No Brasil e EUA, as contas públicas podem virar o ‘calcanhar de aquiles’ econômico, dizem especialistas
Economistas que participaram do XP Expert 2024, que acontece nesta sexta-feira (30) em São Paulo, reforçaram a conexão direta entre as políticas fiscal e monetária, com as contas públicas desorganizadas levando à necesside de manutenção de juros em patamares altos no país.
O economista chefe da Quantitas Asset Management, Ivo Chermont, evidencia que o custo da dívida pública brasileira dificulta a política monetária, ao demandar a contenção do “descontrole fiscal”.
Para ele, a política fiscal é o maior problema que o Brasil enfrenta. “É o nosso calcanhar de aquiles para sempre”.
Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia da ASA, recorda que a pandemia de Covid-19 colocou tanto as grandes economias quanto as emergentes em uma posição de expansão de gastos. No entanto, no caso do Brasil, ele aponta mais dois fatores que vão para além deste período.
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Um deles é a questão demográfica, com o envelhecimento da população e maior tempo de vida elevando os gastos do Estado com previdência e saúde pública.
Já o outro se refere a um ciclo político que, segundo ele, desde o começo da década conta com diversos países muito polarizados, como acontece no Brasil, com o embate entre defensores de Luiz Inácio Lula da Silva ede Jair Bolsonaro , e de Donald Trump e de Joe Biden nos Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, o embate eleitoral entre Trump e a atual vice-presidente Kamala Harris — que foi escolhida pelo Partido Democrata após a desistência de Biden — também evidencia uma relação direta entre o fiscal e o monetário.
Em conversa com o Money Times, Fernando Fenolio, economista-chefe da gestora WHG, aponta que Trump deve adotar uma política de corte de impostos para empresas, o que deve impulsionar as ações. Mas a iniciativa deve piorar o cenário fiscal, o que refletiria em aumento dos juros e valorização do dólar, com investidores procurando mais os títulos norte-americanos.
“Existe uma perspectiva de que, se essa for a política econômica colocada em prática, os Estados Unidos vão passar a gastar mais com pagamento de dívida do que com defesa, o que para eles, é algo bem significativo”, explica o economista da WHG.
Expectativas pelo Fed nos EUA, mas ainda há eleições
A expectativa em torno do corte de juros nos Estados Unidos paira sobre a economia de diversos países. No Brasil, o início do afrouxamento monetário lá fora vem sendo há meses apontado como um importante gatilho para o mercado.
No entanto, o início do ciclo de cortes, já precificado para a Super Quarta (quando Brasil e os Estados Unidos decidem o futuro de seus respectivos juros) de setembro, pode sofrer os impactos do cenário apontado por Fenolio.
O economista-chefe da gestora WHG afirma que a eleição nos Estados Unidos está muito indefinida. Mas as projeções da casa são de que o Republicano Donald Trump tem cerca de 60% de chance de vitória.
“As pesquisas erram muito por lá, até pelo sistema eleitoral. Se o Trump realmente vencer a eleição, logo de cara, teremos um cenário de bolsa, dólar e juros em alta nos Estados Unidos”, afirma.
Fenolio ressalta que, em algum momento, em um cenário com Trump à frente do país, os Estados Unidos precisarão fazer um ajuste fiscal, o que terá reflexos nos juros de todos os países. “Outro ponto importante é que eles podem perder a capacidade de liderar a economia global, ainda mais em um cenário em que a China se torna cada vez mais relevante”.