Nova CEO da Gafisa aposta em luxo para reconquistar investidores
Se adaptar não é novidade para Sheyla Resende.
Quando mais nova, ela morou em 23 cidades diferentes, porque o trabalho de seu pai na construção de rodovias exigia mudanças frequentes.
Engenheira civil de formação, Resende começou na Gafisa em 2009 como trainee e foi subindo, com passagens por canteiros de obras onde muitas vezes era a única mulher entre 400 trabalhadores.
Agora, aos 37 anos, ela é a primeira CEO mulher nos 70 anos de história da construtora paulistana.
Em sua nova função, Resende e sua equipe executiva tentarão reconquistar investidores institucionais, muitos dos quais abandonaram a empresa em meio a uma série de mudanças de controle e reformulações malsucedidas que levaram o preço da ação a cair mais de 90% desde 2018.
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É um ambiente desafiador para as construtoras, com a economia em desaceleração e juros altos. Resende disse que seu foco será atender compradores de residências de classe média alta e de patrimônio elevado em São Paulo e no Rio de Janeiro, que são menos afetados pelos ciclos de alta e baixa.
“Nossa estratégia hoje são produtos de altíssimo padrão”, disse Resende em entrevista na sede da empresa. Uma peça central da nova abordagem da Gafisa é o complexo residencial que está construindo na praia do Leblon, no Rio de Janeiro, entre Ipanema e o morro Dois Irmãos.
O edifício Tom Delfim Moreira, com inauguração prevista para o ano que vem, tem apenas seis unidades, que foram vendidas a uma média de R$ 100.000 o metro quadrado. A cobertura de 502 metros quadrados foi vendida por R$ 42 milhões no ano passado.
“Isso é inédito”, disse Claudio Castro, corretor de imóveis da Sérgio Castro Imóveis no Rio, sobre o preço.
Um apartamento de tamanho semelhante em um prédio antigo à beira-mar no local seria vendido por cerca de metade do preço por metro quadrado, disse ele.
O imóvel na praia do Leblon foi projetada pelo escritório de arquitetura Gensler e inclui obras de artistas brasileiros como Vik Muniz e Ernesto Neto.
“Antigamente, só se pensava em localização e não errar”, disse Luis Ortiz, vice-presidente da Gafisa, durante a entrevista. “Hoje não. É um enfoque para frente, para trazer ingredientes que sejam de impacto para os clientes.”
A Gafisa também está desenvolvendo três projetos adicionais na orla do Rio. Em São Paulo, enquanto isso, a construtora está concluindo seu primeiro “prédio de marca” com a Tonino Lamborghini no bairro nobre dos Jardins.
Cerca de 60% das unidades do prédio foram vendidas até agora a um preço médio de R$ 40.000 o metro quadrado. Está programado para abrir em 2025.
A nomeação de Resende como CEO, anunciada em 30 de janeiro, é apenas o mais recente esforço de reorganização da construtora. As ações despencaram desde que seu ex-maior acionista, o investidor coreano Mu Hak You, saiu no início de 2019.
Durante seus cinco meses como acionista controlador, You substituiu todos os membros do conselho e da alta administração da Gafisa e cortou mais da metade da força de trabalho.
O valor de mercado da empresa, que chegou a cerca de R$ 6,4 bilhões em 2010, agora é de R$ 405 milhões.
“Vai ser um processo longo para recuperar a confiança dos investidores. A confiança ficou abalada por mais de uma década sendo constantemente uma história de turnaround, com tantas mudanças de gestão”, disse Bruno Mendonça, analista do Bradesco BBI. “Precisam colocar as coisas no trilho, fazer o básico: lançar, construir, vender e entregar durante pelo menos um ciclo completo de três, cinco anos.”
As ações estão dispersas entre mais de 34.000 investidores, sendo que nenhum detém o controle acionário. A última distração é uma rixa pública entre um investidor ativista da Esh Capital e Nelson Tanure, membro do conselho da Gafisa.
A empresa registrou R$ 890 milhões em vendas em 2022, um aumento de 53% em relação ao ano anterior, segundo dados preliminares. Desse total, 82% estava vinculado a propriedades de nível médio e alto.
A Gafisa, que comprou várias rivais menores nos últimos anos, não está em busca de novas aquisições, disse Resende.
Resende, que assume o comando da empresa com um bebê de um ano em casa, disse que a Gafisa se dedica a promover lideranças femininas em toda a organização.
“Sou a primeira mulher CEO, não é comum”, disse Resende sobre ser uma CEO mulher em uma construtora.