Internacional

Netanyahu defendeu ao Brasil que compra rápida de vacina da Pfizer ajudou Israel a conter Covid

23 jun 2021, 12:04 - atualizado em 23 jun 2021, 12:56
Benjamin Netanyahu, defendeu Ernesto Araújo, dizendo que a compra rápida da vacina da Pfizer foi fundamental para controlar a pandemia no país e possibilitar a reabertura da economia israelense (Imagem: Facebook/Benjamin Netanyahu)

O então primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu em março, em conversa com o chefe da diplomacia brasileira na época, Ernesto Araújo, que a compra rápida da vacina da Pfizer contra a Covid-19, mesmo diante das críticas devido ao preço do imunizante, foi fundamental para controlar a pandemia no país e possibilitar a reabertura da economia israelense.

Segundo telegramas diplomáticos enviados pelo embaixador do Brasil em Tel Aviv, general Gerson Menandro Garcia de Freitas, ao Itamaraty, Netanyahu justificou a compra antecipada dos imunizantes a Araújo com o argumento de que o preço pago garantiu o início rápido da vacinação em massa em Israel.

A postura de Netanyahu –um aliado do presidente Jair Bolsonaro que deixou o comando de Israel neste mês após 12 anos no poder– contrasta com a demora do governo brasileiro em agilizar a compra do imunizante da Pfizer.

A negociação pela vacina e Araújo são investigados pela CPI da Covid no Senado.

PREÇO COMPENSOU

O relato da conversa do então primeiro-ministro israelense e do chanceler brasileiro, ocorrida em 7 de março, foi feita pelo embaixador brasileiro uma correspondência ao Itamaraty um dia depois.

A mensagem foi encaminhada à CPI da Covid e obtida pela Reuters.

“Netanyahu… comentou que inicialmente houve muitas críticas às compras –lideradas por ele próprio– das vacinas da empresa Pfizer. As críticas se concentraram no preço pago pelas milhões de doses, que, segundo o mandatário israelense, não excedia significativamente os valores praticados no mercado”, diz o texto de um telegrama.

“Para Netanyahu, o preço compensou por garantir que as vacinas chegassem a Israel assim que aprovadas para uso em massa. Sair à frente na corrida por vacinas foi fundamental para que hoje a pandemia esteja praticamente controlada em Israel e a economia possa ser reaberta, antecipando a retomada do desenvolvimento econômico”, destacou o relato do embaixador.

Netanyahu revelou na conversa que a Pfizer planejava construir uma planta de produção de vacina em Israel. “Caso a ideia se concretize, o Brasil também poderia se beneficiar da produção de vacinas em solo israelense”, disse ele, segundo relato do embaixador.

LIDERANÇA

Em outro telegrama, de 15 de março, Garcia de Freitas deu mais detalhes ao Itamaraty sobre o contrato do governo israelense com o laboratório Pfizer para a compra de vacinas contra Covid.

Nessa correspondência, o embaixador destacou que, inicialmente, o próprio Netanyahu “liderou as tratativas preliminares, ao realizar contato com a direção da empresa Pfizer no começo da pandemia (antes mesmo da escalada global da pandemia)”.

“O governo de Israel pagou preço majorado pelas vacinas, a fim de assegurar prioridade no recebimento das doses, cujo primeiro carregamento foi entregue neste país em 9 de dezembro de 2020”, disse Garcia de Freitas no telegrama. Israel começou a imunizar antes da virada do ano.

Apesar de Israel ser citado como um exemplo por Bolsonaro em diversas ocasiões para assuntos variados, na questão das vacinas, o governo brasileiro não acelerou tratativas com a Pfizer, mesmo tendo o laboratório oferecido desde meados do ano passado a possibilidade de um acordo com o país de fornecimento também em dezembro de vacinas.

Uma das alegações do governo para o Brasil travar as negociações foi de que haveriam cláusulas “leoninas” que seriam prejudiciais ao país.

Representantes da Pfizer, no entanto, já afirmaram que as mesmas cláusulas foram apresentadas a dezenas de outros países.

No mês passado, a Reuters revelou que a gestão do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello preteriu as negociações com a Pfizer para a compra de vacinas por acreditar que o país não precisaria de mais imunizantes além dos acordos para produção nacional das vacinas OxfordAstraZeneca e CoronaVac. Fontes relataram à Reuters que as cláusulas seriam superáveis.

Apenas no final das negociações Pazuello e Bolsonaro se envolveram com os executivos da Pfizer.

O Ministério da Saúde só assinou formalmente um acordo para a compra de 100 milhões de doses da vacina com a Pfizer em 15 de março e as primeiras doses começaram a ser aplicadas no início de maio.

Procurada por e-mail para comentar o teor dos telegramas, a Embaixada de Israel no Brasil não respondeu de imediato.

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