Petróleo

Nem a “paz” pode evitar excesso de petróleo no mundo, alerta Goldman Sachs

26 mar 2020, 7:33 - atualizado em 26 mar 2020, 7:38
O impacto será um “duro choque” para o sistema global de refino, com cerca de 20 milhões de barris sendo estocados todos os dias no próximo mês (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

Bloqueios em países do mundo todo provocam um colapso sem precedentes na demanda por petróleo que nem mesmo um congelamento ou corte na oferta da Opep podem corrigir, segundo o Goldman Sachs (GS).

Paradas generalizadas da produção serão necessárias, já que a queda do consumo cria um excedente de 14 milhões de barris por dia no segundo trimestre, disse o banco em relatório.

O impacto será um “duro choque” para o sistema global de refino, com cerca de 20 milhões de barris sendo estocados todos os dias no próximo mês, segundo a estimativa do Goldman.

Em vez de contemplar cortes na oferta para amenizar o impacto do coronavírus, Arábia Saudita e Rússia parecem ter embarcado em uma longa e amarga guerra de preços após o colapso da aliança da Opep+.

No entanto, a Casa Branca pressiona o reino a desistir do plano de inundar o mercado com petróleo e, assim, ajudar a levar os preços para o nível que estavam no início de março.

“Qualquer potencial acordo entre EUA-Arábia Saudita e Rússia para congelar ou reduzir a produção virá tarde demais”, disseram analistas do Goldman, como Damien Courvalin, em relatório de 25 de março. “Levaria meses para causar impacto sobre os estoques globais e a medida seria minimizada pela atual perda de demanda.”

A Opep, liderada pelo reino saudita, entrou em desacordo com Moscou (Imagem: Reuters/Leonhard Foeger)

Embora alguns produtores tenham começado a reduzir a produção, não deve haver capacidade global suficiente para acomodar o aumento da oferta da Arábia Saudita, Rússia e Emirados Árabes Unidos em abril, de acordo com o Goldman. O banco prevê que a demanda cairá 10,5 milhões de barris por dia neste mês e 18,7 milhões por dia em abril.

O estoque de produtos nos EUA está prestes a romper a capacidade conceitual de 100 milhões de barris antes de meados de abril, caso não haja cortes nas taxas de processamento de refinarias, segundo o Goldman.

Supondo uma redução de 10% no processamento, o que não ocorre desde 1990, ainda assim a capacidade de estoque estaria saturada no início de maio.

Rússia e Arábia Saudita travam guerra de preços em torono do petróleo (Imagem: Michael Parulava/Unsplash)

O petróleo tipo Brent deve permanecer perto de US$ 20 o barril no próximo trimestre, enquanto o WTI deve ficar bem abaixo desse nível devido ao aumento dos estoques, disse o Goldman.

O colapso da demanda exigirá reduzir a produção em vários milhões de barris por dia. Isso não pode ser revertido rapidamente com a retomada da demanda, o que significa que os preços devem mostrar forte recuperação quarto trimestre.