Nova fase de inovação: Track&Field quer investir em experiências dentro e fora do universo de compras
O último ano e meio foi de intensa transformação para o varejo tradicional. Se a tendência de digitalização já estava acontecendo, ainda que em ritmo menor, no período pré-pandemia, imaginar agora que uma empresa consegue manter o nível das operações sem o uso das ferramentas digitais chega até a parecer estranho.
Com medo de ficarem para trás, os principais varejistas do setor tiveram que aprender a trabalhar com a tecnologia para repaginar seus negócios. No caso da Track&Field (TFCO4), o fechamento temporário das lojas físicas em decorrência das medidas restritivas fez com que a companhia colocasse em prática os planos de inovação guardados na gaveta.
Em entrevista ao Money Times, Fernando Tracanella, CFO e diretor de Relações com Investidores da Track&Field, disse que a companhia tinha algumas iniciativas inovadoras delineadas em seu modelo de negócio que acabaram ganhando um tom de urgência com a chegada da Covid-19 no Brasil.
O executivo lembrou que o processo de listagem da empresa na B3 (B3SA3) ocorreu em meio à pandemia, evidenciando ainda mais o papel do digital no crescimento das operações e no otimismo dos investidores.
“O IPO aconteceu no meio de uma pandemia, e o varejo inteiro passou por um processo de transformação. A companhia foi bem-sucedida nesse processo, no qual o digital ganhou uma relevância muito maior”, afirmou.
Ao adotar iniciativas pelo lado do e-commerce e do social selling, a Track&Field conseguiu se recuperar gradualmente dos efeitos da pandemia no segundo trimestre de 2020, período de pico da primeira onda do coronavírus.
“No pior cenário, em boa parte do período com lojas fechadas, conseguimos ter um resultado equilibrado, mantendo um histórico de crescimento com rentabilidade”, destacou o CFO. “Isso deu muita segurança ao mercado”.
As ações da Track&Field acumulam alta de mais de 70% desde o IPO, que aconteceu no último trimestre do ano passado.
Investindo em experiência
A Track&Field anunciou no fim do mês passado uma mudança em seu conselho de administração, dando início a uma nova fase de aceleração digital da empresa. José Vicente Marino, ex-CEO Brasil da Avon e ex-COO da Natura (NTCO3), foi eleito como novo presidente do colegiado, em substituição a Richard Doern.
A companhia também teve uma alteração no cargo de diretor de Operações com a saída de Márcio Luiz Matsuda. Por enquanto, a área está temporariamente sob responsabilidade de Tracanella.
Nessa nova etapa de inovação, além da parte do consumo, a Track&Field quer investir ainda mais no que é considerado um dos seus maiores diferenciais: o foco na experiência do cliente fora do universo de compras.
“A Track&Field é uma empresa que oferece não só produtos, mas experiências. E isso é uma coisa presente há muito tempo”, disse Tracanella. “A missão da companhia é conectar as pessoas ao estilo de vida mais ativo e saudável. Isso é o nosso norte. Então, a gente quer reforçar cada vez mais isso”.
Desde 2004, a companhia realiza circuitos de corrida. A Track&Field estava fazendo em torno de 80 corridas por ano, e planejava chegar à marca de 100 em 2020, mas não conseguiu devido à pandemia.
Além dos circuitos, a Track&Field desenvolveu um aplicativo de aulas para os clientes. No TFSports, a empresa disponibiliza conteúdos com personal trainers e professores para continuar estimulando a prática de atividades físicas entre os usuários, agora não mais só no âmbito presencial.
“A gente acabou digitalizando também as experiências”, disse o CFO. “[A Track&Field] é uma empresa que entende que o consumidor é cada vez mais omnicanal – ele quer se relacionar com a marca, independente do canal. A gente tem apostado bastante nisso”.
Omnicanalidade: a palavra da vez
A Track&Field chegou à conclusão de que a atual fórmula para o crescimento está em apostar cada vez mais em iniciativas multicanais. Além das vendas via WhatsApp, a companhia acelerou seus serviços de ship from store, no qual a empresa acaba direcionando uma venda captada digitalmente pelo e-commerce para a loja física, e pick up, que permite a retirada do produto na loja.
A companhia, que recentemente inaugurou um centro de distribuição em Osasco (SP), ampliando em quase quatro vezes a capacidade de armazenamento e abastecimento das lojas, dará continuidade aos planos de expansão da malha com as unidades físicas fazendo o papel de “mini CDs”.
Para isso, a Track&Field deve manter o bom ritmo de abertura de lojas físicas. Em 2020, foram inauguradas 35 novas lojas, acima da quantidade de pontos abertos em 2019. Com isso, a empresa atingiu 262 unidades em funcionamento. A expectativa para 2021, mesmo com o cenário ainda bastante desafiador, é acelerar essa linha, principalmente para cidades de pequeno e médio portes, e aumentar a capilaridade.
Tracanella disse que a regra para a aplicação de qualquer nova solução é sempre olhar o melhor custo-benefício para o cliente.
“A regra de negócio é olhar onde o cliente está localizado, qual equação vai ser melhor do ponto de vista de receber rapidamente o produto a um menor custo…”, comentou.
Aquisições não estão nos planos
Diferentemente de muitas empresas do setor que estão com a agenda de M&A (fusões e aquisições) cheia, a Track&Field não está focada na compra de ativos.
“A gente não está focado em aquisições. Não existe nenhuma conversa também. A gente não está olhando M&A nem do ponto de vista ativo, nem passivo. Não estamos conversando com ninguém a respeito disso”, destacou Tracanella.
A companhia acredita que tem muito potencial para criar valor com sua marca por meio do lançamento de novas linhas, como por exemplo o Beach Tennis.
Além disso, a Track&Field tem uma perspectiva muito boa no cenário de retomada do varejo, com o mercado endereçável crescendo.
“As pessoas estão mais preocupadas com saúde. E também estão buscando roupas mais confortáveis, seja para trabalhar em casa ou no escritório. Existe uma tendência no mundo inteiro nessa direção. A gente acredita que são questões estruturais que vieram para ficar”, afirmou Tracanella.
A Track&Field divulgará os resultados do segundo trimestre do ano nesta quinta-feira, após o fechamento do mercado.
No primeiro trimestre, a companhia reportou lucro líquido de R$ 7,2 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 566 mil apresentado em igual período de 2020.
Em termos ajustados, a empresa saiu do lucro de R$ 69 mil e apresentou ganhos no valor de R$ 7,1 milhões.
A receita líquida teve crescimento de 13,6% no comparativo anual, passando de R$ 56,1 milhões para R$ 63,7 milhões.
O indicador SSS (Vendas Mesmas Lojas) registrou aumento de 22,9% no trimestre, ante queda de 0,9% em igual período de 2020. As vendas por e-commerce mais que dobraram, para R$ 13 milhões.
O Ebitda, que corresponde ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, disparou 161,2% e totalizou quase R$ 11 milhões. Sob base ajustada, o indicador chegou a saltar 380,8% e atingiu R$ 8,7 milhões.