Nó no mercado: ou torrefadoras importam ou cobrem a cotação externa para segurarem o grão aqui
O Brasil pode caminhar para uma “situação inimaginável” de ter que importar café para suprir o mercado industrial doméstico, sob efeito de quebra feia de safra em combinação de estiagem prolongada e geadas.
A expressão de incredulidade do analista Marcus Magalhães não é exagero, ante algumas colocações feitas por agentes do mercado, em se tratando do maior produtor mundial. O balanço final de produção e estoques não permite que em “janeiro e fevereiro” o País possa respirar.
Tomem nota desses dois meses, que Magalhães acredita que serão os mais sensíveis, pois não se terá café nenhum armazenado, embora ele não afirme que as importações sejam favas contadas.
E vejamos que as exportações até cairão no ciclo 21/22, para 38 milhões de sacas (18% a menos que no ciclo anterior), segundo estimativas das Safras & Mercado, feitas ainda antes do agravamento das condições logísticas prejudicando o corredor externo.
O jeito vai ser sacrificar as exportações mais ainda? O também proprietário da MM Cafés, de nicho gourmet, acha que sim.
Um superintendente de importante cooperativa pensa que as torrefadoras brasileiras terão que ajustar seus preços para enxugar a oferta que iria para fora. “Porque importar sai mais caro”, diz, pedindo sigilo de seu nome diante de um momento considerado muito delicado para os cooperados.
E já tem indústria pagando. Marcus Magalhães lembra que tem casa do conilon indo a R$ 800, e em pouca quantidade, como foi visto na quarta (22), na porta do produtor.
Precisa combinar com o consumidor, também.
O balanço dessa história, que poderá se inédita na terra do café, é que uma safra de 56 milhões de sacas, perto de 20% menor, não sustenta mercados globais já apertados – “dá onde viria café eu não sei com a oferta mundial apertada, acrescenta Magalhães -, e nem o brasileiro, especialmente por não possuir folga nos estoques de quase 6 milhões que teriam vindo da safra 20/21.
A Safras estimava estoques finais de 2,4 milhões de sacas no apagar das luzes este ano.
Até janeiro-fevereiro, zerariam, daí que o capixaba Marcus Magalhães vê um “nó” no mercado.