NFTs e o mercado de obras de arte da indústria cripto
Conforme mercados de finanças descentralizadas (DeFi) passaram por uma semana difícil, a comunidade cripto no Twitter parece ter voltado sua atenção para uma novidade que está fazendo seus olhos brilharem: NFTs, ou tokens não fungíveis.
Mas esses tipos de tokens não são novos. No setor cripto, o conceito existe há mais de cinco anos. Porém, neste novo ciclo de mercado, estão cada vez mais interessantes. Hoje, vamos resumir o que são NFTs e falar sobre um aspecto fascinante desse mercado: obras de arte de alta qualidade.
O que são NFTs?
Itens que são fungíveis podem ser substituídos com outro item idêntico sem que alguém se importe. Por exemplo, qualquer cédula de US$ 5 pode ser usada para comprar um cachorro-quente assim como qualquer outra.
Bitcoin, ether e basicamente todos os criptoativos que você vê falar por aqui caem no grupo dos ativos fungíveis.
Itens que não são fungíveis são únicos e não podem ser trocados. O exemplo mais simples são obras de arte. Tente vender às pessoas no Louvre uma pintura de sua mão pela Mona Lisa e você vai passar pela experiência da não fungibilidade.
Então, no mundo cripto, NFTs são basicamente tokens que representam algo único. Não é surpreendente que NFTs ligados a peças únicas de obras de arte estão ganhando força.
O problema de fungibilidade dos criptoativos
O meio artístico de cripto
De diversas formas, grande parte de cripto é basicamente a recriação de comportamentos humanos já existentes em um ambiente completamente digital: mercados, negociação, empréstimo, especulação.
Assim, não é surpresa que mercados foram criados para a negociação e especulação de obras de arte digitais.
Assim como NFTs, os mercados de arte em cripto existem há anos. Em relação a NFTs e DeFi como um todo, a tecnologia subjacente está bem mais madura neste ciclo.
Acrescente o fato de que existem riquezas recém-criadas no setor do verão dos cassinos DeFi e você tem um mercado cripto de artes ganhando força. Afinal, investidores precisam alocar esses ganhos com DeFi em algum lugar.
Essa combinação de sofisticação tecnológica e riqueza à mostra não existe em outro lugar senão nesta obra por Matt Kane intitulado “Right Place – Right Time” (“lugar certo – hora certa”), vendida por US$ 100 mil em uma plataforma chamada Async Art.
“Right Place – Right Time”
Se você observar a obra de Matt Kane acima, parece uma arte legal sobre bitcoin. O que não está à vista é o mais interessante: Kane escreveu um algoritmo que está ligado a um feed de preço do bitcoin. A cada 12 horas, o algoritmo atualiza a arte com base na volatilidade do bitcoin naquele dia.
Além de ser uma obra de arte evoluída, existem outros componentes que a tornam interessante.
Primeiro, Kane reteve um token de governança que permite que ele atualize a obra ao longo do tempo — um novo aspecto de artes baseadas em NFTs que permite que o artista tenha certo nível de controle sobre seu trabalho.
Obras de artes não precisam mais serem estáticas e, em vez disso, podem se adaptar e evoluir conforme um artista desenvolve seu trabalho ao longo do tempo.
Segundo, já que essa obra responde aos ritmos da volatilidade do bitcoin, irá emitir 210 NFTs individuais em dias significativos de movimentação.
Por exemplo, digamos que o bitcoin atinja US$ 20 mil — um novo NFT será emitido e vendido baseado no aspecto da obra naquele dia. Quem comprar esse NFT terá a capacidade de pedir por uma versão impressa.
O próximo ponto de interesse são os direitos ligados à venda. A obra foi adquirida por um colecionador chamado TokenAngels.
Conforme a obra gera e vende novos NFTs, TokenAngels receberá 21% de cada nova venda. Então, além do potencial da obra aumentar em valor, também é um ativo produtivo. Novamente: é algo extremamente novo, completamente codificado em um trabalho subjacente.
Uma mudança de poder
Arte tradicional é um mercado de US$ 25 bilhões, em que o balanço de poder está firmemente nas mãos de colecionadores com alto poder aquisitivo.
Houve uma venda de arte contemporânea infame na década de 1970 por um colecionador chamado Robert Scull.
Scull comprou trabalhos de artistas em todo o mundo entre US$ 600 e US$ 10 mil e os vendeu em um leilão por milhares de dólares acima do seu preço de compra. Resultado: toda a coleção de Scull foi vendida por US$ 2,2 milhões (atualmente US$ 14,7 milhões com a inflação ajustada).
Embora esse leilão seja considerada como o nascimento do mercado de arte contemporânea altamente especulativo, Scull foi criticado por quão pouco os artistas ganharam.
Por exemplo, Scull comprou uma obra do artista Robert Rauschenberg chamada “Thaw” por US$ 900, que foi vendida por US$ 85 mil. Rauschenberg não viu um centavo dessa quantia.
NFTs vêm com o benefício de ser mais favorável aos artistas, resultando em uma mudança no balanço de poder entre artista e colecionador.
Note que TokenAngels recebe 21% das vendas de NFTs do trabalho de Kane, e não 100%. De forma parecida, um mercado de NFTs chamado SuperRare dá uma comissão de 10% ao criador sobre todas as vendas secundárias — Rauschenberg teria gostado disso em 1973.
Uma nova fronteira
Termos mais favoráveis a artistas, junto com mercados curados como SuperRare e Async Art estão atraindo diversos artistas ao setor. Para uma profissão que não é muito valorizada, o fascínio por grandes quantias de dinheiro envolvidas nesse mercado tornam a arte cripto bem difícil de ignorar.
Além de Matt Kane, já vemos sinais de uma nova leva de artistas. Outro nome que está ganhando força é o artista Pak.
Assim como Satoshi Nakamoto, Pak é completamente anônimo e há especulações sobre se sua arte é produto de uma pessoa ou de uma inteligência artificial produzida por inúmeros engenheiros.
Pak possui mais de 140 mil seguidores no Twitter e vendeu mais de US$ 350 mil em artes com NFTs, incluindo esta obra que, atualmente, custa US$ 10 mil.
Dado que este é o setor cripto, também é importante destacar quão maduros esses mercados estão para a especulação.
Imagine quão fácil seria que uma “baleia” adquirisse uma arte de Pak por US$ 10 mil, vendesse a um amigo por US$ 25 mil, comprasse de volta por US$ 50 mil e, em seguida, vendesse para um especulador por US$ 100 mil.
“Wash trading” já se tornou em um tipo de manipulação problemático na plataforma Rarible e, sem dúvidas, está acontecendo. (Recentemente, Rarible apresentou taxas na plataforma para tirar o incentivo de wash trading, apesar de provavelmente não ser uma solução definitiva para o problema.)
O que vem por aí?
Exceto pelo washing trade, tudo isso apresenta um argumento a favor de NFTs, e o hype não veio sem mérito. Existem novos comportamentos únicos e possíveis por meio de novos mercados criados principalmente na Ethereum. Arte cripto é apenas o começo.
NFTs podem e serão usadas para representar outros itens não fungíveis e também em outros resultados criativos, como música.
Menos óbvio, mas também intrigante são contratos financeiros como seguros. Imagine pegar uma apólice sobre sua obra de arte que tem seguro contra a perda das chaves privadas da obra.
A integração da primitividade DeFi no setor de NFTs está acelerando rapidamente. Por exemplo, ao usar uma plataforma chamada NFTfi, você pode colocar seu NFT como garantia e obter um empréstimo denominado em ether.
Outra plataforma, Niftex, permite que detentores de NFT dividam seus ativos em diversos tokens negociáveis. Embora essas aplicações sejam novas, não é difícil vê-las ganhando força junto com o restante do mercado de artes cripto e de NFTs.
Daqui a algumas décadas, a ascensão dos mercados de arte na Ethereum pode ser comparada à apresentação de Robert Scull do mercado especulativo de artes contemporâneas. A diferença principal é que, desta vez, artistas serão recompensados por seu trabalho.
Talvez, as grandes obras de arte do futuro estarão à mostra em galerias hospedadas em metaversos como Decentraland, cada uma assegurada por apólices em NFTs, em empréstimos do colecionador e que os artistas originais ainda ganham pelos direitos autorais anos após sua criação.