Nigéria: com até 26 milhões de pessoas, Lagos vive crise habitacional
Eles vêm do interior, dos vilarejos, da capital ou de países vizinhos trazendo energia, ambição e esperança de encontrar emprego e uma vida melhor. Poucos acham o que procuram. Ainda assim, mais gente vai chegando.
Não em Londres ou Nova York, mas em Lagos, o enorme centro urbano da Nigéria que é um ímã humano incomparável. Com menos de 1,5 milhão de habitantes em 1970, Lagos cresce tão rápido que até as estimativas da população variam em mais de 10 milhões.
O centro local de estatísticas afirma que são 26 milhões, o governo federal diz que são 21 milhões e instituições internacionais projetam de 15 a 16 milhões.
Até o final do século, Lagos chegará a 88 milhões de habitantes e será a maior cidade do planeta, segundo o Instituto de Cidades Globais da Universidade de Toronto. A Nigéria será o terceiro país mais populoso até lá.
Hoje, com um déficit de 2,5 milhões de moradias, mais de dois terços das pessoas em Lagos vivem em favelas que estão entre as piores do mundo, segundo Leilani Farha, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU).
“As pessoas estão vivendo em algumas das piores, senão as piores, condições que já vi no mundo e eu já estive em todas as grandes favelas na Índia, Quênia e África do Sul”, disse Farha durante visita ao país em setembro. Os governantes concordam que a escassez de moradias populares constitui uma crise, mas não sabem como reagir.
“O objetivo de disponibilizar prontamente moradias acessíveis às pessoas de baixa ou média renda que representam a maioria dos nossos cidadãos sempre foi desafiado pelo crescimento cada vez maior da população do estado”, disse Moruf Akinderu-Fatai, comissário estadual de Lagos para habitação, em discurso em 8 de dezembro.
O foco das construtoras em residências de luxo em meio à falta de moradia popular repete o que acontece em metrópoles como Berlim, Londres, Nova York e Hong Kong.
Com vastas riquezas minerais e petróleo, a Nigéria tem a 29ª maior economia do mundo, logo atrás da Noruega. O país também tem o maior número de pessoas na extrema pobreza, que vivem com até US$ 1,90 e representam 87 milhões dos 200 milhões de habitantes, de acordo com a Brookings Institution. As opções são limitadas até para a classe média emergente.
A aceleração da urbanização e a proliferação das megalópoles deixaram de ser um caminho direto para a prosperidade e a ascensão da classe média, como ocorreu durante as revoluções industriais na Europa e América do Norte no século 19 e transformou as economias da Coreia do Sul e China no século 20.
Para que sirvam como motores de produtividade e desenvolvimento, as cidades precisam oferecer moradia acessível, transporte, saúde pública, educação e outros serviços básicos. Sem isso, impedem o crescimento econômico ao invés de promovê-lo.
A falta contínua de habitação adequada, saneamento e transporte rouba da Nigéria seu maior recurso, o capital humano.