Forças Armadas

No Brasil, secretário de Defesa dos EUA diz que militares devem estar sob controle civil

26 jul 2022, 14:00 - atualizado em 26 jul 2022, 14:00
Lloyd Austin
Austin, general aposentado do Exército dos EUA, terá reuniões bilaterais com a delegação brasileira na quarta-feira, incluindo o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira (Imagem: Tom Williams/Pool via REUTERS)

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, enfatizou nesta terça-feira a necessidade de os militares estarem sob firme controle civil durante uma conferência entre autoridades de Defesa das Américas no Brasil, onde a lealdade das Forças Armadas à Constituição tornou-se questão central antes das eleições presidenciais de outubro.

Os comentários de Austin vêm em meio a seguidas declarações de Bolsonaro se referindo ao Exército brasileiro como “meu Exército”, chegando a afirmar que “tenho as Forças Armadas ao meu lado”.

Bolsonaro lançou publicamente dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, e as pesquisas de intenção de voto o mostram atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“A dissuasão crível exige Forças Armadas e forças de segurança que esteja preparadas, capacitadas e sob firme controle civil”, disse Austin durante o evento realizado em Brasília. “Quanto mais aprofundarmos nossas democracias, mais aprofundaremos nossa segurança.”

Austin, general aposentado do Exército dos EUA, terá reuniões bilaterais com a delegação brasileira na quarta-feira, incluindo o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.

“Para a região como um todo, ele (Austin) vai trazer uma mensagem muito forte e clara sobre a necessidade de os militares respeitarem as democracias”, disse um alto funcionário da Defesa dos Estados Unidos, falando sob condição de anonimato, antes das declarações do secretário.

A autoridade se recusou a “prejulgar” o que Austin poderia dizer, no entanto, a seus homólogos brasileiros.

Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, disse a diplomatas no início deste mês que os militares brasileiros deveriam ser chamados para ajudar a garantir a transparência nas eleições de 2 de outubro. Ele pressiona as autoridades eleitorais a aceitar uma contagem paralela dos votos a ser realizada pelas Forças Armadas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) descarta essa possibilidade e já esclareceu, mais de uma vez, que a totalização dos votos é pública, ao contrário do que Bolsonaro alega de forma falsa e constantemente.

Essas movimentações de Bolsonaro geraram preocupação nos observadores do Brasil em Washington, inclusive no Congresso norte-americano.

“(Austin) deve simplesmente deixar claro que os militares devem permanecer fora das eleições e permitir que quaisquer disputas sobre a eleição sejam resolvidas por meios constitucionais”, disse o deputado norte-americano Tom Malinowski, democrata e membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, à Reuters.

“E ele deve lembrar a seus colegas que a lei americana restringe nossa cooperação com militares estrangeiros que participam de qualquer coisa que possa se assemelhar a um golpe.”

Os líderes militares têm repetidamente dito que as Forças Armadas do Brasil respeitarão qualquer resultado da eleição.

Alguns oficiais militares têm ocupado as manchetes, no entanto, fazendo eco aos comentários de Bolsonaro sobre possíveis fraquezas no sistema eleitoral brasileiro.

“Tempestade política”

Bolsonaro baseou grande parte de sua carreira política na nostalgia da ditadura militar brasileira, que governou o país entre 1964 e 1985, atacando o Congresso e o Judiciário, ao mesmo tempo que enchia seu governo com membros das Forças Armadas da reserva e da ativa.

Thomas Shannon, ex-embaixador dos EUA no Brasil, disse que os brasileiros estavam procurando sinais sobre como seus militares poderiam agir se Bolsonaro se recusasse a aceitar a derrota nas urnas.

“O secretário Austin… está entrando numa tempestade política na qual os brasileiros estão tentando medir o nível de apoio institucional para um esforço potencial de desfazer os resultados das eleições”, disse Shannon à Reuters.

Ex-funcionários norte-americanos, incluindo Shannon, advertiram que o Brasil não responde bem às ameaças, e que qualquer mensagem tem que ser focada na parceria EUA-Brasil “em oposição a dizer: ‘Não faça isso e não faça aquilo’.”

“Mas tem que ser (uma mensagem) que deixe claro que a parceria entre militares dos EUA e do Brasil depende de um compromisso comum com os valores e práticas democráticas”, disse Shannon.

O Departamento de Estado dos EUA afirmou recentemente sua confiança no sistema eleitoral brasileiro, um passo raro durante uma campanha acalorada e polarizadora.

“Nós não queremos entrar no meio das eleições brasileiras, de forma alguma. Mas queremos garantir que o fato de acreditarmos que o sistema eleitoral brasileiro é crível e capaz de administrar uma eleição livre e justa (seja conhecido)”, disse o alto funcionário da Defesa dos EUA.

Nicholas Zimmerman, um ex-funcionário sênior da Casa Branca, disse que “o risco de que alguns elementos das Forças Armadas concordem com os esforços antidemocráticos… deve ser levado a sério”.

Com o aumento das tensões políticas, o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, advertiu no início de julho que o Brasil corre o risco de enfrentar um incidente ainda mais grave do que o ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio dos EUA.

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