BusinessTimes

Nem banco, nem empresa de cashback: Méliuz quer ir além

06 ago 2021, 11:51 - atualizado em 06 ago 2021, 11:51
Méliuz
O Méliuz está dando seus primeiros passos na expansão das suas operações para o setor de serviços financeiros (Imagem: Divulgação/Méliuz)

Méliuz (CASH3) pode até ter se apresentado como uma empresa de cashback na época do seu IPO (oferta pública inicial de ações, em português), mas limitá-lo a esta breve definição está longe de ser a nova realidade da empresa.

A companhia, que completou dez anos em julho, nasceu como pioneira na indústria que devolve ao consumidor parte do dinheiro usado em compras no varejo. Agora, ela trabalha para se fazer mais presente na jornada de consumo do usuário, construindo um ecossistema completo de soluções financeiras e para o e-commerce.

Em entrevista ao Money Times, o diretor de Relações com Investidores do Méliuz, Luciano Valle, deixou claro que a intenção da companhia não é ser “apenas” uma empresa de cashback ou um banco.

“Rotular a gente como uma empresa de cashback é muito simples. Colocar a gente como um banco é também muito simples. O Méliuz quer ir além do cashback, além de banco”, afirmou. “A gente quer promover realmente o aspiracional dos nossos usuários dentro da nossa plataforma da forma mais fluida e simples possível”.

O Méliuz conseguiu chamar a atenção do mercado ao propor uma ferramenta atrativa, que é o cashback, mas está dando seus primeiros passos na expansão das operações para o setor de serviços financeiros.

O primeiro produto financeiro criado pela companhia veio em 2019. Por meio de uma parceria com o Banco Pan (BPAN4), o Méliuz lançou seu cartão de crédito, que atingiu 1,4 milhão de solicitações no primeiro trimestre deste ano, equivalente a 23 vezes o total de pedidos realizados ao longo do primeiro trimestre de 2020.

O Méliuz reforçou a linha de pagamentos ao adquirir em maio a Acesso, que, além de aumentar as vendas cruzadas, cria oportunidades na parte de desenvolvimento de soluções em contas digitais e serviços transacionais. Com a capacidade e as licenças prontas dentro da Acesso, a empresa, cujo portfólio ganhou as linhas Méliuz Empréstimos e Méliuz Nota Fiscal, passa a contar com um amplo leque de potenciais segmentos de atuação.

“A gente está usando todo esse arcabouço, essa tecnologia, para embutir para o Méliuz essa capacidade de prestar serviços financeiros, mas com outra abordagem. Não com a abordagem de usar os serviços como um fim em si mesmo – ou seja, só querer que o usuário utilize para ver o saldo da conta corrente e pagar. Queremos que ele faça isso, mas, no fim do dia, queremos permitir que ele realize o sonho dele”, afirmou Valle.

Além da Acesso, o Méliuz recentemente adquiriu a Promobit por R$ 13 milhões e a Melhor Plano por pouco mais de R$ 10 milhões. Em fevereiro, a empresa comprou a Picodi.com, plataforma integrada de marketplace e serviços financeiros com atuação global, por R$ 120 milhões.

Jornada de compra

Os movimentos que o Méliuz vem realizando nos últimos meses, tanto em termos geográficos quanto em novas capacidades, têm como principal objetivo promover a jornada de compra do consumidor.

A empresa quer estar mais presente nesse processo, oferecendo produtos que melhoram o engajamento e geram mais valor a todas as partes envolvidas, do usuário até a empresa parceira. A companhia surgiu em 2011 focada no e-commerce, mas encontrou na indústria de pagamentos oportunidades para ampliar sua base.

A ação do Méliuz já entregou uma valorização de quase 600% desde o IPO (Imagem: Facebook/Méliuz)

A aposta foi certeira. Desde seu IPO, o Méliuz conseguiu manter o ritmo acelerado de expansão. Durante o primeiro trimestre de 2021, a empresa teve 2,4 milhões de novas contas abertas, uma média de 27 mil contas abertas por dia corrido.

Com os recursos captados no follow-on (oferta subsequente de ações, em português), na qual a empresa levantou pouco mais de R$ 400 milhões para o caixa, a intenção é dar continuidade à expansão da base de usuários por meio da disponibilização de novas soluções.

Fórmula para o sucesso

Existem três principais fatores que engatam o crescimento de uma empresa como o Méliuz, na opinião de Valle: foco em tecnologia para desenvolver soluções de core; time fora da curva com uma boa política de partnership; e boa cultura.

Na época do IPO, a companhia tinha uma equipe formada por menos de 200 funcionários. Agora, considerando as novas empresas que entraram no grupo, o Méliuz conta com um time composto por mais de 600 pessoas.

“No fim do dia, é gente. Se temos gente boa, vamos identificar as melhores oportunidades para entregar cada vez mais valor, que se reflete tanto em crescimento como em receita”, afirmou o diretor de RI.

Na opinião do executivo, essa mentalidade foi determinante para construir uma base de confiança não só com os usuários, mas também com os investidores. O trabalho agora é sustentar a confiança e mostrar a capacidade da companhia, cuja ação já entregou uma valorização de quase 600% desde o início das negociações na B3 (B3SA3).

Retomada e competição

O Méliuz pode até ser conhecida pela sua forte atuação no e-commerce, mas deve colher frutos com a recuperação do varejo físico também.

“A gente teve uma concentração muito grande nesse mundo online que eu acho que não vai diminuir. […] Mas a retomada do varejo tradicional é uma oportunidade. Muito dos produtos que a gente vem trabalhando aqui dentro do Méliuz é justamente sobre como a gente captura e gera mais valor para os nossos parceiros e permite que nossos usuários ganhem benefícios – o cashback, nesse caso – ao comprar no varejo offline”, disse Valle.

O executivo lembrou que vários setores sofreram ou ainda estão sofrendo com a pandemia de Covid-19, mas contam com uma oportunidade de retomada – viagem e turismo, por exemplo.

“Para nós, no fim do dia, essa tendência volta a ser benéfica”, resumiu.

Luciano Valle, diretor de Relações com Investidores do Méliuz (Imagem: Divulgação/Méliuz/Breno da Matta)

Em termos de competição, o Méliuz está relativamente tranquilo. A competição entre parceiros beneficia a empresa, visto que ela ajuda na hora de gerar venda e incrementar as soluções que eles desejam ter.

“Quanto mais competitivo o ambiente que a gente enxerga para os nossos parceiros, melhor para o Méliuz, porque a gente está aqui para ajudá-los a vencer nessa competição”, afirmou Valle.

Sobre os concorrentes do Méliuz, Valle disse que a companhia olha a competição como um “dever de ofício”: é importante acompanhar o que a concorrência está fazendo, mas, no fim, o que direciona as ações da empresa é a necessidade do usuário.

“Se a gente continua tentando entender e atender as expectativas dos nossos usuários e parceiros, ficamos à frente do que a competição vem fazendo”, completou o diretor de RI. “Agora que a gente está crescendo muito e aumentando nosso time, a nossa capacidade de resposta e de identificar as coisas, em ser mais tempestivo naquilo que a gente desenvolve e entrega, vai ser muito maior”.

Segundo trimestre

O Méliuz vai divulgar os resultados do segundo trimestre de 2021 no dia 16 de agosto, após o fechamento do mercado.

Segundo o analista Richard Camargo, da Empiricus, a “queridinha do momento” para os investidores – e a small cap mais indicada pelos analistas em agosto – deve reportar receita de R$ 263 milhões no período e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 21,4 milhões.

Assista ao vídeo do Money Times para entender o que esses números, caso sejam atingidos, implicam para o Méliuz: