No Ibovespa e lá fora, a única alta firme é da ansiedade dos investidores (e o calmante é a renda fixa)
A única coisa que apresenta uma alta firme e constante nos mercados do Brasil e do exterior, nos últimos dias, é a ansiedade dos investidores. Diversos fatores impactam o Ibovespa e os principais mercados internacionais e, como afirmou Steve Goldstein no MarketWatch, hoje (27), não há um minuto de sossego: o mercado reage negativamente, tanto a boas, quanto a más notícias.
Lá fora, os agentes financeiros experimentam um sentimento ambíguo em relação aos dados dos Estados Unidos. De um lado, a forte queda do número de pedidos de seguro-desemprego eleva o temor de que o Federal Reserve volte a elevar a taxa básica de juros para esfriar a economia até que isso mate de frio a inflação. O resultado é uma forte queda do mercado acionário.
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De outro, a queda da confiança dos consumidores americanos, prenúncio de que frearão as compras e, por tabela, alguma inflação por demanda que assombre o Fed, não ajuda o mercado acionário. A perspectiva de lucros menores encolhe o valor de suas ações.
Ainda no campo externo, a China também alimenta a ansiedade dos investidores. Ontem à noite, o país divulgou que a produção industrial, no acumulado de janeiro a agosto, caiu 11,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Os analistas que se esforçam para ver algo de bom nisso correm para destacar que o resultado marca uma desaceleração na contração chinesa, quando comparada com a queda de 15,5% no acumulado até julho.
No limite, esses analistas se agarram à esperança de que isso mostre um embrião de retomada da segunda maior economia do mundo. Mas a paz está longe do mercado chinês, ainda pressionado pela crise das grandes construtoras locais, como a Evergrande.
Ibovespa: Sem paz para os investidores
Quando buscam alento na Bolsa brasileira, os investidores também se frustram. Primeiro, devido à correlação entre o Ibovespa e o mercado externo, dado o grande peso de exportadores de commodities no índice, como a Vale (VALE3), que cai de cama, sempre que a demanda chinesa por minério de ferro pega um resfriado.
Segundo, pelas incertezas sobre a condução da política fiscal pelo governo Lula, que está contando com ovos dentro da galinha para fechar as contas em 2024. O último exemplo é a decisão de incluir, no orçamento, a previsão integral de arrecadar R$ 35 bilhões que seriam gerados pela Medida Provisória 1.185, que muda regras de tributação do ICMS e de subvenções fiscais. A área técnica da Receita Federal alerta para a incerteza sobre a MP e o montante previsto.
É neste cenário que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se reunir, hoje à tarde, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Será a primeira vez que Lula e Campos Neto ficarão frente a frente, desde a troca de caneladas entre os dois, durante a campanha eleitoral do ano passado.
Parte do mercado espera que Campos Neto ilumine um pouco a cabeça de Lula, e o impeça de gastar o que não tem. Como se sabe, o rombo nas contas públicas é um dos principais ingredientes da inflação brasileira, qualquer que seja a coloração partidária do governo da vez. E, para o Banco Central, só restaria um remédio: a temida alta de juros.
Não é por acaso, portanto, que os juros futuros começam a abrir novamente, tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos, onde o impasse em torno do orçamento ameaça paralisar o governo já no começo de outubro. Em tempos de ansiedade em alta na renda variável, o único calmante dos investidores é a renda fixa.