Nesta semana: Cortes da Opep em xeque; Ouro aguarda economia e China
Por Barani Krishnan/Investing.com
Mesmo com a expectativa de que os touros do mercado continuem impulsionando o petróleo norte-americano para US$ 65 e o Brent para US$ 73 nesta semana, os investidores mais prudentes ficarão atentos a sinais de relutância da Rússia em manter os cortes de produção com a Opep além de junho – o que poderia pesar bastante sobre o rali do petróleo.
Quanto ao ouro, as atenções do mercado estarão voltadas novamente às negociações comerciais entre EUA e China e à possibilidade de que qualquer reviravolta acabe destinando mais fluxos financeiros do dólar para o metal precioso. A perspectiva para a economia mundial será fundamental, com uma inundação de dados a serem divulgados nesta semana, incluindo a balança comercial da zona do euro e o PMI industrial nos EUA.
No mercado petrolífero, o ministro da fazenda da Rússia, Anton Siluanov, foi citado pela agência de notícias TASS ao afirmar que Moscou e a Opep poderiam aumentar a produção, a fim de competir com os Estados Unidos por participação de mercado, ainda que houvesse o risco de que os preços do petróleo eventualmente caíssem para até US$ 40 por barril em decorrência disso.
Aumenta o desconforto da Rússia em permanecer na Opep+
Não é a primeira vez que os russos demonstram desconforto em continuar com os cortes de produção para ajudar a Arábia Saudita a atingir seu objetivo de restringir o mercado ainda mais, com base no acordo Opep+, uma vez que a oferta de petróleo já se encontra pressionada por causa da guerra civil na Líbia e das sanções dos EUA ao petróleo do Irã e da Venezuela.
Kirill Dmitriev, diretor do fundo soberano da Rússia e responsável por articular a cooperação entre Moscou e a Opep, declarou recentemente que gostaria que o país produzisse mais petróleo.
Mas os sauditas, que virtualmente conduzem a Opep, gostariam que os cortes continuassem. O breakeven (preço mínimo de lucratividade) da Rússia é de cerca de US$ 42 por barril, enquanto os sauditas precisam que o mercado esteja em torno de US$ 84 para dar conta do seu orçamento nacional.
Igor Sechin, CEO da Rosneft, maior petrolífera russa, é outro que pressionou o presidente Vladimir Putin a encerrar o pacto com a Opep, que ele descreveu como uma ameaça estratégia a Moscou, porque faz o jogo dos EUA.
Putin, no entanto, afirmou que não havia decidido ainda o que faria com a cooperação de Moscou com a Opep.
Sauditas temem resposta exagerada do mercado às apostas dos hedge funds
Os sauditas estão cientes da necessidade de elevar a produção petrolífera nos próximos meses, a fim de evitar que o mercado tenha uma reação exagerada, capaz de destruir a demanda.
Embora os cortes da Opep+ tenham sido o fator mais importante para a valorização de 41% do petróleo West Texas Intermediate e de 32% do Brent neste ano, também é fato que um rali dessa magnitude não teria sido possível em menos de quatro meses sem o fluxo de recursos especulativos de hedge funds e outros gestores financeiros para o petróleo.
E, diante dos sinais de que hedge funds têm muito mais apetite para continuar suas alocações no petróleo, há o perigo real de que o mercado tenha uma reação exagerada e de que o controle dos preços possa sair das mãos da Opep e ir para os gestores de fundos.
As exportações petrolíferas dos EUA, que atingiram as máximas históricas de 3,6 milhões de barris por dia em março, também chegaram a grandes clientes da Arábia Saudita, como a Indian Oil. A estimativa é que a produção norte-americana registre recordes de cerca de 12,2 milhões de barris por dia, contra uma produção saudita que está 20% abaixo da norma neste momento.
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Mas os sauditas temem que qualquer anúncio de sua parte suspendendo os cortes poderia provocar uma reversão instantânea nas posições dos hedge funds, gerando perdas por barril maiores do que as imaginadas.
Embora o ministro da fazenda da Rússia, Siluanov, possa ter adotado um tom alarmista com seu alerta de que o petróleo poderia recuar para os níveis de US$ 40, Riade tem muito a perder com um movimento errado, segundo analistas.
Entre a cruz e a espada
Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética de Nova York, sugeriu, em sua nota no fim de semana, que os russos e os sauditas estavam entre a cruz e a espada ao querer evitar perdas maiores de participação de mercado para o petróleo norte-americano, em razão dos seus cortes de produção, e garantir, ao mesmo tempo, que os preços mundiais do produto não caiam muito além dos patamares atuais.
De acordo com Chirichella:
“Sem levar em consideração qualquer evento geopolítico capaz de obstruir ainda mais a oferta, a Opep sugeriu que discutiria, em sua reunião de junho, fatores que poderiam fazer com que seus integrantes e parceiros aumentassem a produção.”
“Na reunião de política de 25-26 de junho, eles pretendem analisar o nível dos preços, bem como se a oferta continua caindo em razão do agravamento de eventos geopolíticos em muitos países produtores. Isso poderia resultar em um teto para os preços, pois um movimento ilimitado de valorização pode ter um impacto negativo no crescimento econômico mundial e, consequentemente, no crescimento da demanda global de petróleo.”
Apesar de tais planos, Chirichella duvida que Riade solicitará uma interrupção dos cortes, a menos que seja forçada a tanto.
Em seu comentário no fim de semana, o analista escreveu que, mesmo que a Opep tenha perdido participação de mercado para os EUA nos últimos meses, “os preços mais elevados e a redução dos estoques mundiais de petróleo são seu objetivo mais importante”.
De acordo com Chirichella:
“Em 2014, quando a Opep decidiu garantir sua participação de mercado diante do aumento da produção de petróleo nos EUA, essa iniciativa acabou se revelando um desastre financeiro, fazendo com que os preços do WTI entrassem em tendência de baixa e atingissem US$ 26,05 em fevereiro de 2016.”
“Em comparação com a mínima de fevereiro de 2016, o preço à vista do WTI agora aumentou US$ 37,84, ou 145%.”
O analista concluiu:
“Minha expectativa é que a Opep continue focando em uma estratégia de suporte dos preços, em prejuízo da sua participação de mercado no futuro próximo.”