet das coisas para o agronegócio
Entre uma taça de vinho e outra, além de risadas e recordações de quase 50 anos de amizade, começamos a divagar sobre a importância do setor em que atuamos hoje: o agronegócio brasileiro.
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Falamos das mais variadas nuances do setor e o que ele representa para nós e para as futuras gerações de brasileiros. Eu, advogado e professor, ele, engenheiro e executivo, ambos já na meia idade – completo 53 anos nesta quarta–, e com filhos com mais de vinte anos de idade, nos deparamos com essa reflexão sobre o nosso futuro e futuro das novas gerações de brasileiros.
Na hora que surgiu o assunto, já antecipei a ele que tentaria dividir a discussão com vocês aqui na nossa coluna quinzenal já que, provavelmente, o tema assalta comumente o pensamento da maioria dos nossos leitores.
Qual o papel das novas tecnologias no agro?
Dessa maneira, divagando em torno de um tema que eu não domino – já aviso aqui de antemão para me fazer valer da licença poética da reflexão -, mas que o meu interlocutor dominava, tive o prazer de receber uma verdadeira aula naquela noite.
André Valle me explicou como a tecnologia pode funcionar como uma potente ferramenta de coleta e organização de dados, além de informação útil para o produtor rural e para os demais players da cadeia ampla do agronegócio.
Nessa seara, ele me comentou que está desenvolvendo alguns programas com empresas privadas e órgãos públicos para maximizar a capacidade e a possibilidades em torno da coleta, da organização e do tratamento de dados através da nova tecnologia que ele licencia via satélite e que pode, ao fim e ao cabo, ser aplicada para medir o crescimento, por exemplo, de florestas, plantas, animais, rastreamento sanitário, utilização maior ou menor de insumos, etc.
Dessa forma, esse novo “patamar” de processamento, organização e disponibilização de dados para os negócios no campo, teria condições de, juntamente com toda a tecnologia de produção agronômica que já aplicamos e desenvolvemos dentro e fora da porteira, por si só, representar mais uma revolução no setor.
Como a tecnologia pode impactar as margens do produtor rural?
Então, sem adentrar em números, já que a coluna desta semana se presta a descrever uma conversa despretensiosa entre dois amigos, profissionais do agro de áreas distintas, mas que, de alguma forma, podem convergir em visões de futuro – essa é a ideia central desse texto, aliás –, como tudo isso poderia representar essa nova revolução para o agro brasileiro?
Agora, sentindo-me mais à vontade para aprofundar-me na linha da temática do texto, posso dizer que já estamos presenciando como a utilização intensiva (e organizada, claro) dessas novas tecnologias estão contribuindo para o aumento das margens do produto, prova disso, foi a “eletronificação” ou “uberização” da Cédula de produto Rural (CPR), propiciada pela Nova Lei do Agro de 2020.
A nova lei fez com que a emissão e o registro desses títulos saltasse de um patamar de menos de R$ 2,8 bilhões naquele ano, segundo dados da Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos Privados (CETIP), para um patamar de R$ 266 bilhões em julho de 2023, conforme dados expostos em nossa última coluna.
Isso comprova que a tecnologia bem inserida em alguma etapa da cadeia do agronegócio – nesse caso, no financiamento da produção e custeio agropecuário -, pode mudar completamente o cenário dessa atividade.
Sendo assim, se extrapolarmos a utilização da tecnologia para outras situações que o meu xará me descreveu na conversa, podemos considerar que o impacto de novos métodos pode fazer com que a informação flua de “cima para baixo” – dos satélites para o solo -, e de “baixo para cima” – do solo para os satélites e de lá para a “nuvem” na internet -, em todo o processo produtivo.
Dessa forma, é possível fazer com que a produtividade aumente consideravelmente, além de assegurar margens melhores ao produtor rural por diferentes motivos em razão do uso intensivo dessas novas tecnologias, informação, controle de insumos e manejo, além da organização e do tratamento desses dados “no” e “do” campo.
Tecnologia e sustentabilidade
Falando agora em sustentabilidade no agro, se carecemos de algumas métricas tropicalizadas para alavancar as emissões de CPR-Verde, por exemplo, como temos insistido nessa coluna, ao utilizar ferramentas tecnológicas para medir a captura de carbono por florestas, de “cima para baixo” e de “baixo para cima” através de satélites integrados com chips nas plantas ou nas áreas de produção/plantio, teremos como facilitar e organizar o processo de certificação, monitoramento e organização de dados sobre a captura de carbono em matas nativas.
Daí para gerar renda adicional ao produtor pela venda de ativos agroambientais, como os créditos de carbono materializados por CPR-Verde, é um pulo.
Mais do que isso, dados bem tratados, organizados e até geridos por inteligência artificial, por exemplo, podem propiciar um salto quantitativo no desenvolvimento de bases de dados e metodologias científicas topicalizadas que tanto necessitamos para parametrizar o que já sabemos na prática acerca da preservação e da sustentabilidade impregnada e gerada pelo nosso agronegócio.
Tudo isso ajuda a melhorar o processo produtivo como um todo, garantindo a procedência dos produtos agropecuários brasileiros em larga escala.
No final da conversa, nos sentindo mais “oxigenados” e ainda falando dos nossos filhos e do futuro de nosso Brasil nesse contexto, comentamos sobre como essa diversidade de gerações, com habilidades diferentes – nós dois ”imigrantes digitais” e as novas gerações de produtores e de gestores no campo “nativos digitais” – podem convergir para o sucesso desse “Agro 4.0” e ajudar o Brasil a cristalizar o que o professor Roberto Rodrigues tem insistido ao longo dos anos como um exemplo e líder para todas a gerações que militam no setor, de que o “Agro é Paz” e que, se tratado como elemento central de políticas públicas de desenvolvimento no país, pode assegurar ao Brasil e ao povo brasileiro, uma importância central no contexto global cada vez mais plural.