Arena do Pavini

No G-20, FMI alerta que economia mundial pode perder US$ 430 bi com guerra comercial

23 jul 2018, 8:18 - atualizado em 23 jul 2018, 8:21

Por Arena do Pavini – A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Largarde, fez um apelo aos lideres do G20 – grupo das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia – para que cooperem para fomentar o crescimento global, de forma mais igual. Na reunião, realizada neste fim de semana em Buenos Aires, Argentina, ela apresentou às delegações um relatório, demostrando o impacto da guerra comercial no Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que pode sofrer uma perda de US$ 430 bilhões no pior cenário.

Os números não levam em conta uma possível escalada da briga de tarifas e contratarifas entre as grandes potências. Levando em consideração a situação atual, o crescimento do PIB mundial em 2020 será 0,5% menor. Segundo o FMI, apesar de todos os países serem afetados, os Estados Unidos poderiam ser especialmente prejudicados, já que seriam alvo de retaliações de vários de seus parceiros comerciais, entre eles China e União Europeia.

O FMI prevê um crescimento global de 3,9% para este ano e o próximo. No entanto, segundo Lagarde, a expansão econômica será desigual entre os países.

Secretário do Tesouro dos EUA minimiza guerra comercial

O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, minimizou o impacto da guerra comercial com a China sobre a economia dos Estados Unidos e reafirmou a intenção de seu governo de defender um comércio mundial “livre e justo”, sem tarifas, barreiras tarifárias ou subsídios. Em entrevista coletiva, após dois dias de reuniões de ministros da Fazenda e presidentes do Banco Central do G20, ele negou que o governo americano esteja internacionalmente isolado.

“Tive 22 encontros bilaterais em dois dias”, afirmou Mnuchin. Ele negou que os Estados Unidos tenham se enclausurado após aplicarem tarifas a produtos chineses e ameaçarem fazer o mesmo em relação a veículos importados – algo que prejudicaria seus aliados da União Europeia e do Japão. O secretário reiterou que a maior economia do planeta sempre foi aberta, mas não tem recebido tratamento recíproco – o que explica seu déficit na balança comercial. Segundo ele, é isso que o presidente Donald Trump pretende corrigir.

Sobre as declarações de Lagarde, ele afirmou que “gosto da Christine [Lagarde], e estamos monitorando esse assunto, mas até agora só registramos microimpactos em setores muito específicos”, disse Mnuchin. Ele assegurou que os Estados Unidos estão abertos a conversas com todos os países, para estimular o comércio mundial. Mas querem receber tratamento igual de seus parceiros. “Nos não obrigamos os chineses a fazerem joint-ventures [associação para criar uma empresa] quando investem nos Estados Unidos e não queremos que nossas empresas sejam obrigadas a fazer joint-ventures quando investem na China”, disse.

Ministros alertam para riscos e vulnerabilidades maiores

Os ministros da Fazenda e os presidentes do Banco Central do G20 manifestaram hoje a preocupação com o aumento os “riscos de curto e médio prazo” ao crescimento da economia global – entre eles, as “crescentes vulnerabilidades financeiras e o aumento das tensões comerciais e geopolíticas”.

Em documento divulgado após dois dias de reuniões na capital argentina, Buenos Aires, os governos reconhecem a “necessidade de intensificar o dialogo e as ações” para fortalecer a confiança, em meio a uma guerra de tarifas entre as grandes potências.

O documento alerta que, apesar de as economias emergentes estarem “mais bem adaptadas” para enfrentarem um contexto internacional mais adverso, “ainda enfrentam desafios como a volatilidade dos mercados e a reversão dos fluxos de capital”. A Argentina, pais que exerce a presidência do G20 este ano e que sediou o encontro, teve que recorrer a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) pela primeira vez em 13 anos, para fazer frente a uma crise cambial que levou à disparada do dólar e ao aumento da inflação.

O ministro da Fazenda brasileiro, Eduardo Guardia, disse que a “situação externa” brasileira é robusta, mas disse que quase todas as economias emergentes, inclusive o Brasil, sofreram a desvalorização de suas moedas. Diante da impossibilidade de intervir numa guerra comercial entre potências como Estados Unidos, China e União Europeia, a saída para o Brasil, segundo Guardia, é avançar nas reformas fiscais que permitam ao país fazer frente a um cenário possivelmente mais adverso.

Guerra comercial

Esse foi o terceiro encontro dos responsáveis pelas áreas econômica e financeira do G20, durante a presidência argentina do grupo, que termina no fim do ano. Mas foi a primeira reunião desde que os Estados Unidos passaram a aplicar tarifas às importações da China e de outros países. O governo norte-americano aplicou uma taxa de 25% a produtos chineses no valor de US$ 34 bilhões. A China retaliou em igual medida, e os EUA prometeram taxar em 10% uma lista adicional de mercadorias chinesas no total de US$ 200 bilhões.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também comprou uma briga com aliados da União Europeia (UE) ao aplicar tarifas de 25% sobre aço e 10% sobre alumínio. Os europeus retrucaram, com tarifas as exportações norte-americanas de motocicletas Harley-Davidson e de uísque. Os Estados Unidos agora ameaçam cobrar um imposto de 25% sobre a importação de automóveis, que prejudicaria o Japão, além da UE.

No comunicado, os países reafirmaram o compromisso de não promoverem politicas cambiais (desvalorizar as próprias moedas) com o propósito de tornar suas exportações mais competitivas. Essa tem sido uma das queixas dos Estados Unidos em relação à desvalorização do yuan chinês.

O documento, aprovado por consenso, não faz referência de forma direta à guerra comercial. Apesar de insistir na necessidade de dialogo para reestabelecer a confiança nas regras do comércio e das finanças internacionais, não houve um encontro bilateral entre as autoridades norte-americanas e chinesas.